Oliver e Luccas são inimigos declarados desde os quatro anos.
Ou, pelo menos, eram, antes de Oliver ir embora para outra cidade perto do final das suas infâncias; pois quando o garoto ressurge, mais de seis anos depois, dentro de um par de calças r...
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- Luccas, acorda.
Eu ouvi o primeiro chamado reverberando nas profundezas da minha mente, que vagava por algum lugar abstrato entre o completamente apagado e o totalmente desperto. Mas resolvi manter minha bochecha contra o travesseiro e os olhos muito fechados, na esperança de que minha mãe me deixasse dormir um pouco mais, por acreditar que eu estava mais inconsciente do que um asfalto.
Porém, dona Malu não era exatamente conhecida por desistir dos seus objetivos. Ela trabalhou em diversos lugares ganhando menos do que um salário mínimo por quase o mesmo tempo de vida que eu tinha, para conseguir juntar dinheiro e, enfim, abrir a sua própria loja de importados e pôr outras pessoas para fazer o que ela mesma fez durante vários anos.
Colocar um pentelho de dezessete anos para levantar da cama não era absolutamente nada perto disso.
- Luccas, levanta. - O pedido ecoou pela segunda vez, uma oitava mais alto.
Não reagi.
Repentinamente, senti um puxão abrupto no lençol que moveu meu corpo junto com ele, desenrolando-me do meu estado de burrito tamanho família para ser jogado contra o chão em um baque surdo.
Era a sua forma particular muitíssimo carinhosa de me forçar a levantar.
- Ai! - A exclamação foi automática, diante da pontada dolorosa que o impacto trouxe ao meu sistema.
- O Oliver tá lá embaixo. - se manifestou antes que eu pudesse protestar mais, os lábios se esticando em um pequeno sorriso que denunciava o quanto a ideia de me ver socializando a deixava satisfeita, mesmo que a socialização me tirasse da cama na manhã de um domingo.
Saber que ele fora o motivo de eu precisar ser acordado tão cedo trouxe a combinação explosiva de surpresa e um fervor incendiário de irritação às minhas células.
- O quê? Que horas são? - Forcei minha voz a sair, fraca e embebida de uma rouquidão sonolenta.
- Quase oito. - Girou nos calcanhares, caminhando rumo à porta aberta do quarto. - Eu estou indo na casa da sua avó agora, seu pai ainda está dormindo. Se for sair, leve a chave. - avisou, meio segundo antes de ganhar o corredor.
Eu iria sair, com certeza. Sair no soco com Oliver, pela inconveniência de aparecer na minha casa em um horário daqueles.
Ele só poderia estar tirando uma com a minha cara.
Escorreguei os dedos pelos fios desgrenhados do meu cabelo, ficando de pé.
O tampo da mesa exibia vários rastros de tinta provenientes das cerdas coloridas dos pincéis espalhados na sua superfície amadeirada, próximos dos potes de tinta que não me atentei em guardar antes de cair de sono noite passada.
Titubeei pelo corredor, depois pelas escadas, piscando inúmeras vezes para tentar fazer minha visão dar foco às coisas sob o reverberar de uma dupla de vozes vindas da sala, rindo vezes demais por segundo. Inegavelmente, era minha mãe e o infeliz que se tornara foco de todo o meu ódio naquele momento.
Ao adentrar no cômodo, vislumbrei primeiro a porta da frente sendo fechada pelo lado de fora, e meu olhar caiu automaticamente para Oliver sentado no sofá, os dedos tamborilando no estofado no mesmo ritmo que seus pés cobertos pelo habitual par de tênis velhos, que castigavam o piso com sua dança particular.
- O que diabos você está fazendo aqui? - Meu tom saiu seco feito uma lixa de coral.
A pergunta atraiu sua atenção de imediato, e ele puxou os fones dos ouvidos, desmaiando-os ao redor dos ombros.
- Vim te chamar para arrumar a nova locadora da minha tia comigo. - Oliver respondeu, com uma normalidade que me deixou ainda mais puto.
Deixei um suspiro impaciente escapar.
- Olha, não sei em que mundo você vive, mas no meu, as pessoas não tem o costume de aparecer às sete de um domingo na casa dos outros sem avisar. Principalmente se for para pedir algum tipo de favor.
Suas sobrancelhas castanhas se arquearam, em uma inocência infligida digna de premiação.
- Tive a ideia em cima da hora, e achei que você poderia me ajudar com esse seu enorme coração. Mas, se não, tudo bem. Eu arrumo aquele monte de filmes sozinho...
Apertei os cílios em incredulidade, recebendo seu sorriso torto repleto de cinismo em contrapartida, que me fez ficar cético diante do quanto ele conseguia ser inconveniente e não dar a mínima para isso. Pelo contrário, parecia estar se divertindo muito.
- Realmente veio aqui para isso?
Um olhar rápido para o anel do humor encaixado no meu dedo confirmou, ao notar a tonalidade preta que embebia todo o aro, o quanto eu estava estressado.
- Não. Queria ver a cara que você tem quando acorda. - Caprichou no semblante solene. - E, a propósito, você parece um leãozinho com esse cabelo bagunçado. Só que bem mais assustador. Muito mesmo.
Rolei os olhos.
- Eu deveria te expulsar daqui. Você é, sem dúvidas, o ser humano mais irritante que já pisou na face desse planeta.
- Obrigado, sou fraco para elogios. - Levou a mão ao peito com graça, como se eu tivesse lhe oferecido a melhor lisonja do mundo.
Reprimi o ímpeto de rir.
- Vai me ajudar ou não? - Voltou a falar, encarando-me com uma expectativa faiscante.
Comprimi os lábios, constatando que não havia, de fato, um motivo que me impedia de fazer esse gesto altruísta. Não era como se tivesse uma programação super elaborada para aquele dia, afinal de contas.
Deixei um suspiro escapar, o sopro da expiração relaxando meus músculos gradativamente. A cor do anel começou a ir para um gradiente mais claro.
- Tudo bem, só vou tomar um banho.
- Tá precisando, mesmo. Você tá fedendo tanto que eu tô sentindo daqui. - Esboçou uma pretensa careta enojada.
- O quê? - Inclinei o rosto na direção da minha axila de imediato, tentando identificar qualquer cheiro ruim, mas não encontrei qualquer resquício. - Não estou!
Seus lábios se curvaram em um sorriso torto.
- Tá sim.
- A sua testa! - resmunguei, sendo atingido por um súbito espírito ranzinza.
- Acho que vi uma mosca voando na sua cabeça... - continuou a provocação, apertando os cílios para os meus cachos, como se tentasse enxergar algo muito pequeno entre os fios.