- Pensei que nunca mais fosse me procurar Dr. Windsor.
- Eu não pretendia, não tão cedo.
Ele riu.
- Assim o senhor me ofende. – Dessa vez fui eu quem ri, sabia que ofendido era a última coisa que John Calaham ficaria. – Qual é a empresa que está em sua mira dessa vez?
- Dessa vez o assunto é pessoal. – Ele me encarou com expressão surpresa e eu compreendi, nunca antes tinha usado seus serviços em minha vida pessoal, seria trapaça demais. Até mesmo para mim. – Quero que descubra informações sobre uma pessoa. Na verdade é mais que isso. Quero que descubra seu paradeiro e também seu passado.
O homem a minha frente continuou me olhando de cenho franzido, absolutamente intrigado com meu pedido incomum. Ele precisaria de mais informações eu sabia, e por mais que relutasse em oferecê-las a ele e dessa maneira expor minha menina, não haveria outra forma.
- A pessoa que quero que encontre se chama William Spencer.
--//--
Eu não era nem de perto um santo e se tinha conseguido construir uma fortuna com a parca herança da aristocrática, porém falida, família da qual Victoria vinha era porque muitas vezes tinha sido mordaz, certeiro nos negócios sim, mas principalmente calculista. Além de ter lançado mão de artifícios como o uso do trabalho nada ortodoxo desempenhado por John Calaham. Eu não me arrependia, arrependimento não costumava fazer parte do meu cotidiano, e dessa vez menos ainda, afinal eu precisava descobrir o que de fato havia acontecido com Odette. Por mais que temesse a resposta.
Tinha dado informações a ele suficientes para ter um ponto de partida e iniciar a investigação, John Calaham era perito em espionagem industrial dentre outras coisas, e eu também não ignorava que possuísse um hacker trabalhando para ele. Ainda que desconhecesse sua identidade. Ele tinha cobrado caro pelo serviço, mas eu não esperava menos, queria as informações que havia solicitado e queria rápido, e ele me ofereceu duas semanas.
Parei o carro ao lado da casa de Adaline, sabia que se fosse decente lhe daria tempo. Tempo para se recuperar do que acontecia em sua vida. Mas eu não era. Não tinha qualquer ilusão quanto a isso. Ainda me sentia frustrado por não ter podido deixá-la sob minha vista, em minha casa era o que preferia, mas aceitaria a de meus pais também. Ela é quem não tinha aceitado, eu já fazia demais tinha me dito, já estava pagando a clínica para sua mãe, o que segundo ela era um gasto exorbitante. Suspirei porque primeiro mal sabia ela tudo o que eu realmente estava fazendo, e segundo o que gastava com Constance era uma quantia irrisória para mim, ainda que tivesse escolhido para ela a melhor e mais reservada clínica psiquiátrica.
Não perdi meu tempo indo até à frente e batendo a porta, sabia que o portão de ferro que dava acesso ao jardim estaria aberto, tanto quanto sabia que ela estaria lá. E foi onde a encontrei, ajoelhada entre canteiros de flores com as mãos mergulhadas na terra fria. Ela não tinha percebido minha aproximação e me ajoelhei atrás do seu corpo colocando as mãos sobre as dela.
- Não está usando luvas.
- Ah! – Ela pulou de susto e imediatamente me presenteou com um sorriso doce e um abraço espontâneo. – Desculpa – ela se afastou. – Vou sujar você.
- Isso não tem qualquer importância. – Afastei o cabelo de seu rosto e vi seus olhos inchados. Ela tinha chorado, era de se esperar eu sabia, mas não conseguia controlar o sentimento de raiva e impotência em vê-la sofrer.
- Vim buscá-la para almoçar. – A levantei levando até as cadeiras frágeis colocadas na varanda. – Podemos visitar sua mãe mais tarde se desejar.
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Odette
Romance[ Conteúdo Adulto +18 ] Ela sempre tinha detestado o nome, Odette Felícia Alden Bennet Évora, exótico demais, espalhafatoso demais, e ela, bem, ela era completamente comum, trivial diria. Mas a mãe, que lhe dera o nome, não tomava consciência disso...