"Refúgio", Ionia, 6:25 da manhã.
Roupa branca bem passada, jaleco cuidadosamente colocado sobre a dobra do braço, passos lentos, coração palpitando no peito. Aquele era seu primeiro dia de trabalho na única clínica psiquiátrica da cidade, o que trazia um peso cultural e indescritível às costas da jovem, que sentia que precisava se sair bem de qualquer jeito, já que uma oportunidade dessas não se deixa escorrer pelos dedos.
Não podia negar, estava nervosa. Quando chegou no lugar indicado pelo cartão lhe fornecido após as entrevistas e exames admissionais, constatou que mais parecia um presídio do que qualquer outra coisa e por alguns segundos, um desespero repentino inundou seu peito e a vontade de correr a assolou. Por isso, respirou fundo e ergueu a cabeça. Venceria o desafio do medo como havia vencido todos os dias de sua vida até ali. Tocou o interfone, recebendo um tratamento deveras ríspido do outro lado.
- Nome. - Solicitou uma voz grossa e intimidadora do outro lado, fazendo o corpo da pequena arrepiar de espanto.
- Gumiho. Dra. Gumiho, Ahri. - Respondeu, com formalidade.
O portão se abriu vagarosamente após um bip ser ouvido, e então o interior do lugar que agora também seria seu nada sonhado lar se revelava.
Se desconsiderados os muros, Ahri pensou que talvez houvessem pontos positivos em se viver ali. Haviam árvores por todos os cantos, com diversas flores e frutos, bem como pequenas estradas de pedras que levavam para alas diferentes. Constatou sem dificuldades que o terreno era imenso, o que a fez se perguntar quantos pacientes haviam ali e qual seria sua principal demanda de serviço. A ala norte, ela notou, abrigava um jardim extremamente notório naquela primavera, com flores inclusive que a moça nunca havia visto.
Quando deu os primeiros passos adentro, deparou-se com uma figura deveras peculiar. Mesmo escoltada por guardas, um paciente que estava ali aparentemente para curtir um solzinho, tentava incessantemente abaixar as calças, gargalhando pros seguranças que o tentavam impedir. Mais tarde, Ahri descobriu que aquele era Gragas, um senhor um tanto... Diferente do que estava acostumada a lidar.
- Certo, Ahri. - Disse pra si mesma, seguindo seu caminho pela trilha de pedras rumo ao prédio principal. - Não faça cara de idiota. Mesmo que você só tenha essa.
- Ora ora, o que temos aqui... - Uma voz extremamente sugestiva interrompeu seu pequeno devaneio, fazendo com que ela se sobressaltasse e olhasse imediatamente para trás, na direção de onde vinha. Encontrou a figura de uma mulher baixa, bem vestida e com unhas imensas. Se perguntou se ali não preveniam... Acidentes, como ter os olhos arrancados por unhas como aquelas. - Tem uma médica falando sozinha no meio do hospício e a louca internada ainda sou eu. - Provocou a criatura, fazendo a médica franzir o cenho, desgostosa.
- Estou um pouco... Perdida, mas vou me achar em breve. O mapa não é muito claro, digamos assim. - Fez menção ao papel da planta do lugar que tinha em mãos, tentando soar amigável, afinal aquela podia ser uma de suas pacientes agora. Nunca se sabe.
Haviam a orientado um dia antes que, por mais estranho que parecesse, o prédio principal era o "C", que ficava à leste do Jardim. A mulher que havia debochado dela indicou a direção, e Ahri seguiu, não sabendo se aquela era uma decisão muito inteligente.
Depois de andar alguns minutos, avistou o prédio azul bebê com uma placa "C" em vermelho e sorriu, pouco antes de ter uma fruta arremessada em sua direção, o que a fez pelo menos perceber que também havia uma horta ali e algumas pessoas estavam cuidando dela. Uma delas se aproximou.
- Você deve ser a médica nova. - Estendeu a mão, fazendo Ahri pensar que aquela era a primeira pessoa verdadeiramente gentil que havia encontrado ali até então. - Sou Akali, psicóloga. Seremos colegas de trabalho, então. Peço desculpas pelos modos da minha paciente... - Ela se virou pra trás, indicando a pessoa que havia atirado a fruta. - Irelia não gosta muito de pessoas novas.
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PARANOIDE (Yone x Ahri)
FanfictionGumiho Ahri é uma psiquiatra recém formada que passou seus últimos 6 anos de vida em Piltover, tendo a melhor educação possível em Runeterra. Ao término da sua especialização, na incessante busca por uma oportunidade de entrar para o mercado de trab...