*Sierra Lancaster*
É irónico que um rapaz com cancro seja a pessoa com mais vivacidade com quem eu tenha convivido.
As suas mãos pálidas seguram a raquete de ténis com fervor, alguns fios loiros caem sobre a sua testa suada e para frustração minha ele continua a ganhar. Lanço a bola ao ar novamente e vejo-a ser lançada para o campo adversário após o embate da minha raquete. Ele corre, chegando até à extremidade do campo e volta a lançar-ma na minha direção, com um sorriso de divertimento.
As suas maçãs do rosto estão tingidas de uma tonalidade rosada devido ao cansaço, em contraste com a palidez habitual.
Deixo a raquete cair ao meu lado, fatigada. Dói-me o corpo devido ao cansaço, as minhas mãos já praticamente não conseguiam segurar a raquete devido ao suor que nelas se acumulava, enquanto estava a jogar. O meu sorriso não murcha, contudo. Limpo o suor na pequena toalha que trouxe e bebo água com sofreguidão. Mackenzie aproxima-se de mim com um sorriso desafiador, enlaçando-me pela cintura.
“Deste cabo de mim em todos os sentidos, Miss Lancaster.” – ele declarou, com a voz entrecortada e mais grave.
Ri ligeiramente, corando. Beijei-lhe o queixo, olhando os seus olhos azulados com paixão. Passei o indicador pelo seu maxilar, acariciando os vestígios de barba que despoletavam entre si para irromperem e fazerem-se ver. Por fim beijei-o.
Tess dormia encolhida no sofá, com uma manta sobre o corpo. Tinha adormecido enquanto via um filme de animação na televisão da sala de estar. A minha avó estava no seu quarto a ver Agatha Christie, querendo dar a mim e Mackenzie privacidade.
Aconcheguei-me junto ao tronco do loiro. As personagens continuavam a falar e estavam prestes a lançar um foguetão para o espaço com o intuito de roubar a Lua, no entanto o britânico estava distante do local físico no qual se encontrava. Toquei o seu braço coberto por uma camisola querendo olhá-lo nos olhos. Ele sorriu desconcertado e aproximou-me ainda mais de si com o braço esquerdo, colocando o queixo sobre a minha nuca.
“Em que ano estavas quando sofreste bullying?”
Virei-me para ele confusa, expressão a qual ele detetou, contudo não esclareceu a sua questão. Humedeci os lábios intrigada:
“Estava no quinto e no seu sexto ano.”
Por breves segundos ele nada disse. Os seus olhos estavam fixos nos meus. Azul contra castanho numa inebriante conversa silenciosa. Conhecia-o suficientemente bem para ter plena consciência que algo ele queria proferir.
“O que é que eles diziam?”
Juntei os lábios numa linha fina, lembrando-me dos maus tempos que tinha passado. Eles sempre voltavam como fantasmas, inevitavelmente. Remexi-me desconfortável e busquei confiança na parede pálida à minha frente. Não pretendia vitimizar-me do que me tinha acontecido, comiserar-me de algo que nunca mudaria, até porque sabia que Mackenzie odiava lamentações. Talvez ele reavaliasse as suas perspectivas e percebesse que de certo modo, o que eles diziam, tinha uma breve ponta de veracidade.
“Não tens de me dizer, Sier.” – sorri tristemente, entrelaçando distraidamente os meus dedos aos seus. Baixei os olhos, envergonhada.
“Eles faziam diversos comentários desagradáveis e excluíam-me das actividades entre eles, o que só por si era pior que duas bofetadas e um insulto bem explícito.” – respirei fundo. Mackenzie não se pronunciou. – “Fazia-me sentir inferior, uma inapta. Lembro-me de um colega meu me tentar ensinar a beber um iogurte líquido, alegando que eu não sabia como o fazer.” – as palavras sufocavam-se na minha garganta, numa luta crescente para serem expelidas. Mordia o lábio, sentindo o sangue resultante dessa ação. Queria chorar, inundar a camisola de Mackenzie como costumava fazer com a da minha mãe. Sentia o calor do seu corpo contra o meu, a sua respiração junto aos meus cabelos, a sua postura tensa.
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Wattpad lovers{PT}
Teen FictionAs nossas perspetivas quanto ao mundo que nos engloba, diferem também devido às distintas vivências que possuímos. Mackenzie e Sierra vêem o mundo de diferentes modos devido a diversos fatores, estando as vivências como um dos principais. Aprende...