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Enquanto caminhava pelos corredores da casa de repouso, Luca sentia um forte cheiro de lavanda inundar suas narinas. Em alguma sala por perto, alguém tocava uma melodia muito alegre de um piano cujas notas ressoavam junto com os passos que ele e a funcionária davam sobre o mármore liso.
— Lorena ficará feliz com sua visita. - disse a mulher de meia idade num tom neutro. — Ela vive reclamando que não aguenta mais estar rodeada de gente velha. De onde vocês se conhecem?
— Ela é amiga da minha avó.
— Oh - a funcionária respondeu meio automaticamente. — Tenho certeza que Lorena ficará muito feliz com você aqui. Você está ciente da condição dela?
— Condição? - Luca fez uma careta.
A mulher o encarou por um momento, o avaliando, antes de responder num tom sério:
— Bem, acho que não. - ela voltou a encarar o corredor. — Lorena tem uma alergia a certos minerais da água potável de garrafinhas. Por isso, pedirei que você deixe sua mochila fora da sala antes de encontrá-la.
Luca novamente a olhou confuso, mas decidiu não parar de acompanhá-la uma vez que a mulher não parecia que iria esperá-lo de todo jeito. Ela tinha ombros largos e, olhando mais de perto, até musculosos, mas suas roupas eram elegantes em tons azuis escuros. Só seu jeito de andar já demonstrava que ela era alguém com autoridade no lugar ali.
Uma alergia a água potável? Aquilo parecia mais uma desculpa encabulada do que uma condição verdadeira. Talvez fosse a forma que os funcionários da casa de repouso encontraram em proteger seus pacientes marítimos. Talvez se ele falasse que era um monstro-marinho, a mulher deixaria de encará-lo com toda aquela desconfiança. Ou talvez ela jogasse água nele e pensaria que ele estava mentindo quando sua pele não se transformasse em escamas.
Provavelmente seria melhor deixar as coisas como estavam. Ele não precisava que aquela mulher gostasse dele.
Quando eles finalmente chegaram em uma porta levemente aberta, a funcionária se virou para ele e pediu sua mochila. Assim que Luca a entregou, ela disse:
— Você terá 30 minutos com ela. Lorena tem horários muitos restritos e conversas muito longas a cansam rapidamente. Novamente repito: Não dê água para ela. Na verdade, nem sequer pense em usar o banheiro dela. Temos câmeras no quarto e a qualquer movimento suspeito eu apareço em dois segundos e te tiro de lá, está entendendo?
Luca assentiu com a cabeça, levemente assustado com a ideia daquela mulher o jogando para fora do quarto. A funcionária abriu pela primeira vez um sorriso satisfeito.
— Uma sugestão: não jogue nenhum jogo de azar com ela. Nós não nos responsabilizamos se você perder seu dinheiro ou coisas de valor. - Ela abriu um pouco a porta e avisou. — Vou notificá-la que você está aqui e logo em seguida você já pode entrar.
Luca a observou empurrar a porta com delicadeza, deixando a luz do dia clarear o corredor. Olhando pela janela, uma figura idosa com cabelos brancos estava sentada bem confortavelmente em uma cadeira. Luca viu a mulher se aproximar da moradora e falar algo baixo em seu ouvido. Logo em seguida, ela se levantou e fez um sinal com a cabeça para Luca se aproximar.
— Vou deixar vocês sozinhos. Volto em meia hora.
Assim que ela desapareceu pelo corredor, Luca sentiu uma insegurança se abater nele. Nem o piano tocando no fundo conseguia combater o silêncio desconfortável daqueles primeiros segundos. Ele lentamente caminhou até um conjunto de sofás onde a senhorinha estava sentada olhando pela janela com intensa curiosidade. Ele ficou em dúvida se poderia sentar então permaneceu em pé em desconforto. A senhoria nem sequer notou sua presença.
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Aquilo Que o Tempo Deixou
FantasyDeterminado a se dedicar aos seus estudos, Luca Paguro passou quatro anos de sua vida longe de Porto Rosso e, consequentemente, longe de Alberto. Diante do estresse em viver em uma boa universidade e manter suas notas altas, uma reação inesperada a...