10: Pairando em Blues

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- Luccas, acorda

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- Luccas, acorda.

Eu ouvi o primeiro chamado reverberando nas profundezas da minha mente, que vagava por algum lugar abstrato entre o completamente apagado e o totalmente desperto. Mas resolvi manter minha bochecha contra o travesseiro e os olhos muito fechados, na esperança de que minha mãe me deixasse dormir um pouco mais, por acreditar que eu estava mais inconsciente do que um asfalto.

Porém, dona Malu não era exatamente conhecida por desistir dos seus objetivos. Ela trabalhou em diversos lugares ganhando menos do que um salário mínimo por quase o mesmo tempo de vida que eu tinha, para conseguir juntar dinheiro e, enfim, abrir a sua própria loja de importados e pôr outras pessoas para fazer o que ela mesma fez durante vários anos.

Colocar um pentelho de dezessete anos para levantar da cama não era absolutamente nada perto disso.

- Luccas, levanta. - O pedido ecoou pela segunda vez, uma oitava mais alto.

Não reagi.

Repentinamente, senti um puxão abrupto no lençol que moveu meu corpo junto com ele, desenrolando-me do meu estado de burrito tamanho família para ser jogado contra o chão em um baque surdo.

Era a sua forma particular muitíssimo carinhosa de me forçar a levantar.

- Ai! - A exclamação foi automática, diante da pontada dolorosa que o impacto trouxe ao meu sistema.

- O Oliver tá lá embaixo. - se manifestou antes que eu pudesse protestar mais, os lábios se esticando em um pequeno sorriso que denunciava o quanto a ideia de me ver socializando a deixava satisfeita, mesmo que a socialização me tirasse da cama na manhã de um domingo.

Saber que ele fora o motivo de eu precisar ser acordado tão cedo trouxe a combinação explosiva de surpresa e um fervor incendiário de irritação às minhas células.

- O quê? Que horas são? - Forcei minha voz a sair, fraca e embebida de uma rouquidão sonolenta.

- Quase oito. - Girou nos calcanhares, caminhando rumo à porta aberta do quarto. - Eu estou indo na casa da sua avó agora, seu pai ainda está dormindo. Se for sair, leve a chave. - avisou, meio segundo antes de ganhar o corredor.

Eu iria sair, com certeza. Sair no soco com Oliver, pela inconveniência de aparecer na minha casa em um horário daqueles.

Ele só poderia estar tirando uma com a minha cara.

Escorreguei os dedos pelos fios desgrenhados do meu cabelo, ficando de pé.

O tampo da mesa exibia vários rastros de tinta provenientes das cerdas coloridas dos pincéis espalhados na sua superfície amadeirada, próximos dos potes de tinta que não me atentei em guardar antes de cair de sono noite passada.

Titubeei pelo corredor, depois pelas escadas, piscando inúmeras vezes para tentar fazer minha visão dar foco às coisas sob o reverberar de uma dupla de vozes vindas da sala, rindo vezes demais por segundo. Inegavelmente, era minha mãe e o infeliz que se tornara foco de todo o meu ódio naquele momento.

Você é a Mosca Na Minha Sopa | ⚣Onde histórias criam vida. Descubra agora