XIII

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Sabe aquele momento em que seu colega de apartamento gato chega bem perto de você e pede, sedutoramente, pra você se despir?

Falando desse jeito, até soava como algo bom, mas não era, não mesmo.

Não se o supracitado colega de apartamento era Noah Urrea, o cara com mais probabilidade de ter uma doença sexualmente transmissível de tanto que transava por aí. E, principalmente, se a pessoa que ele queria ver de biquíni tinha um namorado. Um namorado muito lindo, muito bom, muito inteligente e apaixonado. Que estava, no momento, dopado em casa, mas esse não era o ponto.

O ponto de toda essa complicação mental era: eu não ia ficar só de biquíni naquela noite fria de outono só porque o Noah queria dar uma checada no meu corpo.

Não que ele realmente quisesse dar uma checada no meu corpo porque me achava gostosa ou algo assim, era só para me deixar envergonhada.

Provavelmente.

– Anda, tira, Sina – ele falou, colocando as mãos na frente do meu sobretudo, fazendo-me saltar para trás, para longe dele.

– Não! – falei, quase gritando.

Ele me deu um sorrisinho. Aquele sorrisinho. Só com um canto dos lábios, que dizia, mais do que qualquer palavra, que ele estava tendo pensamentos impuros. Muito, muito impuros. E queria colocar todos em prática comigo.

– Nem ouse – falei, quando percebi o que se passava por aquela cabeça maquiavélica.

Eu comecei dando alguns passinhos para trás, mas saí correndo dois segundos antes de perceber que ele realmente ia fazer aquilo. Sabia que ele estava bem atrás de mim, então corri de verdade, não daquele jeito que algumas meninas correm quando querem que o cara as alcance. Eu definitivamente não queria ser alcançada!

Pensei em gritar por ajuda, mas não seria muito digno. Não que correr por aí vestida de Princesa Leia versão escrava fosse muito digno, de qualquer jeito. Não que eu achasse que alguém realmente fosse me ajudar. Ninguém nem estava olhando para nós. Estavam curtindo suas bebidas, conversando, alguns até dançavam ao som de uma música que vinha da casa.

E, apesar de eu ser rápida e ter pernas tão longas quanto as do Urrea, ele deu um jeito de ser mais rápido e me agarrou pelo braço quando eu estava tentando escapar pela lateral da casa. Fui jogada um pouco descuidadamente contra a parede e me vi presa entre ela e Noah, que estava bem na minha frente, ainda exibindo aquele sorriso tão errado. Seus olhos, mais do que o sorriso, mostravam que ele estava tendo o tempo da sua vida. E era oh-tão-bom saber que ele me achava divertida.

– Acabou de me provar que você tem 12 anos? – perguntei, pensando em empurrá-lo para tirá-lo de perto de mim, mas não queria colocar minhas mãos em nenhuma parte do seu corpo, então mantive-as apertadas contra os lados do meu corpo, fitando o homem na minha frente de queixo erguido.

– Tenho 24 anos e quem começou a correr foi você, princesa – ele respondeu, apoiando as mãos dos dois lados da minha cabeça. E, apesar de saber que o princesa era cortesia da fantasia, não tive como impedir um pequeno arrepio ao ouvi-lo me chamar assim. – Agora, tira a roupa.

Bufei, rolando os olhos. Qual era o problema daquele cara? Ao mesmo tempo em que era totalmente Noah, ele não parecia muito...ele mesmo.

– Ficou louco? – perguntei, apertando os braços e a roupa contra meu corpo, como uma virgem protegendo sua virtude.

Péssima analogia.

– Louco só porque quero ver sua fantasia? – ele arqueou uma sobrancelha e ainda deu um jeito de parecer inocente.

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Como se eu fosse acreditar.

– Se você tivesse algo na cabeça além de cabelo, perceberia que eu não posso usar só um biquíni do lado de fora no outono – tentei convencê-lo com um argumento racional. – Vou congelar!

Noah riu e se aproximou ainda mais de mim, deslizando uma das mãos em minha cintura até alcançar a parte de baixo das minhas costas, puxando-me contra ele delicadamente.

– Não se preocupa, eu posso te esquentar.

Eu pensei que devia rolar os olhos e chamá-lo de idiota. Ou fazer alguma piadinha. Qualquer coisa. Qualquer reação que mostrasse que eu não o levava a sério, porque eu não levava. Ele era ridiculamente irresponsável e nunca pensava antes de falar ou dizer algo. Pelo menos não quando conversava comigo. E eu havia aprendido a fazer pouco caso de suas provocações – e conseguia na maior parte do tempo.

Mas não naquele momento. Naquele momento, eu só consegui ficar nervosa. Eu só consegui reparar que ele estava perto demais. Eu só consegui pensar que, se fosse Joel quem estivesse me cercando daquele jeito, eu sentiria sua respiração no topo da minha cabeça, mas como Noah tinha minha altura e estava bem na minha frente, sua respiração quente tocava meus lábios como um beijo. Um beijo que não precisava de pele encostando em pele. Era apenas calor, apenas ar úmido, apenas proximidade.

Ele estava perto demais. Perto demais.

– Me larga – falei, virando o rosto para não sentir mais sua respiração em meus lábios. – Me larga, por favor.

Ele não me largou, mas também não se aproximou mais. Para falar a verdade, ele não se mexeu, apenas disse, numa voz meio brincalhona que, de certo modo, não combinava com sua linguagem corporal.

– Tá excitada, hein?

Levou aproximadamente quinze segundos para eu perceber que ele estava citando Han Solo. Levou mais quinze para perceber que eu, sem querer, havia citado a Princesa Leia. Sorri, sentindo o desconforto derreter, sabendo que ele tinha feito aquilo de propósito. Eu não sabia como sabia, mas Noah, de algum modo, havia sentido meu nervosismo e estava tentando fazer o clima voltar a ser leve e brincalhão.

Ele ganhou muitos pontos por isso. Embora ainda não tivesse saído do saldo negativo. Algumas coisas certas não iriam compensar por todas as idiotas.

– Capitão, ser apertada por você não é o bastante pra me deixar excitada – citei. Eu nem sabia que lembrava o diálogo de cabeça, a frase simplesmente surgiu como se sempre estivesse estado lá, só precisava de alguém para me ajudar a lembrar.

Ele riu e eu ousei dar uma olhada para ele, o que valeu a pena, porque sua expressão divertida e surpresa era linda.

– Desculpe querida, não temos tempo pra mais nada.

Foi minha vez de rir. Céus, nós deveríamos soar nerds, falando o diálogo entre Han Solo e Leia, mas soava meio... sexy?

Será que eu tinha tomado um gole daquele suco que Noah fez pro Joel? Será que não era só calmante que tinha nele? Porque alucinação era a única resposta para o rumo que meus pensamentos estavam tomando.

E meus pensamentos seguiam na direção dos lábios do homem a minha frente. Pareciam tão macios, tão rosados, o inferior ligeiramente maior que o superior, curvados para cima num sorriso que só mostrava um pouquinho dos dentes. E tão, tão perto dos meus. Eu voltei a encará-lo e, novamente, sentia sua respiração na minha pele. Nossos narizes quase se tocavam e seus olhos, hoje suaves como névoa, pareciam perdidos nos meus.

Talvez os meus estivessem como os dele.

E eu me perguntei, pela primeira vez seriamente, como seria beijá-lo. Eu já o havia visto beijar tantas mulheres, já havia estado perto o suficiente para beijá-lo tantas vezes...e nunca realmente havia sentido vontade de fechar aqueles últimos milímetros e tocar seus lábios com os meus.

Perfectly Wrong | NoartOnde histórias criam vida. Descubra agora