23.10.2019 - 12:00
Los Angeles, CalifórniaAny Gabrielly
— Feliz aniversário, Sofyyyyyy! — dou um abraço apertado na garota assim que a encontro no corredor da escola. Como se não bastasse, giramos no lugar, balançando de um lado para o outro, rindo como as bobas que somos, até ficarmos meio tontas.
— Obrigada, Anyyyyy! — ela diz, com os olhos brilhando e um sorriso radiante quando nos soltamos.
Passado o momento, me afasto apenas o suficiente para que os outros também possam parabenizá-la. Lamar é o primeiro, seguido por Hina, Joalin e Shiv, com quem temos almoçado ultimamente. Josh é o último, e sorrio ao notar que, apesar de seu jeito mais reservado, abraça a loira calorosamente antes de seguirmos todos para o refeitório. Nós dois somos os últimos a entrar na fila.
— Aqueles são a Sabina e o Noah? — minha irmã pergunta logo a minha frente. Acompanho seu olhar e percebo que ele recai sobre a mesa onde Bailey, Krystian, Sina e Heyoon parecem se divertir enquanto os dois citados explicam alguma coisa.
— São. — respondo. Então fito Josh, atrás de mim. — Eles gostaram mesmo desse quarteto, não é? — ele dá de ombros, parecendo indiferente.
— É, agora não se desgrudam mais.
Volto a olhar o grupo, reparando a interação. É quando uma lembrança me ocorre e, com ela, um pensamento que culmina em uma certa dúvida. Me aproximo mais do garoto, apenas o suficiente para que seja o único a me ouvir.
— Você não me disse o que fez com que o Noah parasse na delegacia no dia em que precisou sair correndo do nosso encontro. Essas amizades... elas têm algo a ver com isso? — sussurro.
— O quê? Não! — ele arregala os olhos, aparentemente surpreso por minha fala, mas ri. — Quer dizer, não necessariamente.
— Isso parece um sim. — aponto, me servindo da comida conforme a fila avança. Hoje tem pizza!
— Sim, mas eu disse "não".
— Você disse "não necessariamente". É diferente. É quase um mais ou menos, o que significa que não estou totalmente errada.
— Nem totalmente certa.
— Josh? — reviro os olhos, ciente de que ele está me enrolando.
— Any? — o loiro imita minha expressão, porém, de um jeito cômico. Dou um leve tapa em seu ombro, rindo.
— Por que não me conta os detalhes? Não é como se eu fosse espalhar a fofoca por aí. Sabe que pode confiar em mim.
— Sei, minha linda, mas é que esse assunto, além de já ter sido encerrado, não diz respeito a mim. É coisa do Noah, algo que ele só quer esquecer, entende? — diz, me olhando furtivamente enquanto pega seu chá gelado.
— Ok, esse é o jeito mais fofo que alguém já escolheu pra dizer que algo não é da minha conta e é só por isso que vou parar de te atormentar no momento, mas depois...
— Depois vamos conversar sobre coisas que realmente importam. Ou melhor, fazer essas coisas... — ele me dá uma piscadela e depois se inclina para beijar meu rosto.
Devidamente servidos, seguimos os outros rumo à nossa mesa habitual, Josh e eu um pouco afastados dos demais, ainda cochichando.
— Que coisas? — questiono, torcendo para que tenhamos conceitos parecidos de coisas importantes, mas me censurando logo em seguida por notar que minha mente está prestes a produzir pensamentos inapropriados para o horário de almoço.
— As que faremos essa noite, por exemplo.
— Essa noite? — deixo minha bandeja sobre a mesa, ridiculamente interessada no que ele pode estar insinuando.
Joshua costuma ser muito contido em suas ações. Parece estar sempre se policiando para não avançar certos limites, apesar de ainda não termos tido a oportunidade de avançá-los, de fato. Sendo sincera, confesso que adoraria saber do que ele é capaz, no sentido mais malicioso da palavra. Tenho pensado seriamente em intensificar as coisas, em provocá-lo só para ver o que acontece. Admito que adoraria vê-lo perdendo o controle. Puxo uma cadeira e me sento ao lado direito de Lamar. O loiro ocupa o espaço livre ao meu lado.
— Sim, na festa da Sofya. Caso tenha decidido ir comigo, é claro. — ele mostra um meio sorriso, aparentemente alheio ao banho de água fria que acaba de me dar. — No que estava pensando?
— Ah, nada! Eu só... só... Deixa pra lá!
Julgando ser melhor manter a boca ocupada para não dizer besteira, decido me dedicar exclusivamente à minha pizza enquanto os outros conversam. Shivani, Hina e Joalin começam a falar sobre suas atividades extracurriculares. Josh e Lamar logo entram no assunto. Ao mesmo tempo, Sofy está focada no celular, mastigando e digitando simultaneamente.
Aproveito o momento para uma breve introspecção acerca do que acabo de ser lembrada: a tal festa de aniversário. Tenho pensado a respeito desde que recebi o convite, na manhã do último domingo.
Sempre me considerei uma garota corajosa. Desde pequena, buscava enfrentar meus medos, não só porque me sentia naturalmente inclinada a isso, mas também porque aprendi com os meus pais que se não o fizesse, mais cedo ou mais tarde eles me limitariam e essa simples possibilidade me fazia estremecer.
Foi justamente ao me lembrar dessa característica da antiga Any que noite passada, pouco antes de dormir, tomei a decisão de ir à festa. Não posso evitar eventos do tipo pelo resto da vida. Terei que passar por isso mais cedo ou mais tarde, então por que não encarar de uma vez, enquanto posso contar com o apoio e a compreensão das pessoas à minha volta? E se nada der certo... bem, talvez esteja na hora de buscar ajuda profissional.
— Não acredito! Eu consegui! — a aniversariante comemora, de repente. Assim como todos na mesa, a encaro, tomada pela curiosidade. — Convenci meus pais a irem jantar fora hoje, então teremos a casa toda para nós durante a festa. Nada de adultos nos supervisionando, pessoal! — ela explica, mal contendo a empolgação.
— Os convenceu a liberarem as cervejas também? — Hina descansa o rosto em sua mão direita, o cotovelo apoiado na superfície da mesa.
— Não, mas eles não precisam saber dessa parte. — a loira arqueia uma das sobrancelhas. — Meus amigos do balé vão levar as bebidas. Eles chegam às seis. Se todos estiverem bem ou tiverem ido embora quando os meus pais voltarem, por volta das onze, não terei problemas.
— O que planejou exatamente, Sofy? — dessa vez sou eu quem pergunto, a fim de começar a me preparar psicologicamente.
— Coisa simples. Será uma pequena festa no meu porão. Só convidei pessoas próximas, com quem convivo diariamente. Vamos pedir umas pizzas, dançar, beber, jogar algumas coisas... Você vai, não é? — ela toca meu braço sobre a mesa, suavemente.
A pergunta faz com que eu me torne o centro das atenções e, consequentemente, fique nervosa. Sei que lá no fundo meus amigos criaram expectativas. Não nego que também criei, pois estou realmente disposta a ir. A questão é que estou decidida a dizer sim no momento, mas e se tudo mudar até o entardecer? E se eu decepcioná-los?
Diga que ainda está pensando! Diga que ainda está pensando!, ordeno a mim mesma internamente, mas o que minha boca externaliza é:
— E-eu... vou.