13

194 17 130
                                    

P.O.V Gina

Geralmente, quando tenho um ataque de tristeza, ele pode levar dias, até mesmo semanas, antes que desapareça, e é por isso que tento evitar situações que possam me fazer ficar amuada. Mas, de alguma forma, Harry sempre conseguia fazer minha tristeza passar.

Tipo, ele parecia saber instintivamente que eu não podia lidar com isso de estar sozinha depois de uma visita paterna e, depois de ir ao meu apartamento para pegar um pijama, escova de dente e uma centena de outras coisas sem as quais
não poderia ficar por um período de vinte e quatro horas, eu estava sentada em sua cama, comendo torta de carne com legumes e assistindo a uma reprise de Inbetweeners. Mesmo tendo toda a casa só para nós, eu preferia muito mais o quarto de Harry.

Ele era todo cheio de ângulos estranhos, porque ficava entre as traves do telhado, e era muito arrumado. Muito organizado. Muito ordenado. Não era porque sua mãe reclamasse e o obrigasse a mantê-lo daquela maneira. Eu já tinha visto, com meus próprios olhos, Harry me passar algumas toalhas de visita (toalhas de visita, quero dizer, que raios é isso?) e organizadamente dobrá-las antes de colocá-las sobre a cama.

Em deferência ao meu estado emocionalmente frágil, ele não tentou me beijar, quando, normalmente, teríamos detonado a perfeita planura, como de um espelho d’água, de seu edredom em cinco segundos. Ele estava muito feliz por comer sua torta de carne e legumes e fingir que estava fascinado pela minha análise criteriosa do Inbetweeners e de como a série se encaixava no cânone dos
dorks na TV. Ele até concordou, sem reclamar demais, em me deixar usar seu scanner, porque eu queria aquelas fotografias tratadas imediatamente.

Harry me rondou por algum tempo para ter certeza de que minhas mãos
estavam limpas antes de irem a qualquer lugar próximo de seu teclado imaculado, mas assim que ele se certificou de que elas estavam impecáveis e de que eu não estava tentando olhar seu histórico de navegação para ver o que ele
via de pornô, me deixou ali, sossegada, e começou a jogar L.A. Noire.

Pensei em não olhar para as fotografias se eu colocasse a face para baixo, no scanner, e desfocasse meu olhar para que todas aparecessem na tela do computador como se fossem da cor de pele borrada. Eu tinha quase terminado quando Harry cutucou as costas da cadeira com o pé.

— O mínimo que você pode fazer é me mostrar algumas fotos suas de quando era criança.

— Sonhe, sonhador, isso nunca vai acontecer — disse, enquanto clicava para sair.

— Não há como uma roupa de criança, que seus pais a tenham feito vestir, ser pior do que o que você opta por usar agora — insistiu Harry, e quando me virei para lhe dar meu olhar mais fulminante, percebi que ele tinha avançado sorrateiramente para trás de mim. — Vamos lá, Gina, tem que ter pelo menos uma foto sua usando fralda, ou nua, sobre um tapete falso de pele de carneiro. É
a lei.

— Nós não éramos uma família que ficava tirando fotos — respondi-lhe, o que era a verdade. Ou era a verdade pela época em que me juntei a eles. — Além disso, essas fotos foram tiradas antes que tivessem pensado em mim.

— Tem certeza de que não está dizendo isso só porque quando você era uma criança pequena amava se vestir com roupas de princesa? — Harry disse, enquanto apoiava o queixo em meu ombro, o que era muito chato.

— Você realmente acha que eu era esse tipo de garota? Para sua informação, eu tinha meu próprio traje de super-herói, feito em casa, para a personagem que eu inventei, chamada Garota Incrível — admiti.

Em uma caixa de papelão, em
algum lugar nas profundezas do meu apartamento, estavam as tirinhas mal
desenhadas que eu fizera para a Garota Incrível e o Bad Dog, seu fiel
companheiro canino. Molly e Arthur eram veementemente contra a televisão, por isso tive que criar minha própria diversão.

Os Adoráveis- Hinny (Adaptação)Onde histórias criam vida. Descubra agora