Capítulo 65

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 POV Toni Topaz

 Estava deitada na minha cama, havia decidido que visitaria meu pai hoje. Pensar nele ultimamente me deixava mais ansiosa que o normal. Abri minha gaveta e tirei dali um baseado, havia experimentado na última festa e a sensação me agradou, assim ao menos eu ficava mais calma.

 Caminhei até o campus e acendi o cigarro, tragando a erva.

 -Toni? – Cheryl aparece e se senta ao meu lado na grama perto do lago. – O que é isso?

 -Maconha. Quer?

 -Não, obrigada. – Ela diz fazendo careta e eu apenas rio. – Desde quando está fumando?

 -Desde quarta na festa. – A ruiva concorda com a cabeça. – Hey, prometo que eu não usarei sempre. Eu só preciso de um combustível hoje. Vou ir visitar meu pai.

 -Entendi, quer que eu vá junto?

 -Não precisa, Cherry. Mas obrigada mesmo assim. – Digo beijando sua bochecha.

 -Eu vou entrar, vou ficar um pouco com Betty e Veronica, você sabe, em menos de dois meses estarei indo para a Inglaterra. – Concordo com a cabeça. – Espero que continuemos amigas.

 -Você sabe que eu queria mais que amizade. Pelo menos até você ir... Cherry, seu irmão falou para não deixar ninguém tirar da gente esse tempo juntas, eu acho que ele tá certo.

 -Toni...

 -Termina com a Minerva e fica comigo.

 -E-eu... não consigo. – Ela diz se deitando na grama.

 Trago o resto do cigarro e coloco no lixo o que havia sobrado. Volto para onde a ruiva estava deitada e me deito ao seu lado. Observo as nuvens acima de nós, procurando formas nelas.

 -Aquela ali parece um cachorro. – Digo apontando para uma um pouco para o lado direito.

 -E aquela um boneco de neve. – Ela aponta para outra.

 -Eu sou o Olaf e gosto de abraços quentinhos. – Digo tentando imitar a voz do personagem, mas falho e a ruiva dá risada.

 Aquela risada. Senti meu coração acelerar no peito e um sorriso nascer em meu rosto. Eu amava a risada dela.

 -O que mais você enxerga? – Ela pergunta ainda olhando para o céu.

 -Um coração, bem acima de nós.

 -Não consigo identificar. – Ela diz com um bico em seus lábios.

 -Porque ele está confuso, como nosso amor. Mas se você olhar com cuidado, sabe que ele está ali.

 A ruiva engole em seco e me olha, deixando nossos rostos pertos.

 -Vou entrar, preciso conversar com as meninas. – Ela diz se levantando rapidamente.

 Aproveito que ela havia saído e vou até minha moto, dirigindo até o hospital que meu pai estava em coma.

 -Oi, pai. – Digo beijando sua testa. – Faz tempo, eu sei. Estou sem tempo por causa da escola e bem, aconteceu tanta coisa nos últimos meses que eu nem sei por onde começar te contar.

 Fico atualizando meu pai sobre a minha vida por um tempo, até escutar a porta abrindo e minha família entrar junto de um médico e a enfermeira.

 -O que ela está fazendo aqui? – Minha avó pergunta com raiva.

 -Até onde eu sei, ele é meu pai e eu tenho direito de vir ver ele.

 -Que bom que está aqui, Antoinette. – Minha tia diz e eu franzo o cenho. – Assim você pode se despedir dele.

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 Congelo tentando processar o que ela disse.

 -Como assim me despedir? Anna, me diz que eles não vão fazer o que eu penso que eles vão fazer.

 -Sinto muito, Toni. – A enfermeira diz, me olhando com pesar.

 -Vamos começar agora. – O médico diz começando a se aproximar.

 -Não! – Exclamo irritada, batendo na mão do rapaz. – Ninguém vai tocar no meu pai.

 -Antoinette, deixe de ser mimada.

 -Mimada, vovó? Você diz isso pois não é você que, se desligarem esses aparelhos, vai ficar sem ninguém. Meu pai é o único que realmente me aceita nessa porra de família, eu já perdi a minha mãe, não vou perder ele também.

 O médico desligou um aparelho e eu arregalo os olhos, empurrando ele para impedir que continuasse.

 -Matheo, segure sua prima. – Minha tia diz e a olho chocada.

 Logo os braços fortes do filho da mulher me agarraram, me levando para o outro canto da sala, mas eu ainda tentava me soltar e me debatia contra o rapaz, gritando para que o médico parasse.

 O médico desiste dos aparelhos e vem até mim, colocando as mãos em volta de meu rosto.

 -Eu prometo que ele não está sentindo dor. Ele vai poder descansar em paz.

 -Por favor, não. – Sussurro para o médico, que fecha os olhos com força. – Ele é uma parte minha, se fizer isso, uma parte minha também morre, doutor.

 -Eu preciso seguir o protocolo, pequena Topaz.

 Sinto lágrimas rolarem pelas minhas bochechas, olho desesperadamente para a enfermeira.

 -Anna, não deixa ele fazer isso. Eu te imploro.

 -Toni, está sendo difícil para mim também. – Ela diz secando as lágrimas que deixavam seu rosto.

 -Pelo amor de Deus, alguém faça algo. Não deixem ele ir embora também. – Grito desesperada, tentando me soltar de meu primo, que me abraçava com ainda mais força.

 O médico foi desligando aparelho por aparelho, eu sentia minha alma saindo do meu corpo.

 -Para, por favor, deixa eu falar com ele antes. – Imploro e o médico concorda com a cabeça.

 Matheo me solta e eu corro até a maca, acariciando os poucos fios de cabelos que meu pai tinha.

 -Pai, sou eu, Antoinette. – Digo pegando sua mão e levando ao meu rosto. – Eu sei que você me escuta, eu preciso que você volte, tá bom? Eu preciso de você, pai. Seu Thomas, você faz muita falta na minha vida. Você precisa ver Cheryl e...

 -Seu pai não gostaria de ver seu pecado, Antoinette. – Minha avó diz e eu reviro os olhos.

 -Não estou falando com você. – Respondo secamente. – Você iria amar tanto ela, pai...

 -Oh sim, amar uma Blossom. Filha de quem matou minha filha. – Minha avó volta a falar.

 -A senhora poderia respeitar o momento, por favor. – Anna corta e a mais velha dá de ombros.

 -Estou esperando a resposta de Houston, um de seus sobrinhos me encontrou no instagram. Pai, eles parecem serem incríveis, estou ansiosa para conhecer eles pessoalmente. Só tem um porém, se eu não for aceita em Houston, eu vou para Oxford. Clifford fez uma indicação lá, e isso não quer dizer que eu o perdoo, mas preciso pensar no meu futuro. Espero que entenda.

 -Pequena Topaz, precisamos continuar. – O médico diz e eu concordo com a cabeça. Beijando a testa do homem desacordado. – Sei que não está pronta, mas é o melhor para ele.

 -Eu posso cantar enquanto você termina de desligar?

 O homem sorri leve e concorda com a cabeça.

 My eyes just won't keep dry

 (Meus olhos não conseguem ficar secos)

 Every tear is a watterfall

 (Cada lágrima é uma cachoeira) 

 I'm holding on, to all the memories I can recall

 (Estou me segurando, em todas memórias que consigo lembrar)

 Now I cherish every moment, big or small

 (Agora eu aprecio cada momento, grande ou pequeno)

 Now that you're go

 (Agora que você se foi)

 I hold on, to all the laughs we shared

 (Eu me apego, a todas risadas que dividimos)

 And I'll never forget your smile

 (E eu nunca vou esquecer o seu sorriso)

 We've said hello a million times

 (Nós dissemos "olá" milhões de vezes)

 The hardest thing to do is say goodbye

 (A coisa mais difícil de fazer é dizer adeus)

 -Já estamos terminando. – O médico diz e sinto um nó na garganta.

 -Que nos encontremos novamente. – Sussurro para o homem até ouvir o som dos aparelhos indicar que o coração havia parado.

 -Hora do óbito: 15:43

 Sinto minhas pernas fraquejarem e meus joelhos encontram o chão. Escondo meu rosto entre as mãos e me permito chorar ainda mais. Sinto um aperto em meu ombro e observo a enfermeira secando as lágrimas.

 -Vem, vamos conversar. – Anna diz me puxando e me colocando sentada no sofá, enquanto meus familiares falavam com o médico. – Eu nem imagino sua dor, Toni. Mas foi o melhor para ele, Thomas não reagia...

 -Eu não aguento mais perder todos que amo, Anna. Eu sempre estrago tudo.

 -Não fala assim, Toni.

 Sinto a enfermeira me abraçar apertado e vejo minha família sair do quarto.

 -Eu preciso ver um paciente ainda hoje, fique aqui, eu vou trazer um copo de água. – Ela diz acariciando meu cabelo.

 Concordo com a cabeça e fico olhando para meu pai. Sinto meu celular vibrar e vejo que era uma mensagem de Fangs, perguntando o porquê de não ter o avisado que estava vindo ao hospital pois ele queria visitar o tio Thomas.

 Rio irônica e jogo o celular no sofá sem desbloquear, correndo pelo hospital e ouvindo o grito de Anna comigo, mas ignoro e saio do local, jogando meu capacete no chão e subindo na moto, dirigindo com toda velocidade pelas ruas, entrando na contramão, sentindo meus olhos sempre encherem de lágrimas.

 Eu não sabia para onde estava indo, apenas dirigia loucamente. Quem olhasse pensaria que estava querendo sofrer um acidente, e talvez eu realmente quisesse. A luz no fim do túnel havia apagado, eu era apenas escuridão. 

Before YouOnde histórias criam vida. Descubra agora