pepino • pjm.jjk.

ouıdǝd

Estou muito, muito triste. A sensação é como um vazio oco, o que é um tanto contraditório, ao mesmo tempo, porque essa tristeza chata me consome até minhas bochechas se encherem de melancolia e rastros de angústia escapulirem pelos cantos de meus lábios. Estou muito, muito triste.

Estou triste e enjoado, devo dizer; o almoço de dois dias atrás ainda parecendo se apossar de meu estômago, o refluxo subindo por minha traqueia me avisa que quero vomitar... a tristeza. Por que certas coisas são tão difíceis de digerir? Meu corpo não está acostumado. Não está acostumado com... pepinos.

Pepinos são difíceis demais de digerir. E estou entupido de pepinos. Estou muito, muito empepinado. Eu odeio pepinos.

Pepino na salada, pepino com tomate, pepino temperado, pepino solitário — pepinos são tão horríveis que me deixam agoniado. Não me diga que gosta de pepino; da sua cor verde e textura asquerosa; do som que faz ao ser mordido, pepinos são horríveis e eu não gosto deles.

Tem essa enorme fazenda de pepinos. Tudo são pepinos; os animais são pepinos, o café é pepino, as árvores dão pepinos e o que vem da terra é pepino. Pepino, pepino, empepinado. Nessa fazenda, as pessoas são pepinos, as coisas que falam são pepinos, tudo o que fazem são pepinosidades. Não é à toa que são tão difíceis de digerir... eles são horríveis e não gosto deles.

Tenho que dizer: estou muito, muito triste, porque estou cheio de pepinos pra digerir. Já parou pra pensar o quão cansativo isso é? Essa vida de pepinos. Por que sempre tenho tantos pepinos pra resolver? Não, não é fácil. Eu fico muito triste. Então, não me diga que gosta de pepinos. Eles são verdes, asquerosos, horríveis e não gosto deles.

E as pessoas não entendem. Elas não entendem quando digo que estou cheio de pepinos; me taxam de louco, pirado, maluco, doido, treze, varrido demais, ou então bobo, tolo, idiota, infantil, quando na verdade elas mesmas acabam se tornando pepinos; meus pepinos particulares. Eu já havia me acostumado a ser incompreendido. Mesmo. A ideia de ficar sozinho com meus pepinos já não era mais tão assustadora, apesar de ainda extremamente desagradável.

Mas, então... eu conheci ele.

Seus cabelos são loiros como suco de maracujá; as bochechas rosa como pitayas suculentas e bonitas. Eu adoro o melão de seus lábios. Ele, em toda sua formosura frutífera, é a mais bela salada de frutas com suco de laranja e leite condensado. Sem pepinos verdes e asquerosos; sem complicações ou problemas, sem promessas falsas e corações quebrados.

Eu já disse que não gosto de pepinos, certo? Eu os odeio. Mas, os pepinos se tornam um pouco menos horríveis...

Quando estou com ele.

Pepinos transformam-se em deliciosos morangos quando estou com ele. Pepinos viram doces, macios e saborosos como pêssegos. Ele faz as coisas mais fáceis de digerir, ele me ajuda a carregar os diversos pepinos de minha fazenda; ele toma parte do meu fardo e os transforma em melancias de verão. De repente, eu já não estou mais tão, tão triste. Quando estou com ele, eu fico bem, bem feliz.

"Estou muito empepinado", eu digo, amuado, cheio de bico, esperando que vá me entender. "Vamos sair desse pepino", ele irá me dizer, segurando minha mão enquanto me beija com seus lábios empessegados e amorangados. Sem esforço nenhum, como se conhecesse até os detalhes da palma de minha mão; não tenho que ficar falando mil vezes, não tenho que dizer o quanto eu odeio pepinos e não tenho que explicar porque, às vezes, me sinto tão triste. Ele leva embora todos os meus pepinos e deixa apenas cerejas e ameixas. Eu adoro uvas, pêssegos e morangos. E disso ele me entope as veias. 

Mas mesmo que os pepinos continuassem a me atormentar, sua presença sempre me seria o suficiente.

"Estou triste", eu digo, deitado ao seu lado quando a angústia já não é mais suportável como antes. "Eu te amo", ele me diz, acolhendo-me em seus braços. "E se eu gostasse de pepinos?" pergunto. E com um sorriso inefável e indescritível, no tom mais amável do mundo, ele sussurra em meu ouvido "Eu te amaria como se fossem morangos."

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