Uma vez, contei uma história a Angela e sei até hoje o quanto a desestabilizou.
Não por ser cheia de ensinamentos, mas porque a lembrava de uma pessoa. Eu até me arrependeria de ter lhe contado, mas era a Angela, se eu pedisse desculpas ela voaria no meu pescoço.
Ela odiava quando lhe pediam desculpas e eu fazia isso demais. Então eu apenas contei.
Essa foi a história que lhe contei:
“— Não posso deixar que me ame – ele disse. Não com uma voz chorosa, na verdade, não havia um resquício de emoção.
— Eu não entendo. Por que? – eu perguntei baixinho, não fazia sentido. Em uma semana me amava e na outra éramos nada.
— Eu apenas não posso. Você é demais pra mim.
— Você não sabe do que está falando – eu tento entender, mas é difícil com as lembranças embaçando sua visão.
Ele não olha para mim, em nenhum momento.
— Eu vou embora – ele sussurrou.
E ouvir isso, foi mais doloroso que o esperado.
— O que?! – mais essa agora, era só o que faltava.
— Vou morar com meu pai.
— É por isso que não posso amá-lo? – eu lhe pergunto, como se já não o amasse.
— Pois é. Mas não é só isso, eu não estou pronto pra você.
Eu o olho sem entender.
— Você é muitas cores, chuva e tudo mais. É demais para mim.
— Você é um covarde. Mas tudo bem, um dia você voltará.
— Não posso fazer você esperar.
— Eu não vou. Mas saiba que estarei aqui.
Isso não faz sentido, mas naquele dia, para mim, fez um sentido absurdo.
Eu me levanto. Não queria mais auto piedade, não queria mais chorar por ele.
— Então isso é um adeus? – ele me pergunta também se levantando.
— Nunca é um adeus."
Quando acabei de lhe contar, ela me olhou com uma expressão engraçada. Parecia que queria desatar a rir, ao mesmo tempo em que segurava as lágrimas.
— Essa história é a maior confusão – ela disse apenas.
E para falar a verdade era mesmo.
— Você está bem? – eu lhe perguntei quando vi uma tristeza repentina vinda dela.
— Estou, é que... – ela parou, respirou e depois continuou. – Isso me lembra dela, mas sabe, nunca é um adeus.
Aquilo havia doído, eu não esperava que ela ainda pensava em seu antigo amor, não sabia que talvez, ela pudesse almejar pela volta dela.
Eu sei que não tinha direito algum sobre isso, por isso nunca reclamei. Não faria sentido, ela era minha ouvinte toda vez que eu falava sobre o meu antigo amor, não seria justo reclamar pela falta que ela sentia.
Eu apenas a observei enquanto ela se levantou e saiu. E eu fiquei parada, sem saber o que dizer. Angela sabia como ser confusa e incoerente, tanto quanto eu.
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Angela - Memórias de um amor
Romance[Em processo de revisão] Angela é um turbilhão de coisas, enquanto nossa querida narradora se acha um grão de tão pequena, mas elas encontraram na amizade e no amor que uma tem pela outra, um refúgio. Juntas, elas são muitas coisas. Nossa narrado...