III - Música ao Vivo

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3 MESES DEPOIS

Mariana narrando:

Em fevereiro de 2022, eu já sentia aquela sensação de objetivo quase concluído.
Cursei por 2 anos e alguns meses a faculdade de Recursos Humanos e agora estou estagiando.

Na verdade, estarei iniciando na segunda-feira que vem. Por enquanto, vou aproveitar meu final de semana com Scarlet.

Depois daquele último natal jurei para mim mesma que nunca mais iria beber, não daquela forma.

Eu já não curto muito o sabor amargo da bebida alcoólica.
Mesmo aquelas bem doces ainda é possível sentir o leve sabor amargo no fundo, então, não foi nenhum esforço decidir isso.

Hoje resolvemos aproveitar a sexta feira de maneira mais tranquila.
Escolhemos um boteco bem tranquilo que tocava à todo momento músicas ao vivo.

Cantores de longe que vinham fazer Covers de músicas bem conhecidas, como "Ela Une Todas as Coisas" de Jorge Vercillio. "Cerveja De Garrafa" do grupo Atitude 67 e etc...
Não era frequentemente que podíamos aproveitar uma ocasião dessas, afinal, tudo no bairro é exageradamente caro.

Enquanto eu saboreava os petiscos que pedimos acompanhado por uma Coca-Cola, Scarlet optou por um acompanhamento Licor.

Ela é três anos mais velha que eu, concluiu o ensino médio e trabalha recentemente como auxiliar de serviços gerais.
Scarlet não teve oportunidade de fazer um curso superior pois teve uma gravidez que não foi planejada.

Hoje, o pequeno Davi tem quatro anos e ela cuidou dele sozinha na maior parte de sua vida, recentemente o pai voltou e ajuda como "pode" e quando pode.
Claro que a mãe de Scarlet ajudou muito, em todas as situações.

Scarlet é bem festeira diferente de mim, gosta de paquerar e de ser paquerada, ela é muito bonita, tem um corpo deslumbrante e nunca precisou fazer academia.
Seus cabelos são encaracolados e longos, já os meus encaracolados e curtos.
Somos bem parecidas, é o que as pessoas dizem. Talvez apenas em algumas coisas.

Apesar de Scarlet as vezes ter algumas atitudes de uma garota adolescente, ela é uma pessoa boa, uma amiga incrível, uma mãe maravilhosa e uma pessoa dedicada.
Cumpre com todas as suas obrigações independente da situação.

- Só um minutinho. - Scarlet diz pegando o celular de sua bolsa. - Eu vou ligar para a minha mãe, quero saber do Davi.
Eu assenti com a cabeça e virei mais dois goles de refrigerante.

Na segunda-feira eu vou iniciar meu estágio em uma produção cinematográfica e de comerciais. Serei assistente de lá por um período de seis meses.
Claro que se eu tivesse mais opções, escolheria por uma empresa de recrutamento ou então treinamentos de funcionários, afinal eu não conheço nada sobre set de filmagens.

A incerteza de saber qual seria a minha função lá, me deixa insegura e muito nervosa.
Aliás, a insegurança é o meu maior defeito, já disse isso?

Devido as experiências amorosas, eu vi que tudo pode ser melhor ou mais talentoso do que eu.
De tanto dizer a mim mesma que eu não preciso me quebrar para encaixar onde não me cabe, acabei percebendo que talvez eu não coubesse em nada.

Essa música romântica do Jorge Vercillo faz com que eu sofra internamente em saber que o amor não funciona assim, pra quase ninguém.

Olho envolta disfarçadamente e admiro os casais trocando carícias e sorrisos.
Eu fico me perguntando: Será que ela descobriu? Ou será que ele descobriu?
Casais sempre tem coisas para esconder um do outro, e enquanto for segredo, tudo é perfeito.

Scarlet volta e se senta ao meu lado.
- Davi está bem. Está dormindo. - Ela diz.

- Que bom. - Sorrio. - O pai dele marcou o próximo dia pra vê-lo? - Pergunto.

- Disse que domingo, provavelmente estaria disponível. - Scarlet responde.

- Hum. - Reviro os olhos. - Ele só ajuda financeiramente quando ver o Davi. Se essa semana ele precisasse se ausentar, não iria conceder nenhum tostão. - Finalizo.

- Nenhuma novidade. - Ela responde.

- Estou desde o nascimento de Davi dizendo que você deveria ter entrado na justiça contra ele. - Resmungo.

- Não é tão fácil assim, amiga. Te expliquei sobre isso...- Scarlet diz frustrada.

O genitor de Davi é envolvido com pessoas que andam lado a lado do crime.
Quando Scarlet pensou em tomar medidas judiciais, ele ameaçou.

- Mas, vamos mudar de assunto. - Scarlet corta. - Você e o Jake, como está a aproximação de vocês dois?

- Jake? - Pergunto. - Que Jake?

Scarlet se expressa com estranheza.
- Você não sabe quem é Jake? - Ela pergunta. - O meu conhecido, aquele do natal.

- Ah. - A lembrança me volta a mente e eu fico sem graça. - Você não tinha me dito o nome dele, só o descreveu como seu colega. - Retruco.

- E como assim "aproximação"? Por que eu seria próxima dele se eu nem o conheço? - Questiono.

- Ué, achei que estavam se conhecendo. Você o aceitou no perfil do Instagram, seguiu de volta, e ele tem curtido todas as fotos que você posta. - Scarlet explica.

- Jake? Jake M L L R? - Pergunto.

- Jake Müller, o nome dele. - Scarlet explica. - Esse mesmo.

Sinto uma leve sensação de gelo no meu peito, eu não imaginava que esse Jake era o mesmo Jake do natal.
Eu nem me recordava de seu rosto, por tanto a única forma de lembrar de tudo aquilo foi pelo vídeo que fiz no storie e as explicações embaraçosas e detalhadas que Scarlet me deu na manhã seguinte.

- Eu achei que fosse uma pessoa qualquer, de outra cidade ou sei lá... - Digo.

- Mas, vocês interagiram? - Ela pergunta.

- Acho que duas vezes. - Forço minha mente para que eu possa me recordar desses últimos meses. - Uma vez postei no storie sobre os trabalhos da faculdade, estava reclamando sobre a quão cansada fiquei. Ele respondeu no Direct, disse que eu parecia ser bem empenhada e me parabenizou. - Digo.

- Hum. - Scarlet mostra desaprovação. - Só isso?

- Eu respondi que sou esforçada e só. - Respondo. Scarlet não diz nada, apenas desce mais um gole de sua bebida e pega um petisco.
- Sabe que eu não sou boa nessas coisas né? E agora que eu descobri que ele me viu no meu pior estado, mais sem graça vou ficar. - Me explico.

- Você só estava bêbada. Não foi nada demais. - Scarlet revira os olhos.

- E eu me joguei nos braços dele, tentei beija-lo sei lá quantas vezes e ainda vomitei minha roupa inteira. - Relembro amargamente.

- Você não pode esquecer do anjinho de terra que fez no chão. - Scarlet diz rindo da minha cara.

- Não rir. - Faço uma expressão bem séria e ela tenta se controlar.

- Ainda bem que a rua estava vazia. Éramos só nós três. - Scarlet diz segurando o riso. - Eu acho que ele gostou de você, mas como sempre, você não deu muita abertura nas vezes que ele puxou assunto.

- Eu não quero me aproximar de nenhum homem. - Digo com convicção. - E ele parece ser mais velho, deve ser casado. - Acrescento.

Reinventei VocêWhere stories live. Discover now