CAPÍTULO DEZ

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O número de identificação de Jade permanece brilhando no monitor enquanto meus pensamentos se perdem nas informações contidas na esfera de memória.

Há um misto de confusão e desespero que se funde com o medo, porque maior do que o temor que estou sentindo, é a dúvida sobre o que fazer com essa informação. Eu deveria contar a Jade a respeito do alerta que recebi de Victor?

Impossibilitada de pensar em algo produtivo, continuo lendo as listas que flutuam através do holograma. São dezenas de nomes que seguem um padrão de classificação de acordo com o tipo de projeto e os benefícios que precisam ser comprovados.

Meus olhos correm até encontrar o nome de Ângela, que eu vi sendo levada para o Delete. Segundo o que consta na lista, seu projeto era realmente inovador. Consistia em um estudo avançado sobre a possível existência de algum resquício do Aquífero Guarani no lado sul de Brázar. A ideia era bastante simples: cavar poços fundos o suficiente para que pudessem ser enviados robôs analistas capazes de registrar imagens e colher informações sobre a possibilidade de haver água abaixo da superfície.

A lista continua por nomes e mais nomes, mas apenas um me interessa. Apenas um número de identificação. Finalmente depois de muito procurar, encontro o que queria.

O projeto a qual Jade registrou trás exatamente a mesma premissa do projeto de Ângela, entretanto, leva a coisa toda com as sanguessugas mais a sério. Jade teve o cuidado de analisar dados estatísticos de anos atrás e atualizá-los formando uma rede de informações precisas sobre os pontos onde se encontram os chamados "volumes" de água, podendo assim, traçar uma espécie de trilha hídrica utilizando as sanguessugas como guias. Só agora consigo entender o que Jade quis expor ao dizer que existem coisas que só sobrevivem onde há umidade. É uma proposta ousada e bem complexa, mas Jade se saiu bem. A questão agora é o porquê de ela estar na lista dos futuros deletados?

Meu cérebro refaz essa pergunta a todo momento e tenho medo de já saber a resposta. Que talvez minha mente já tenha compilado todas as coincidências até agora e as transformado em alguma espécie de código onde a terrível causa de tantos Deletes possa ser explicada.

Entretanto, como estratégia de defesa contra os pensamentos que invadem minha cabeça, busco alternativas para crer que o que estou pensando é nada mais que uma insensatez, afinal, que plano estaria por trás de acabar com projetos que poderiam de alguma forma dar alguma solução à Brázar? Não! Simplesmente não há nada que viabilize uma conspiração.

Tento convencer a mim mesma que talvez Jade esteja na lista apenas por um torpe engano. É claro que foi isso.

Quando o sinal em meu dispositivo auricular indica que estou atrasada para minhas atividades no Centro de Análises, decido devolver a esfera de memória no mesmo lugar que a encontrei.

Minha mão esquerda se estica para tocar o ponto luminoso que pisca no canto inferior direito do holograma para desligá-lo, mas não o faço porque nesse exato momento, como se estivesse programada, uma janela pequenina se abre e começa a piscar rapidamente na tela. Posso não ser especialista, mas sei que se trata de uma mensagem porque recebi uma coisa semelhante a essa no dia em que meu projeto foi avaliado.

No entanto, dessa vez não é um aviso indicando que uma equipe de monitores está prestes a avaliar um projeto, pelo contrário, a mensagem escrita na caixa de diálogo, indica que nesse exato momento, em algum lugar do Centro de Análises, um Prodígio acaba de ser deletado.

No instante em que o motivo do delete aparece piscando na tela, ouço a voz clara e grave de Victor ressoando em minha mente, dizendo que talvez eu tivesse descoberto uma solução para algo que não deveria ser solucionado. Não há mais como negar.

PRODÍGIO - EM REVISÃOWhere stories live. Discover now