☪ Arthur
Pensar em deixar a Evelin foi doloroso. Eu gosto da nossa amizade, das nossas conversas, do jeito como ela me faz sentir o cara mais interessante do mundo. A gente tem uma conexão. Mas, de alguma forma, eu sinto que esse caminho não é para ser seguido ao lado dela. Talvez a Eve fique mais segura se não me acompanhar.
Em poucos dias, eu iria para um lugar distante demais para manter qualquer tipo de contato com ela. Não dava, não naquele momento. Eu não precisava de uma distração como aquela com todas as coisas acontecendo ao meu redor.
Mas eu precisava conversar com ela. A ideia de fazer mal à garota que esteve comigo nos meus piores momentos me deixava mal, por isso, eu precisava explicar. Precisava que ela soubesse que o problema não era ela. Definitivamente não era.
O silêncio no quarto parecia mais pesado do que o normal, e dessa vez, não era aquele silêncio confortável que a presença dela sempre me trazia. Não. Esse silêncio era o prenúncio da conversa difícil que eu sabia que teríamos.
— Você tá diferente — ela começou, a voz tremendo um pouco. — Tá acontecendo alguma coisa, gatinho?
Se eu te dissesse, você não acreditaria.
— Estão acontecendo muitas coisas comigo nesses... nesses últimos tempos, sabe? — falei, a voz falhando um pouco, sem saber muito bem por onde começar.
Minha mente corria, tentando encontrar uma forma de aliviar a dor da conversa, mas parecia que não havia nada que eu pudesse dizer que não fosse machucá-la, depois daquela frase.
— Olha, Eve... Eu não posso continuar aqui, com você. — Falei quase num impulso, sem rodeios. Eu odiava enrolação, precisava resolver logo aquilo.
Ela se assustou. Talvez eu tenha sido direto demais. Seus olhos buscavam respostas, mas eu não podia dar. Ela ficou em silêncio por um tempo, processando o que eu havia dito.
— Você... não precisa fazer isso — respondeu, a voz ainda abafada, mas tentando se recompor. Ela forçou um sorriso tímido, tentando esconder o choque. — Eu tô aqui, pra tudo. Não vou me assustar com o que quer que você me mostre. Eu... eu gosto de você. Muito. — Ela me olhou nos olhos, e ali eu vi algo que não queria ver: para ela, aquilo não era só amizade. O brilho de esperança que havia antes em seu olhar agora parecia ofuscado pela dor.
Eu precisava dizer, precisava cortar logo.
— Você... Desculpa, Eve. Você é uma amiga incrível. Gostava do que tínhamos. Eu só... preciso cuidar de algumas coisas.
Amiga. A palavra saltou da minha boca sem que eu tivesse controle. Eu gostava dela, sim. A Eve me intrigava, me fazia sentir algo que eu não sentia por outras pessoas, mas não o suficiente para querer mais do que aquilo que já tínhamos. Eu não me via em um relacionamento com ela. Pelo jeito que ela me olhou, eu soube que não era recíproco. Não era nada recíproco.
— Então é isso? Você vai simplesmente se afastar? — Ela perguntou, a voz agora embargada, tentando disfarçar o que estava sentindo.
Eu precisava ser firme, mas cada palavra parecia aumentar o peso da culpa sobre mim. Não podia contar a verdade. Não agora. Havia coisas maiores em jogo, e proteger as pessoas que eu amava significava deixá-la no escuro, mesmo que isso a machucasse.
— Sim.
A expressão dela se tornou ainda mais triste, como se cada palavra minha fosse um golpe a mais.
— Se é assim que você se sente... — Ela deu uma risada baixa, quase sarcástica, os olhos cheios de lágrimas. Eu nunca a tinha visto chorar antes. A ideia de ser a causa disso me consumia por dentro.
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A Profecia
FantasyArthur Thyrd sempre acreditou que sua vida numa pacata cidade no interior de Minas Gerais seria eterna, previsível. Mas algo estranho começa a acontecer. Fragmentos de memórias que ele não reconhece, sonhos com lugares e criaturas que ele jamais ima...