I.

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20 de novembro de 2017

"Katherine estás pronta? Sabes que odeio que o pai espere por nós." – a voz de Sarah faz-se ouvir pelo meu quarto, a porta está entreaberta e ela espreita á minha procura enquanto corro de um lado para o outro.

"Calma, calma! estou quase." – afirmo ao ir na direção dela ainda a calçar um sapato.

Arranjo o vestido no meu corpo e fecho a porta atrás de mim, confiro se tenho tudo dentro da malinha pequenina que levo comigo e desço a escadaria lentamente devido à altura dos sapatos.

O meu nome é Katherine Ross tenho 18 anos e estou neste momento a entrar no carro que me leva diretamente para o Inferno, literalmente. Com Inferno, refiro-me a uma inauguração que o meu pai organizou de uma das suas novas empresas de peças automóveis. Poderia ser incrível se não houvesse toda uma farsa por detrás do negócio, e dos convidados, se o ambiente não fosse todo digno de um Óscar, por tamanha atuação.

O caminho pelas ruas de Londres não é tão rápido como esperávamos, Sarah desvia o olhar entre o telemóvel e a estrada como se isso não a deixasse mais stressada ainda. A Sarah é minha irmã, do primeiro casamento do meu pai – considerando que ele já vai no terceiro – tem 27 anos e duas filhas gémeas, Jenevive e Eleanor.

"Sarah tem calma, ele irá compreender que está transito. Alias, ainda estamos dentro do horário combinado" - tento acalmá-la, mas creio que foi em vão.

"Só não quero que fique zangado, ele está entusiasmado por este dia e queria receber as pessoas connosco lá" – olha agora cabisbaixa, enquanto brinca com os próprios dedos.

Ela é refém do medo de desiludir o nosso pai, mesmo que este já o tenha feito várias vezes.

"Porque é que tu és tão submissa às regras e ordens dele? Sei que é nosso pai, mas já nos magoou e errou tanto connosco. Não consigo compreender essa tua adoração por tudo o que ele faz, mesmo sabendo o que está por detrás" – digo calmamente, tentando arrancar uma reação dela, algo que me faça compreender esta atitude dela.

"Kath, acredito que mereça uma segunda oportunidade, ele faz o melhor para nos ver bem e gosta de nos ter presente. Tenta ao máximo manter-nos seguras, se não, qual seria a necessidade de nos arranjar seguranças e preocupar-se connosco?" – ela soa tão frágil a dizer isto, como se quisesse juntamente comigo acreditar no que acabou de me dizer.

"O que não lhe faltou foram oportunidades Sarah, ele gosta de mostrar que tem uma família feliz e que tudo é perfeito, quando nós sabemos bem que não é. Tu própria referiste a necessidade de termos seguranças, se ele aproveitasse as oportunidades que lhe demos e tudo fosse assim tão perfeito, seguro, eles não seriam necessários" – vejo a desilusão no seu olhar, não tem como contrapor estes argumentos, não há como o defender de escolher colocar a família em perigo.

"Menina Katherine e Menina Sarah, chegamos" – a voz de William, o motorista faz-se ouvir ao abrir a porta do meu lado.

Ela sorri de leve e retribuo, para desvanecer o ambiente silenciosamente pesado que ficou. Apesar de termos ideias opostas relativamente ao nosso pai, e a muitas outras coisas, a Sarah será sempre minha irmã e faria qualquer coisa por ela, e Sarah o mesmo.

Temos um elo muito bonito, e agora que ambas estamos mais velhas, mesmo com uma diferença de idades razoável, percebemo-nos e aceitamos melhor a personalidade de cada uma.

Sarah pousa sorridente em frente aos fotógrafos das diferentes revistas e jornais que acompanham estes acontecimentos, desde as cor-de-rosa às económicas. Acena-me e junto-me a ela, após 3/5 minutos a olhar para os diferentes focos decido entrar enquanto Sarah pousa com o marido, Joshua.

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