71. Hospital

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Hoje fazem quatro dias que estou internada no hospital e foram os dias mais longos da minha vida.

Infelizmente não consegui segurar o meu bebê, minha terapeuta já disse para eu não me referir ao aborto assim, ela diz que dessa forma eu coloco a culpa em mim, tenho medo de dizer a ela que é exatamente assim que eu me sinto.

Todos os dias recebo muitas visitas, médicos amigos do meu pai, enfermeiras, a terapeuta que meu pai contratou... Meus pais vem aqui todos os dias, minha mãe inclusive trouxe vários livros, meu notebook e até mesmo uma boneca de quando eu era criança, acredito que tenha um significado por trás disso, mesmo ela negando.

O reitor e os dois professores que me ajudaram no dia do ocorrido estiveram aqui também dizendo que estão sendo tomadas as medidas necessárias para punir o responsável e os alunos que estavam juntos no dia. Meu pai já disse que os advogados dele estão resolvendo isso, mas eles insistiram que isso não é necessário. Acho que eles querem evitar mais escândalos, já que saiu nas mídias locais materiais contando sobre o dia, inclusive com fotos e vídeos. Todos acham estranho o fato dos alunos terem se mobilizado e feito algo tão grande sem sequer algum professor ter visto. Meu pai parece irredutível.

Matheus e Amanda vem aqui todos os dias também, inclusive ontem passaram a tarde inteira aqui, minha mãe também deve estar por trás disso. Eles tentam me divertir e as vezes isso até da algum resultado.

Christian e Mauro não vieram aqui, mas me ligaram. Foi bom ver o rostinho deles mesmo por uma tela de celular. Diariamente eles mandam foto do meu cachorrinho. Não contei a ninguém, mas chorei de saudades dele.

A pessoa que eu queria que me visitasse não apareceu aqui, sequer me ligou. Desde o primeiro dia espero Lucas me dar algum sinal de vida, mas ele parece estar distante. Ontem mandei uma mensagem perguntando se ele estava bem e ele sequer viu. Meu pai não parava de perguntar sobre ele, eu sempre desconversava, mas ontem ele ouviu eu reclamando com a terapeuta e propôs que eu voltasse pra casa caso ele não apareça. Acho que vou aceitar.

Hoje eu tomei café da manhã e a terapeuta esteve aqui conversando comigo, agora sentei na poltrona que fica próxima a janela e estou olhando o incrível movimento do estacionamento do hospital. Não posso negar que senti triste quando vi um casal saindo com um bebê recém nascido nos braços, virei o rosto e fingi que não tinha visto.

- Oi filha, meu plantão acabou. Eu vou pra casa e mais tarde sua mãe e eu vamos vir visita-la. - Meu pai disse entrando no quarto.

- Tudo bem. - Respondi olhando pela janela.

- O que você está olhando? - Ele disse se aproximando da janela.

- Os pacientes que estão indo embora. - Respondi.

- Seu médico disse que se você continuar bem poderá receber alta amanhã. - Ele disse.

- Continuar bem significa sem crises de choro? - O olhei.

- Você está saudável filha. - Ele sorriu de maneira sutil confirmando o que questionei.

- Eu estou me sentindo ótima. - Sorri sem vontade.

- Fico feliz. - Ele disse e passou a mão nos meus cabelos. - Já pensou na proposta que eu fiz?

- Sim, se o Lucas não aparecer aqui até amanhã a tarde é porque ele não quer mais e eu volto pra casa. - Admitir isso em voz alta é mais doloroso do que parece.

- Espero que ele venha. - Meu pai disse e eu sabia que ele estava mentindo.

- Eu também. - Voltei minha atenção para janela.

Minutos depois do meu pai sair Sofia apareceu com meu almoço. Todos os dias ela se gaba por ter conseguido roubar uma maçã para me trazer. O fato dela me conhecer desde criança faz eu me sentir confortável quando ela aparece aqui.

Além das semelhanças - T3ddyOnde histórias criam vida. Descubra agora