Capítulo 20

169 19 73
                                    

Sinto uma luz forte atingir meu olhos e tento me virar para ver se a sensação de desconforto nos olhos passa, porém, sou impedida de fazer movimentação porque sinto uma mão em meus cabelos.

Abro os olhos, assustada.

Tomo um susto quando vejo de quem era o braço que estava me tocando.

Miguel.

Eu me sentia zonza, tento me movimentar, mas paro assim que percebo um cano fino e transparente ligado do meu braço até uma bolsa de plástico com sangue.

Espera, por que tem uma bolsa de sangue ali?

Eu estava me sentindo incomodada com algo, parecia que tinha alguma coisa colada ao meu tronco.

Começo a ter vários flashbacks e consigo tomar consciência do motivo para eu estar em uma cama de hospital.

Eu me lembro muito bem de vê-lo atirar em mim, eu me lembro daqueles olhos pretos sem nada dentro, sem remorso.

Não sei se foram minutos ou horas, mas sei que eu fiquei muito tempo pensando.

- O quê? - A voz rouca de Miguel atinge meus ouvidos, me fazendo olhar para ele.

Ele ainda estava dormindo, seu rosto abatido mostrava que ele já não dormia à algum tempo.

Ele estava sonhando.

Percebo também que, além de ter uma mão em meu cabelo, ele tinha uma de suas mãos em meu pulso esquerdo.

Desisto de tentar me levantar, e volto a encarar ele.

Continua lindo.

Sua barba loira estava maior do que da última vez que eu havia visto ele.

O cheiro de seu perfume foi como um tapa, saudades de sentir esse cheiro. Ele tem isso em comum comigo, quando eu gosto de um perfume, praticamente só uso ele.

Seu cabelo curto parece muito convidativo, eu queria acariciar, mas eu estava com medo de acontecer alguma coisa com essa mangueira transparente, então paro meu braço na metade do caminho.

Antes de voltar meu braço para o lugar, sinto Miguel se aproximando lentamente, mais próximo que antes.

Ele não estava dormindo?

Fico atenta a todos os seus movimentos, tentando descobrir o que ele pretendia.

Ele não fala nada, apenas empurra, cuidadosamente meu braço para ficar por cima da cama novamente.

Miguel então solta meu pulso, que ele ainda segurava. Ele se ajeita na cadeira que estava sentado.

- Oi. Eu estava com saudades. - O baque dessa frase me fez perder o ar. - Eu estava com muita saudades. - Repete, me deixando constrangida, sem saber como reagir, então eu começo a olhar tudo na sala, menos para ele.

Ele falava como se eu tivesse ficado muito tempo longe dele.

- Eu estou bem... - Falo, baixinho, sem saber se eu realmente estava bem.

Miguel então se aproxima lentamente e encosta sua testa na lateral da minha cabeça.

- Eu estava com medo de te perder, eu sinto muito por não estar lá, que bom que você está viva... - Para de falar e funga. Ele estava chorando? - Você está viva, eu estava preocupado. Você não acordava. Você não queria acordar.

Quando tempo eu fiquei aqui?

- Miguel. - Chamo sua atenção. Consigo virar minha cabeça até poder olhar ele, nos olhos. - Eu estou bem. - Limpo uma lágrima solitária que estava descendo pela sua bochecha. - Não chore por isso, eu estou viva.

Fire - Em ChamasOnde histórias criam vida. Descubra agora