Doce como um pecado

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Quando Hoseok era mais novo, sua mãe costumava lhe dizer para ficar longe das coisas dos outros. Ela sempre o colocava de frente para o espelho do quarto, penteando seu cabelo de tigelinha e ajustando a gravata azul celeste amarrotada do uniforme escolar com um olhar sério e uma boca que despejava ensinamentos preciosos ao seu primogênito.

— Fique longe daquilo que não te pertence. Por mais que a tentação às vezes te manipule a querer aquilo, seja mais forte e não se deixe levar — era o que ela dizia, terminando tudo com um sorriso e um elogio.

Mas os anos se passaram e Hoseok não era mais uma criança que seguia os conselhos da mãe sem hesitar. Apesar de ter crescido e se tornado um homem de valores e que sabia muito bem distinguir o certo do errado, infelizmente a tentação não pôde ser vencida por ele.

Seria eufemismo dizer que Hoseok não havia tentado, todavia. Os deuses eram testemunhas da sua luta todos os dias para fugir daqueles lábios convidativos, daquele sorriso sedutor e dos olhos que brilhavam como verdadeiras estrelas no céu. Mas foi inevitável cair em tentação eventualmente. E ele se arrependia amargamente todos os dias por ser fraco, principalmente quando andava pelos corredores da faculdade e o via sorrindo para o namorado como se nada estivesse acontecendo, como se não o traísse irresponsavelmente toda semana consigo. Um maldito cínico.

Ninguém além de Changkyun, seu melhor amigo e colega de apartamento sabia daquilo. Era um segredo sujo guardado a sete chaves que Hoseok temia todos os dias ser revelado. E mesmo que o Im sempre o dissesse para colocar um fim naquela história adúltera, ele continuava a se encontrar com o homem que dominava seus pensamentos desde o início do semestre retrasado toda a sexta-feira a noite. Era o seu maior vício.

— Eu ainda não entendo como alguém como ele conseguiu conquistar você — Changkyun comentou certa vez quando estavam juntos no refeitório da universidade e o casal perfeição estava logo a frente. — E ainda por cima acabou com a sua moralidade.

Hoseok desviou o olhar dos dois quando viu Jooheon abrir a boca para Hyunwoo o entregar a comida na boca como um típico casal apaixonado faria, focando seus olhos no melhor amigo que tinha uma expressão mista em deboche e julgamento no rosto jovem.

— É, eu também não entendo — suspirou. — Não entendo mesmo.

Mas a verdade é que ele entendia muito bem o que o atraía tanto naquele homem, ele só não diria a Changkyun, ainda mais sabendo que o amigo o estaria julgando por trás de uma expressão quase confidente.

Logo quando o conheceu em uma das típicas festas de iniciação dos calouros da faculdade, foi instantaneamente cego pela beleza que o cercava. O homem tinha o charme sedutor de Afrodite, com uma beleza típica de um deus grego e a personalidade doce como o fruto proibido, porque, de fato, ele era proibido. E Hoseok, como um estudante de história completamente fissurado pela mitologia grega, não pôde resistir.

Na mesma noite que o conheceu, os dois trocaram conversas animadas e flertes discretos ali e aqui, mas tamanha foi sua surpresa quando descobriu no dia seguinte que a sua paixão de festa na verdade era comprometida com alguém tão lindo e doce quanto. Foi como levar um soco no estômago e um banho de água fria ao mesmo tempo, simplesmente decepcionante.

Sabendo que a índole de alguém que flertava com outra pessoa sendo comprometida era questionável, Hoseok prometeu para si mesmo que iria se afastar daquele homem, por si, pelo namorado dele e pela sua moral. O problema era que assim como Hoseok tinha sido pego pela onda de uma paixão emocionada, o outro também havia sido fisgado pelo cúpido.

E mesmo depois de negar tanto que daquela água ele jamais beberia, Hoseok acabou se afogando na lábia e nos lábios daquele que mesmo sabendo ser inalcançável àquela altura do campeonato, ainda conseguiu o conquistar.

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Os beijos trocados, as mãos bobas, as noites quentes de um sexo selvagem mas ainda sim romântico o suficiente para o fazer se apaixonar perdidamente por aquele sorriso tão caloroso foram se tornando tão comuns a ponto de em cinco meses daquele relacionamento estranho, os dois acabarem criando um horário, um horário só deles.

Hoseok sempre acorda às 4:30 da manhã no sábado porque ele sabe que esse é o horário que Hyunwoo vai deslizar para dentro do seu apartamento como uma cobra predatória e fazê-lo seu. E ele não se importa se está tarde ou se quando o sol começar a raiar ele já não o terá mais, porque tudo que importa são as duas horas que pertencem unicamente a eles.

— Pensei que não viria hoje — Hoseok comentou em um muxoxo quando abriu a porta do apartamento e foi surpreendido por um daqueles beijos de tirar o fôlego que apenas Hyunwoo sabia lhe dar.

— E eu não iria — disse tirando os sapatos ao entrar na residência do amante. Changkyun nunca era um problema para os dois, visto que sábado era o dia que ele passava na casa do ficante, Minhyuk, em uma forma de evitar ter de ser cúmplice de atos adúlteros que aconteciam no quarto ao lado e para poder ter sua diversão também, por isso a casa inteira era dos dois naquela madrugada. — Jooheon e eu íamos almoçar juntos hoje, mas ele cancelou por causa das provas de fim de semestre.

Hoseok murchou na hora.

— Ah, claro, eu sou sua segunda opção, esqueci do seu namoradinho — disse a última palavra em um tom de claro ciúmes que fez Hyunwoo rir, caminhando lentamente até o corpo mais musculoso porém mais baixo de seu amante, abraçando por trás e traçando selares pela sua nuca exposta, sabendo que isso iria o arrepiar, visto que era sensível naquele lugar.

— Isso é ciúmes, querido?

Hoseok resmungou, fechando os olhos enquanto o outro continuava a sussurrar no seu ouvido.

— Talvez. Por que você continua com ele se tem a mim? — Jogou sujo sabendo que Hyunwoo sempre se incomodava quando ele o pressionava sobre o relacionamento conturbado que eles tinham devido a presença de Jooheon, o adorável namorado do mais velho que Hoseok pedia perdão toda noite por odiar tanto.

— Da mesma forma que você continua ficando com o Hyungwon mesmo sabendo que o único que te faz se sentir completo de verdade sou eu — Touché. Hoseok sabia que isso estava por vir, Hyunwoo sempre fazia chumbo trocado consigo quando se provocavam daquela forma. Não é como se ele e Hyungwon fossem algo sério, estava mais para um conforto entre dois jovens que gostavam de ter uma viciada sexual ativa e se achavam atraentes o suficiente para serem o caso de mais de uma noite. Algo simples, sem compromisso e totalmente limpo. Diferentemente da relação entre ele e Hyunwoo, que beirava a sujeira e gritava adultério.

Com um riso ladino preso nos lábios, Hoseok virou-se de frente para Hyunwoo não esperando mais para atacar seus lábios em um beijo cheio de saudade. Eles não estavam acordados às quatro e meia da manhã para uma conversa barata, e sim para queimar juntos em um misto de sentimentos.

Os corpos se arrepiavam na medida que os toques se tornavam cada vez mais profundos, consequência das longas duas semanas que passaram separados devido aos compromissos e as rotinas bagunçadas de universitários. Era impossível para os dois não soltar lufadas de ar que mais se assemelhavam a gemidos contidos em meio ao beijo, sensíveis e necessitados um do outro.

Hoseok não se importou quando sentiu Hyunwoo o puxar para seu colo, passando as pernas ao redor da sua cintura ao passo que era levantado. Ele tinha mais músculos, mas Hyunwoo era forte o suficiente para o carregar sem tirar aquele olhar feroz do rosto nem por um segundo.

Quando eles já estão no quarto do Lee, o beijo recomeça, dessa vez tão recheado de luxúria quanto antes. O selar é desesperado, bruto e suas línguas se enroscam uma na outra o tempo inteiro, do jeito que eles gostam. Sem cerimônias, sem demora, e direto ao ponto.

Nenhum deles saberia dizer quando ou como as roupas foram espalhadas pelo chão do quarto de paredes cinzas, ou quando foi que Hoseok passou a ser uma bagunça de gemidos e palavras desconexas que sempre eram precedidas pelo nome de Hyunwoo enquanto sentia o homem indo cada vez mais fundo dentro de si. Eles só haviam chegado ali, e o relógio ainda nem marcava cinco, tinham todo o tempo do mundo.

— Hyunwoo! — Ele adora quando Hoseok o chama tão desesperado assim. É o que faz sua pupila dilatar e seus movimentos harmônicos se acelerarem ainda mais apenas para ver aquele corpo tão forte mas que agora sobre seu domínio parecia tão frágil e sensível sucumbir aos espasmos de prazer do próprio corpo.

E quando Hoseok tem os olhos fechados, as sobrancelhas arqueadas, o rosto banhado em rubor é que Hyunwoo percebe que aquele é o melhor momento do seu tia Tê-lo debaixo de si, com as mãos trêmulas arranhando suas costas e os gemidos sensíveis de prazer ecoando no seu ouvido era algo que ele jamais abriria a mão. Mesmo que para isso ele precisasse cometer um dos pecados mais sujos e doces: o adultério.

Eles sentem seus sentidos se entorpecerem quando chegam lá, sujando os lençóis recém lavados de porra e suor, mas nenhum deles se importa com a sujeira, porque ainda são cinco da manhã e eles ainda tem muito tempo para sujarem ainda mais com a bagunça de seus corpos quentes cheios de energia de sobra.

Ao apontar dos primeiros raios de sol, quando já passa das seis da manhã, é que eles finalmente param, satisfeitos por hora de alma e corpo. É nesse momento, com a pouca iluminação do quarto, onde apenas alguns feixes de luz escapam por entre a persiana, que Hoseok consegue ver o brilho nos olhos de Hyunwoo, um brilho que é apenas dele. Um brilho que diz muito mais do que as três palavras que ele sente com todo seu coração.

É muito mais do que uma conexão sexual, é uma conexão entre vidas. Está claro para qualquer um que os visse agora que o amor entre eles é verdadeiro, e completamente impuro.

Mas enquanto Hyunwoo continuar com Jooheon, eles jamais passarão de um simples amante e um simples adúltero. E está tudo bem, porque Hoseok não se importa em dividir, pois ele sabe que no fim, o amor de Hyunwoo jamais será de Jooheon. Aquilo pertence a ele, e somente a ele.



NOTAS:

E essa foi a minha MonDesafio de Abril! 

Devo dizer que eu fiquei com um pé atrás de escrever uma história tão...suja? Mas eu queria fazer algo mais nesse lado de coisas erradas e sexuais,  acho que 'tô ouvindo The Weeknd demais. SKAKSKK 

Eu gostei muito dessa pegada do mondesafio de abril girar em torno da dinâmica de dois shipps secretos que ninguém pode saber e só descobre lendo (já que não está no título e nem na sinopse), mas eu quase SURTEI quando um dos meus shipps foi sorteado e era Showheon, o único shipp do Monsta X que eu não vou com a cara de jeito nenhum. Olha a sorte!

Pelo menos o que veio depois foi Showho, um que eu gosto muito, apesar de que nessa fanfic eu fiz eles serem bem odiáveis. (Coitado do Jooheon, daqui uns dias ele nem passa na porta mais)

ENFIM. Espero que tenham gostado, no vemos mês que vem!




4:30 AM 「SHOWHO」Where stories live. Discover now