Segunda Parte

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Uma mulher olhou para mim sorrindo e, com um ar acolhedor destacando toda sua simpatia, dirigiu sua palavra em tom cortês:

— Ah, você deve ser o menino que veio pegar a hamster — disse. — Só um momentinho!

Abriu a porta da sala e desceu a escadinha que dava acesso ao portão com uma gaiolinha simples e desbotada nas mãos. Jamais pensei que pudesse ser de um hamster, mas, pelo que percebi, era lá que os pequeninos ficaram desde o nascimento.

— Aqui está! — estampou um sorriso outra vez.

Olhei para dentro do recipiente e vi uma pequena bolinha de pelos acinzentada com olhinhos enegrecidos e brilhantes, tentando avistar a imensidão por trás daquelas grades. 

Meu coração se inundou de carinho. Apanhei-a estendendo as duas mãos e disse à mulher:

— Minha mãe pediu para eu te dar este dinheiro.

— Muito obrigada, querido! — Ela então fechou o portão e entrou para dentro de sua casa.

Na volta estava todo cuidadoso. Retornava a passos lentos para não agitar a pequena criatura que agora estava sob meus cuidados.

"Como ela é linda!", pensava com toda felicidade. Um sonho que se concretizava às facetas da infância.

O único problema é que eu não fazia ideia do nome que iria dar à criatura. Não pude pensar em nada até aquele momento. Tampouco me cobrei; tinha tempo para decidir e, até lá, eu me atentaria à personalidade do animal que agora possuía.

Quando cheguei em casa minha mãe me deu mais dinheiro para ir comprar a ração. Um composto que vinha com vários grãos, incluindo sementes de girassol.

Depois que a hamster comeu, quis levá-la a casa de um amigo para ele conhecer o novo animalzinho que agora residia nas entranhas sentimentais de minhas fantasias. 

Tratava-se da pessoa que desempenhara a maior influência para eu querer um roedor.

Possuía uma imensa família da espécie em sua casa, que circulavam livremente em uma gaiola tão grande que era mais alta que eu.

No instante em que compartilhei a façanha, ele ficou contente pela minha conquista e, ao pegar o serzinho rechonchudo com cuidado nas mãos, lançou a seguinte revelação:

— Isso não é fêmea. É macho!

— Como você pode ter certeza? — perguntei duvidando.

— Veja só! — Então ele pegou um de seus hamsters e o colocou em uma bacia junto ao meu. Imediatamente os dois começaram a brigar.

Fiquei desesperado ao ver aquilo e o implorei para que findasse aquela demonstração cruel e massacrante para ambos.

Logo ele os separou e prosseguiu:

— Se fosse fêmea, eles não brigariam assim. Mas se você ainda tem dúvidas, vamos levá-lo ao meu tio, pois ele vai averiguar.

O homem tinha uma loja de animais, porém não sei se era veterinário. Em cidades pequenas é comum ter dessas coisas. 

Assim que chegamos com a incógnita, passou-se algum tempo de observação para que o adulto desse o veredito.

— É macho!

— Pois bem; então preciso pensar em um nome de menino agora.

Agradeci os dois pela ajuda e de lá fui direto para casa. 

Contei a descoberta. Nenhuma surpresa. Pus a gaiolinha na mesa e o observei com calma. 

"Que gracinha, meu Deus!" Ninguém poderia descrever o quão feliz eu estava. Era a primeira noite que iria dormir em casa com meu bichinho de estimação.

Pistel: Uma HistóriaOnde histórias criam vida. Descubra agora