— Mamãe! Mamãe!
— Calma, Frank. Está tudo bem! Abra seus olhos — respondeu uma voz bem conhecida.
Frank, com uma enxaqueca fora do normal, forçou ao máximo para abrir seus olhos e ver a expressão de desespero de Barbara tentando acudi-lo, enquanto ouvia sons de uma guerra ainda não terminada. Entre gritos e o tilintar das espadas, o garoto tentou se levantar e entender onde realmente estava, quando se deu conta de que Jason e Walter travavam uma luta mortal com aquele ser asqueroso em forma de polvo humanoide.
— Bah, o que aconteceu? Estamos de volta na caverna?
— Nunca saímos dessa maldita caverna, Frank. Ao que parece, essa criatura é um devorador de mentes e quando você tentou me defender, ele o atacou, grudando em seu rosto aqueles quatro tentáculos monstruosos que estão presos em sua cabeça. Mexeu muito com minha mente e a de seu avô, mas nada comparado ao que fez contigo. Você esteve imerso em um pesadelo por alguns bons minutos e Deus sabe mais o que aconteceria conosco se Jason e nossos amigos não tivessem aparecido a tempo. Fui a primeira a acordar e tentei de todas as maneiras te trazer de volta, mas você não reagia, então fui ver como estava Walter. Logo seu avô conseguiu sair do transe e se juntou a Jason para dar fim à criatura.
— Que notícia maravilhosa! — gritou Frank, levantando em um pulo, esquecendo completamente a dor de cabeça.
— Como assim, maravilhosa? Você não ouviu o que te falei?
— Bah, você não tem ideia como foi viver em uma outra realidade. Estou mais feliz do que nunca de ter voltado e estar com vocês nessa aventura. Vamos conseguir, juntos! — disse Frank tacando um beijo na boca da garota e correndo em direção aos outros, deixando-a confusa com essa alegria inesperada.
Barbara correu também junto de seus amigos, lançando seu chicote contra as criaturas que se aproximavam.
— Vamos voltar para a outra sala — ordenou Jason, resgatando seus amigos. — Isso foi apenas uma distração para que fossem encurralados e mortos por essa criatura maligna. Esse portal é falso. As criaturas estão vindo de outro lugar! Ah, e é bom te ver de volta, garoto. Que bom que ainda está vivo!
O grupo concordou e tentaram recuar em passos lentos, travando uma batalha com quem se aproximasse. Ao atravessarem as duas rochas que limitavam o acesso para o outro lado, viram uma galeria forrada de criaturas asquerosas esperando a presença dos guerreiros para uma luta mortal. Aquanator, já cansado de esperar pela boa vontade de seu exército em dar um fim neles, quis se juntar às bestas, mas foi contido por Mark.
— Meu senhor, para que gastará suas energias com esses vermes? Deixe que os malditos seres os cansem e esgotem suas energias, assim, quando for entrar nessa batalha, não terá se desgastado à toa. Além do mais, me diverte ver esses humanos morrerem aos poucos.
— Realmente em seu coração só tem maldade. Fiz bem em recrutá-lo. Tem razão, jovem aprendiz. Vamos assistir um pouco mais e nos divertir vendo esses fracotes terem um pouco de trabalho.
Havia mais de oitenta criaturas naquele lugar aterrorizante. A caverna se tornaria suas catacumbas se não fizessem algo logo, mas cada vez mais o exército de criaturas da escuridão aumentava. Pareciam brotar da terra, doidos para cravarem seus dentes em pele humana. Quatro deles pegaram Emily pelos braços, arrastando a garota para longe, quando ouviram próximos a eles um grito vindo de um jovem pulmão:
— Larguem a Emmy, seus covardes! — bradou Luiz, vindo atrás dos quatro com uma espada em suas mãos. Duelou contra os monstros horripilantes para salvar a garota do jeito que pôde.
Suas habilidades de cavernismo foram úteis nessa batalha mortal, conseguindo com proeza se esquivar dos golpes desferidos por espadas e facas perfeitamente afiadas e algumas certamente envenenadas. Contra-atacava os monstrengos nojentos, quando sentiu um líquido quente e espesso escorrer de sua coxa direita. A lâmina de uma das criaturas atingiu Luiz, que sentiu na hora a dor do ataque e caiu no chão se contorcendo.
O Peixomem que o acertou levantou novamente a espada para acabar com o sofrimento do garoto e lançar o golpe final, quando foi impedido pelo barulho que a lâmina de Jason fez ao se chocar com a espada do monstro, seguindo de um golpe contra a cabeça, derrubando a criatura ao chão sem vida. Emmy se soltou dos braços dos outros e se jogou para acudir Luiz, apertando seu ferimento para controlar o fluxo de sangue que saía do local onde a arma maligna o havia perfurado.
Jason mandou que a garota encostasse na parede atrás deles e cuidasse do menino, enquanto enfrentava os outros. Mais criaturas apareceram ao redor de Jason, encurralando o chefe contra a parede calcária. Walter tentou ajudá-lo, mas estava batalhando com muitos outros seres sem conseguir sair do lugar, enquanto Frank, Barbara e Pedro tentavam sobreviver apenas com as espadas que empunhavam.
Cada vez mais Skums cercavam o chefe de Guam até este não resistir e cair ao chão. Uma montanha de homens-peixes subiu sobre seu corpo, evitando sua fuga, esperando que o guerreiro morresse asfixiado sem ar para respirar. Jason se debatia, tentava sair de todas as maneiras, mas a quantidade de corpos acima de sua cabeça era enorme e, por mais que tentasse, não tinha força suficiente para retirá-los.
O homem foi ficando cada vez mais sem ar, sem energia e com o corpo esgotado de cansaço. Alguns minutos se passaram sem nenhum sinal de vida do chefe Chamorro e seus amigos tentavam de todas as maneiras se aproximar daquela cova em que se encontrava, mas eram a todo momento ameaçados por seres repugnantes tentando os atacar.
O fim de Jason estava anunciado. Emily largou Luiz para tentar salvar seu pai, sendo agarrada pelo garoto franzino.
— Onde você vai, Emmy? Está louca?
— Meu pai irá morrer. Tenho que ajudá-lo.
— Você viu quantas criaturas tem em cima dele? Infelizmente, não temos o que fazer. Se for lá, certamente irá morrer.
— Se ficar aqui vamos morrer de qualquer jeito, Lú. Ao menos, vou tentar salvá-lo. Ele faria o mesmo por todos nós.
— Tem razão, Emmy. Então, eu vou com você — disse o menino que quase não se continha em pé.
Porém, enquanto se levantava com a ajuda de Emily, que já agitava seu chicote freneticamente, uma luz foi vista no núcleo daquela avalanche de aberrações e, com uma grande explosão, dezenas de Peixomens voaram para longe de Jason. As pessoas ao redor, assim como o elemental e Mark, não acreditaram no que haviam presenciado. Quem prestava atenção, conseguia reparar que Jason não estava mais sozinho, pois um contorno brilhante ao redor de seu corpo surgira como se um espírito estivesse por trás dele, lhe compartilhando sua energia divina.
O semblante dessa aura iluminada parecia mais alto e mais forte que o próprio guerreiro, e com uma imponência que não se vê por aí. O homem que até poucos segundos antes estava totalmente debilitado, se levantou e começou a desferir socos atirando para longe seus adversários. Foi então que se deu conta que o chefe ancestral viera de longe para ajudar seu descendente direto, guerreiro e chefe da tribo que tanto lhe dava orgulho. Jason havia incorporado o espírito do grande Gadao.
O chefe se voltou para Emily, para ver se Luiz estava melhor, e reparou que sua filha tinha feito um torniquete com a camisa do garoto para evitar o sangramento contínuo. Ela percebeu o brilho que seu pai emanava, iluminando ainda mais boa parte da caverna e sorriu convicta de que ele era digno de tamanha proeza.
A batalha que se estendeu foi épica, de um lado guerreiros lutando por uma causa justa e, do outro, seres malignos que tentavam de todas as maneiras matar seus inimigos e roubar o talismã preso no pescoço de Walter exigido por Aquanator, além de, claro, devorar a carne deles. Mesmo com a ajuda espiritual, a luta não foi fácil, pois a cada segundo surgiam mais e mais criaturas que pareciam se multiplicar através de magia, fazendo-os recuar a cada onda de seres que se aproximavam.