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A tal de Isabelle, sim, esse era o nome dela, parou ao ouvir o que seu irmão dissera. Naquele momento, seus maravilhosos olhos castanhos se iluminaram com uma espécie de brilho que Magnus conhecia muito bem. Entusiasmo, esperança, curiosidade, paixão, tudo isso numa única luz que cruzou sua expressão facial. Ela piscou, os cílios tocando as maçãs do rosto e as sobrancelhas franzidas de seriedade.

— Você acha que viu uma sereia?

Magnus se encolheu no mesmo instante, sentindo que seu corpo inteirinho ia se desfazer todo em areia. Bem que poderia ter acontecido, se a voz da garota de cabelos negros não fosse tranquilizadora. Ela era bela e forte como Catarina, era evidente que também tinha suas próprias opiniões sobre qualquer coisa que pudesse escolher ter. Viviam lhe dizendo que os humanos são maus e depravados. A razão de seus pesadelos da infância, em que procurava segurar a mão de uma de suas irmãs para lhe dizer que estava tudo bem, que nenhum ser humano o pegaria.

— Sereias não existem, Izzy.

Alexander, o homem que aqueceu o coraçãozinho de Magnus, disse um tanto cético. A irmã, em resposta, pareceu murchar de tristeza, entretanto ela só demonstrou isso com uma careta para ele. Alexander, Alexander, Magnus cantarolou mentalmente, passeando os dedinhos pela superfície da rocha enquanto observava aquele anjo com uma sensação de conforto se espalhando pelo seu corpo. Imperceptivelmente levantou a cauda lilás, cheia de escamas que cintilavam ao Sol.

— Pois eu já vi uma sereia — disse Isabelle, cruzando os braços sobre o biquini que usava. Era esquisito. Ninguém usava aquele acessório lá embaixo, no Reino do Mar. Na realidade, Magnus estava mais fascinado com seu chapéu. Era um chapéu de praia comum, mas ele queria tanto usar que de vez em quando esticava a mão para tocar o ar, fingindo que alcançaria o chapéu da garota.

— Você viu um leão marinho, isso sim.

Alec a encarou, os profundos olhos azuis fitando a irmã como uma tempestade marítima. Magnus poderia se afogar naquela tempestade que ficaria tudo bem para ele. Estava tudo ótimo para ele.
Catarina sempre lhe dissera que os humanos eram seres cruéis e hostis, mas Magnus os achava adoráveis... vendo-os assim de perto, eles não pareciam os seres assustadores que passou a vida aprendendo a temer.

— Não vi leão marinho nenhum. A sereia era linda. Ela tinha cabelos ruivos como o pôr do Sol e... bem, isso não importa. Para que você acha que estou estudando biologia marinha? Sei que elas estão por aí, em algum lugar. Neste mar, Alec.

— Você acredite nas mitologias que quiser. Quanto a mim...

Ele se virou novamente para o oceano, os braços apoiados na borda do convés. Magnus tremia, no cantinho da extremidade da rocha, enquanto a maré subia e descia, apenas olhando para ele. Queria ser carregado por ele, queria se entregar todinho a ele. Queria ser dele, pertencer a ele, somente a ele. Essas necessidades o assustaram.

— Eu só acredito vendo.

Magnus sentiu toda aquela alegria se esvair aos poucos. A felicidade de chegar ao mundo humano, de ter rompido a superfície. De ter realizado seu maior desejo... não era o suficiente.
Em breve ele teria que voltar. E estaria prometido a alguém que não amava. Se pudesse ser humano, como aqueles humanos, poderia se esconder na terra. Não ter medo de seu pai, ou de suas obrigações.

O rapaz loiro vem até a lateral do barco, entregando ao amigo uma coisinha vermelha que reluz ao Sol.

— Seu refrigerante — diz Jace, encarando o mar.

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Ele também parece estar me procurando, pensou Magnus, aterrorizado com a possibilidade. E se me viram mesmo?

Uma musiquinha engraçada começa a tocar, mas ela logo foi silenciada quando Isabelle deslizou o indicador sobre a superfície de um objeto desconhecido. Seja lá o que fosse aquilo, ela chamou de mãe.

— Mamãe está ligando. Temos que voltar, os Blackthorn chegam hoje à noite.

Jace virou a cabeça repentinamente, parecendo aborrecido com as palavras dela.

— Os Blackthorn nunca chegam quando dizem que vão chegar. É provável que só estejam aqui depois de amanhã.

Isabelle levou uma das mãos à cintura, engolindo um ruído irritado enquanto encarava o aparelho estranho.

— Ótimo. E eles vão trazer aquela Zara Dearborn também. Missão do pai dela, de novo, com aquelas caçadas idiotas dele.

Alec se virou com as mãos na borda do barco enquanto a brisa marítima bagunçava seus cabelos negros já desgrenhados. Neste momento, Magnus se inclinou mais um pouquinho na rocha, admirando os músculos de seus braços fortes e o volume sob sua calça azul-marinho. Ele devia ser bem dotado, embora Magnus não soubesse bem como devia ser... aquela coisa humana.

— Também não gosto dela. Nem um pouco. Mas você sabe o que vai acontecer se mamãe ouvir você falando assim. E a Sra. Penhallow?

— Isso ainda não sabemos — Isabelle deu de ombros. — Ela não confirmou nada.

— Que droga — Jace murmurou, passando a mão pelos cabelos loiros que recaíram sobre os seus olhos dourados, agora escurecidos como um dia que finda. Ele de repente vira seu rosto para o brilho dourado do Sol, cerrando as sobrancelhas com seriedade amarga. — Ei... vocês estão vendo isso?

Magnus olhou para onde o humano encarava, sentindo as algas marinhas roçando seu braço levemente. A maré começava a subir, empilhando onda após onda, e coisas obscuras cobriam a luz reconfortante do Sol. Nuvens, disse-lhe Catarina uma vez. Mas ela dissera que nuvens eram brancas. Estas eram nuvens de tempestade.

Não, por favor, não.

Magnus mergulhou quase inteiramente, apenas os olhos de fora da água, temendo que a fúria marítima pusesse um fim trágico àqueles seres humanos. Uma necessidade incalculável de protegê-los tomou conta de seu coração. Mas e se algum deles o visse? Não podia controlar a ira do oceano, apenas o Rei dos Mares tem acesso a este poder. Mesmo assim...

Vou mantê-los seguros, assustou-se com o próprio pensamento repentinamente. Seu juízo lhe dizia uma coisa, e seu coração dizia outra completamente diferente. Não que isso fosse alguma novidade. Nada de ruim vai lhes acontecer.

— É uma tempestade — disse Alec, encarando o mar com a mesma fúria das ondas quebrando contra o barco. Ele permaneceu absolutamente sério, enquanto Jace corria pelo convés para fazer algo que os humanos chamavam de içar velas, seja lá o que fosse isso. O de cabelos negros caminhou decididamente em direção ao leme (era como Isabelle tinha chamado) e tomou o comando deste. Talvez fosse para guiar o barco contra a tempestade.

— Não, não...

Magnus mordeu o dedo indicador, sentindo a pressão arder detrás de seus olhos castanhos esverdeados. Se suas irmãs pudessem lhe ver agora...

Chorar pelos humanos?, diria Nia, sem maldade, mas com decepção.

Qual é o seu problema, Magnus? Chorar por aqueles que tiraram a vida de nossa mãe?,  diria Polímia, agora sim, com maldade.

The Little Mermaid ; malecOnde histórias criam vida. Descubra agora