𝟎𝟒 • 𝒄𝒐𝒊𝒏𝒄𝒊𝒅𝒆̂𝒏𝒄𝒊𝒂

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Christopher Uckermann:

Alfonso e eu conversamos bastante com Ted Sarandos sobre a série. Dei algumas sugestões, as quais foram muito bem discutidas, sendo algumas aceitas. Revisamos diversas vezes o contrato antes de assinar e não estou nem um pouco receoso diante desse novo projeto.

Algumas semanas se passaram e, como já imaginava, Ted propôs que eu compusesse alguns temas para fazer parte da trilha sonora. Isso de poder juntar minhas duas paixões, música e atuação em um só projeto, me agrada muito. Foi assim com Kdabra, da Fox, com o filme El Hubiera Sí Existe e alguns outros que ajudei na produção musical.

Além de estudar o roteiro, ajustei minha rotina de treinos para todos os dias. Já tem uns meses que voltei a treinar de forma mais intensa. Sempre gostei de estar em constante atividade, seja com a música, seja com o esporte, seja com projetos. Passo horas tocando instrumentos (bateria, teclado, violão), e fazendo treinamento vocal com Annie.

Aproveito para tirar um tempinho e andar de skate vez ou outra na semana. Também gosto de treinar ao ar livre, nos parques da Cidade do México, porém dei uma pausa nessas duas últimas atividades para priorizar os treinamentos de musculação.

Por ter sido encarregado a compor algumas músicas para a série, pude já ficar com o roteiro para estudar, e tento captar a essência dos personagens, o que eles querem mostrar, para transmitir com minha música. Enquanto estou imerso nesse script, não posso evitar de questionar quem será a protagonista.

Na verdade ainda nem sei se já escolheram, ou como está caminhando a audição. Já tem quase um mês, porém a única coisa que me informaram foi o fato de estarem fazendo testes no Brasil, e já terem escolhido outros personagens na Espanha, por exemplo.

Decidi chamar Annie e Poncho para minha casa agora. Annie tem um talento incrível para música, sei que pode me ajudar nessa tarefa, e Poncho, bem... É o Poncho. Brincadeiras à parte, meu amigo tem um bom ouvido musical. Quase uma hora depois, eles chegam trazendo comida vegana para passarmos a noite.

- O que seria do Christopher sem a gente né, Poncho? - Annie fala enquanto sorri debochada

- Acho que vou explodir! - inclino-me para trás no sofá enquanto passo a mão na barriga - Esse hambúrguer estava um pecado!

Poncho ri e diz em seguida - Pois bem-vindo ao inferno, amigão.

Continuamos conversando de forma descontraída, postamos alguns stories no Instagram e começo a achar graça de algumas respostas que recebo de fãs me shippando com Annie. Só nos vemos como irmãos... Não sei dizer se Poncho pode dizer o mesmo. Já faz um tempo que desconfio de uns sentimentos a mais, mas ele continua tentando disfarçar.

Nessa rodada de rede social, resolvi postar umas fotos tiradas durante meus treinos. Não costumo aparecer tanto, mas um agrado as minhas fãs não faz mal né?!

Durante a madrugada, estávamos compondo a primeira canção. Comecei pela melodia antes de construir a letra, qualquer coisa faria alguns ajustes depois. Dei uma pausa para pegar um chá e checar meu celular. No mesmo momento apareceu uma sequência de mensagens em português (ou pareciam ser), porém ou a pessoa não sabia escrever, ou estava meio mal.

Como não consegui entender nada, resolvi falar com os dois que estavam na sala.

- Ei, gente. Olhem isso e me ajudem a traduzir. - apontei para meu celular.

Annie e Poncho se entreolharam, estranhando, mas vieram ajudar. Tenho muitos fãs brasileiros e já fui um par de vezes para o Brasil. É um país maravilhoso, consigo entender muito bem a linguagem, às vezes até arrisco um portunhol mas nesse caso ficou realmente complicado. Preciso de reforços.

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- Essa mulher respondeu os stories que postei. Só que não entendo nada do que ela escreveu. Alguém consegue imaginar o que ela quis dizer? - pergunto a eles

- Por ter respondido as fotos dos treinos, acho que boa coisa não é. - diz Annie debochando.

Ficamos olhando para as mensagens, repassando cada palavra para um papel enquanto tentávamos adivinhar o que seria cada uma. Algumas nós entendemos e outras demoramos mais tempo, até colocamos no Google e o próprio corrigia com "você quis dizer pode?" "você quis dizer pescoço?". A única coisa que não achamos tradução foi "pintopher".

Assim que organizamos todas as frases e as traduzimos, Annie começou a rir tão alto que provavelmente a rua toda acordou. Quando olhei para Poncho ele estava vermelho de tanto gargalhar. E eu? Eu estava paralisado sem saber se ria ou se me preocupava com o estado dessa tal "@dulcemaria".

- Meu Deus, Ucker!! - disse Annie apertando a barriga - Essa daí com certeza te ama. Nem todas tem coragem de mandar algo assim não.

- Metade das palavras estão erradas, acho que a moça nem está no seu juízo perfeito. - pontua Poncho enxugando as lágrimas de tanto rir.

- Eu estou espantado... - consegui falar - Tudo bem que vez ou outra aparece uma pessoa mais exótica... - Annie voltou a rir alto - Mas já tinha um bom tempo que não aparecia uma mensagem nesse nível.

- Ei, cara, não fala isso! - Poncho advertiu e eu fiquei sem entender - Tem gente que morre. - fez referência a uma das mensagens e eu joguei uma almofada nele.

- Falta descobrir o que significa esse "pintopher".

- Já sei! Por que não separamos a palavra? - diz Poncho como se tivesse descoberto o fogo, de tão animado - É óbvio que isso é alguma coisa + seu nome. - aponta para mim - ChrisTOPHER.

- Custa nada né? Annie pesquisa o que é pinto. - logo aparece na tela do Google várias imagens de pintinhos, filhotes de galinha, e todos franzimos o cenho.

- Ué... Essa eu não entendi. Por que ela tá me chamando de galo?! Isso é algum mascote? - Poncho ri diante da minha expressão confusa

- Cara, nunca vi isso. Vamos deixar isso para lá, ainda temos trabalho aqui!

- Essa vai render bastante, mas vamos sim! - Anahí complementa.

Depois de uns bons minutos ainda rindo dessas mensagens, resolvemos voltar às composições. Aproveitei para olhar o perfil dessa tal Dulce, e nossa, ela é linda. Pelo visto meio doida também. Mas bem gata... Poderia apenas ignorar e seguir meu trabalho, mas que graça teria isso? Resolvi responder a mensagem perguntando se ela está bem, provavelmente nunca verei essa mulher mesmo, rir da situação não faz mal.


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Finalmente Ted contou que todos os novos atores já foram escolhidos. Estão resolvendo as burocracias e outras questões importantes para virem de vez para o México. Ainda não sei quem são mas estou ansioso para conhecê-los, amo a arte, porém infelizmente muitas pessoas perdem a magia da atuação, deixam a fama se tornar mais importante. Não quero que isso aconteça com os novatos.

Daqui uma semana irão fazer uma reunião na sede da Netflix, com os atores, os diretores e a produção. Enquanto isso, como estou encarregado de uma parte da trilha sonora, vou frequentemente para a Netflix, sigo compondo e ensaiando, mas ainda não consegui montar nada do tema dos protagonistas. Talvez por estar totalmente às cegas diante disso e da pessoa que será meu par pelos próximos meses. Sigo imerso em meus pensamentos quando escuto Ted conversando com alguém pelo corredor, e presto atenção.

- Sim, ela já conseguiu resolver tudo. Chegou mais cedo, está se instalando na cidade. - o outro homem fala

- Entendi, pensei que viriam todos juntos. - escuto a voz de Ted - Mas não tem problema, Javier. Inclusive podemos chama-la para que venha conhecer o prédio, o set de gravações, uma parte da equipe.

- Ótima ideia, Sarandos. Falarei com ela agora mesmo e já faço o convite.

Pelo visto eles saíram pois não ouvi mais nada e resolvo voltar a tocar bateria, fazendo os ajustes da primeira música. Uma hora mais tarde, saio do estúdio para a cafeteria da própria Netflix - com produtos veganos, para a minha felicidade. Sento próximo ao balcão, em uma das banquetas, enquanto aguardo meu pedido e mexo no meu Instagram, respondendo alguns fãs e mensagens dos meus amigos. Sem querer clico em uma conversa e quando a mesma abre, um sorriso involuntário surge, simultaneamente com a vontade de rir.

Somente para constar, até hoje Annie e Poncho não me deixaram em paz com as mensagens estranhas da tal Dulce. Alguém senta próximo a mim e também faz um pedido mas nem dou muita atenção, permaneço olhando o perfil da moça.

Quando o barista coloca meu pedido no balcão, levanto a vista e guardo o celular, agradecendo ao funcionário. Logo em seguida um barulho muito alto soa ao meu lado, nem sequer deu tempo de me assustar.

Quando notei, a pessoa que havia sentado a dois bancos de mim, caiu com o assento para trás e agora estava de pernas para o ar com o banco entre as mesmas. Que Deus me ajude para não rir nesse momento!

Levantei-me para ajudá-la depois de tirar o banco de cima, estendo a mão e franzo o cenho quando vejo seu rosto familiar. Observo o seu semblante assustado, e logo ouço nossas vozes pronunciando um alto:

- Você?!


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