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— Tudo bem, eu posso resolver isso amanhã. — Sorri para meu chefe, saindo de sua sala. Minhas costas estavam tensas e doloridas. Avistei Isa terminando de se arrumar por trás do balcão.

— Erick me falou sobre o AP. — Eu a olhei incrédula. Não faziam nem vinte quatro horas desde nossa conversa. Erick e sua incrível boca enorme! — Ele avisou que é segredo. — Eu ri.

— Ok.. então agora é um segredo nosso. — Ela me olhou.

— Posso te ajudar também, conheço algumas pessoas. — Ela sorriu e foi andando na direção oposta.

— Você não vem comigo? — Ela apontou para o outro lado da rua, e lá estava o Erick dentro do carro a esperando. Eu sorri e em seguida acenei para ele. — Até amanhã! — ela acenou para mim e correu de encontro ao namorado.

Retornei a visão para meu caminho, enquanto observava a movimentação e o fluxo de carros. Hoje seria uma daquelas segundas as quais eu simplesmente chego extremamente tarde ao campus. O bom de trabalhar para o Sr. Osmar é que ele entende meus horários de aula, e não se importa se eu não estou na empresa todos os dias, o que é interessante pois tanto faz eu atender a ele aqui na empresa, como da faculdade.

Sentei-me no ponto de ônibus, e olhei para o céu que estava satisfatoriamente cheio de estrelas. Lindo. E solitário. Fechei os olhos para sentir o vento gélido que soprava nos meus cabelos. Ali parecia ser pacífico, mas de repente a voz de um homem chamou minha atenção.

— Houve um acidente, toda a frota de ônibus e táxis estão congestionados desde lado da pista. — Ele continuou passando as informações para as outras pessoas que estavam esperando em outro ponto, e eu me levantei. Ir caminhando talvez não fosse uma má ideia.

(...)

Ali caminhando pela avenida, avistei o caminho secreto para o lago e a pequena reserva que quase ninguém sabia da existência. Um misto de sensações inundou o meu coração... De repente me lembrei da primeira vez que fui na cabana, aquele dia foi uma loucura. Ainda lembro como meu coração acelerou de medo, em ver o Mikael batendo no Lenny e discutindo com o Richard. Puro teatro. 

Deixei-me ser levada pela emoção e caminhei pela pequena trilha até a reserva. Que após poucos minutos, revelava em um lugar um pouco mais afastado, a cabana.

Me sentei na rocha e tirei o colete a qual estava usando, coloquei a blusa social para fora da saia e tirei o pequeno salto a qual estava usando. Fechei os olhos e relaxei a postura, enquanto a água se movimentava com a força do vento.

Preciso encontar um lugar que me dê essa mesma sensação de paz, mesmo que não seja verdadeira.

— De todos os lugares.. — Virei o rosto para vê-lo. Não era ilusão.— Não imaginava te encontrar aqui. - Ele me encarou.

— São quase seis da noite, também não imaginei que você estaria aqui na reserva, invés de estar... Correndo atrás de psicopatas ou fazendo contas. — Dei de ombros e ele deu um riso de lado.

— Eu, estive dando uma organizada na cabana. — Ele retornou a falar e eu finalmente consegui observa-lo por completo. Estava de roupa social: terno e gravata. E essa era uma de suas facetas mais atraentes.

— Eu estive lembrando da primeira vez que estive nela. — Comentei pensativa. — Naquele dia eu pensei: Que merda, eu entrei para o grupo mais problemático da faculdade... E eu estava certa. — Ele riu. — Naquele dia eu senti como se meu coração fosse parar, eu não estava acostumada com tanta violência.

— No fim, nem era culpa do Lenny.

— É, bom... Você se sentia culpado e quando não conseguiu arrumar uma "forma de ajudar" por mais estranha que ela fosse, você não só culpou como descontou a raiva que estava de si mesmo em outra pessoa. — Ele suspirou pesado.

— Queria te mostrar a cabana. — Ele estendeu a mão para mim. — Talvez seja melhor criar uma lembrança melhor do que a de quando esteve nela.

(...)

Chegando na cabana, havia uma mesa de madeira com doze cadeiras do lado de fora, próximo a uma grande árvore. Analisei um pouco e continuei andando, de mãos dadas com ele, enquanto ele me guiava. A cor das madeiras estava vivida, e haviam flores de muitas espécies, uma mais linda que a outra. Sorri enquanto analisava o lugar, estava com uma nova atmosfera. Ele abriu a porta e sinalizou para que eu entrasse. E a cabana havia virado uma verdadeira casa. Uma sala pequena e aconchegante com um sofá, uma lareira (que da última vez estava desativada) uma poltrona e uma televisão, enquanto doutro lado havia uma pequena instante, até então vazia. Adentrei ainda mais e a cozinha era minúscula e organizada, enquanto o quarto estava com uma cama de casal, dois guarda roupas pequenos e iguais (um ao lado do outro, separado apenas por uma pequena mesinha que continha uma luminária em cima), e o banheiro tinha ganhado um box e um novo revestimento.

— Está linda. — Falei saindo do banheiro, enquanto ele se sentava na cama, e soltava o terno e a gravata ali, no chão mesmo. — Você tem um ótimo gosto para decoração, eu confesso.

— Agradeço. — Ele falou formalmente e eu reprimi um riso. — Durante esses dois anos, foi muito difícil ficar longe de você. Parecia que eu era um viciado, que terminaria louco por estar sem a droga. Minha terapeuta me passou esse trabalho de casa: toda vez que eu sentisse saudades, ou necessidade eu deveria reformar algo de minha escolha. — Eu estava concentrada nele. Cada detalhe, gesto ou movimento. Como se ele fosse a obra mais interessante, a reforma mais linda que estaria dentro daquela cabana. — Eu acolhi a cabana e, não demorou para que eu aprendesse e reformasse ela toda. — Ele riu fraco. — Todos os dias você ficava na janela, encarando o céu e as vezes chorava sozinha. — Abaixei a cabeça.

— Quem  te contou?

— Eu vi. — Eu o encarei. — Eu ia te olhar, todos os dias. Quando terminava de fazer uma dessas reformas. Por que, se todas as vezes que eu sentisse saudades de você, eu realmente reformasse algo aqui, eu ia precisar de umas cinquenta cabanas como essa, para suprir minha necessidade de te ver. — Eu dei alguns passos em direção a ele e parei no meio do quarto. — De.. te tocar. — Ele se aproximou e passou a mão pelos meus braços. — Para esquecer como era bom te beijar.. — Ele passou o polegar pelo meu lábio inferior. — De sentir seu cheiro, ouvir sua voz.. nem se eu fizesse a reforma do mundo todo, eu ia conseguir me concentrar em algo que não fosse você.

— Foda-se.

Eu agarrei ele.

Losin GameOnde histórias criam vida. Descubra agora