Capítulo 7

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Às vezes Tommy se perguntava se bebia demais. Na maioria das vezes, tinha certeza que não. Em alguns momentos, se lembrava que sua mãe era dependente química e que isso podia ser hereditário. Normalmente, se lembrava que raramente ficava de fato bêbado, que não bebia para ficar doido, e sim porque apreciava o sabor, e que era apenas um jovem de bom gosto. Não tinha feito um curso de degustação de vinhos em Paris à toa. Aliás, não gastava uma fortuna em vinhos caros por nada. Para ficar bêbado, qualquer vodca barata servia.

Tommy abriu a garrafa para ela respirar e a colocou sobre a mesa, ao lado das pastinhas que ele sabia que sobrariam todas. Mexeu nas luzes para criar um ambiente mais aconchegante, se perguntando por que estava se dando aquele trabalho todo, já que não era nem mesmo um encontro. Mas gostava de impressionar. Era fã de um espetáculo. Mesmo que para plateia reduzida.

O interfone tocou e ele liberou a entrada das suas amigas. Poucos minutos depois, Mia e Ella, duas enormes modelos internacionais, uma loira, a outra morena, ambas alguns centímetros mais altas que ele e quase impossivelmente magras, entraram no apartamento.

-Tommy! - Mia o abraçou com a mão livre, pois com a outra segurava uma sacola de delicatessen. - Olha quem conseguiu dois segundos na agenda para a gente?

-Ei! - Ella protestou. - Preciso pagar as minhas contas! Só como tomate, mas são tomates caros! Se não fosse isso, todos os minutos da minha agenda seriam de vocês.

-Eu gosto de tomates caros – Mia falou, tirando o conteúdo de sua sacola (dois saquinhos de cenourinhas e um tupperware com alguma pasta) e o colocando sobre a mesa. - Sou uma pobre garota de uma cidade de pescadores que adora tomate holandês.

-Nós vamos passar a noite falando de tomate? Porque se formos, eu aproveito que vocês estão perto da porta e já toco as duas daqui – Tommy disse.

-Ok, parei – Ella disse e se sentou no sofá, tirando os sapatos e encolhendo as pernas embaixo do corpo. - Vamos deixar seus tomates em paz, Tommy.

-Ella, como você faz tomate parecer pornográfico? - Mia se sentou em frente à amiga, em uma poltrona.

-Tudo com a Ella soa pornográfico – Tommy respondeu.

Ella o olhou com ar de fingida inocência e afronta, o que, por incrível que pudesse parecer, também era um pouco sujo. As duas, melhores amigas, eram diferentes como noite e dia. A noite sombria seria a Ella, claro. Mia parecia e era um anjo, sem a bondade irritante isso-não-existe-na-vida-real da Angie.

-E além disso – Tommy continuou, pegando três taças. – Meus tomates não são para vocês.

-Não fala assim que eu me magoo fácil – Ella fez um beicinho sexy.

-Ah, eu não vou beber – Mia interrompeu o assunto e Tommy parou com as taças ainda vazias na mão. Ele, sim, parecia magoado de verdade.

-Então... – Mia olhou de um ao outro, sorridente, e soltou, junto com um gritinho: - Eu vou ter um bebê!

Mia abriu os braços, pronta para ser abraçada, enquanto Ella e Tommy ficavam boquiabertos, encarando-a. Quem quebrou a apatia, embora continuasse pasma, foi Ella:

-Do Dave?

-Claro que é do Dave! – Mia abaixou um pouco os braços, cansada. – De quem mais seria?

-E como foi? Porque você sabe, amiga, estamos aqui para o que você precisar – Tommy largou as taças em cima da mesa, sentou-se ao seu lado e apertou solidariamente o seu ombro.

-Mas como ele ia reagir, vocês estão malucos? Nós somos casados, planejamos, eu fiquei grávida, estamos superfelizes e vocês estão me matando de medo.

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