~ Dois meses depois ~
"Não! Pára!" Guinchei, atraindo a atenção de algumas pessoas para nós, e corando imediatamente.
Estávamos a passear, e o Harry estava a fazer o favor de me tentar roubar um pouco de waffle. Ele ria-se como um maníaco e eu fazia o meu melhor beicinho para o tentar persuadir a parar as investidas contra o meu lanche.
"Só mais uma dentadinha! Uma pequenina..." Ele tentou coagir e eu fiz que não, virando costas e mordendo o delicioso pastel. "Aff, sua egoísta!" Acusou e fingiu um soluço de choro.
"Aww, coitado, não é?!" Ri-me e ele fez que sim, os seus olhos de cachorrinho a levar a melhor sobre mim.
"Partilha?" Ele falou numa voz de criança.
"Rapaz universitário, ou garoto de sete anos? O mundo pode nunca vir a descobrir!" Piquei e ele grunhiu e, num momento de distração minha, pegou na minha mão e mordeu a minha waffle. "Harry!" Gritei aterrorizada e tentei manter essa expressão nas minhas feições, para o tentar fazer sentir culpado.
"Ups, foi uma rajada de vento que me fez tombar contra a tua mão." Ele desculpou-se e riu.
"Sim, claro. Estás armado em Howard, mas aqui as quedas acidentais não contam, meu amigo, não estamos na The Big Bang Theory."
"Eu não estou armado em Howard, fecha a boca." Ele cruzou os braços e fez ar importante.
"Claro que não." Gozei e continuei a comer a minha waffle.
Continuámos com as picardias durante mais um pouco, e depois alguém aclarou a voz atrás de mim. O olhar do Harry dartou para quem estava agora a chamar o meu nome, e o seu corpo tornou-se tenso junto ao meu. Quando me virei, vi a minha mãe a olhar para nós. Mãe... Tss, ela nem tem direito a ter esse título.
Senti o meu olhar gelar em direção a ela e toda a minha postura se tornou rígida e direita.
O seu esgar percorreu desde a minha cabeça até aos meus pés e depois ascendeu novamente e travou na minha barriga, que já se estava a tornar proeminente devido à gravidez.
"Holland." Saudou e eu soltei um grunhido. O meu nome parecia horrível a sair da sua boca.
"Boa tarde." O olhar a penetrar no seu, quase como que a desafiá-la a dizer algo errado.
"Podemos falar?" Perguntou, enquanto cruzava os braços sobre o seu peito e recebia um revirar de olhos da minha parte.
"Sim, diz o que queres agora."
"A sós, por favor."
"Eu não tenho anda a esconder ao Harry."
"Por favor."
Olhei para o Harry e o seu olhar preocupado estava já sobre mim, medindo os prós e contras de me deixar sozinha com esta mulher.
"Eu vou ficar bem." Murmurei e beijei-o.
"Tens a certeza?" A sua voz até metia pena e eu simplesmente acenti.
"Sim, eu já vou ter contigo..."
O seu olhar virou-se para a minha progenitora, o seu maxilar a contrair e ele finalmente bateu caminho até uma mesa de uma esplanada ali perto.
"Que foi?" Perguntei e mandei o papel da waffle para o lixo, enquanto me encostava ao muro que delineava a escadaria para o metro.
"Eu queria falar contigo sobre o que aconteceu quando o teu pai morreu." A sua voz era cautelosa e quase medrosa, mas não acredito que chegasse a esse ponto.
"Não existe nada para falar, eu vi tudo e lembro-me exatamente de cada segundo daquele dia." Ripostei, tentando não atrair as atenções de quem descia as escadas apressadamente, com medo de já ter perdido o seu transporte subterrestre.
"Holli-" Eu cortei-a no momento.
"Já te avisei que para ti, eu sou Holland, e nada mais." A minha voz pareceu uma lâmina a cortá-la. Aproximou-se de mim e eu dei uns passos para a minha esquerda, mais para a beira do muro, junto aos degraus descendentes.
"Ouve-me." Ela pegou nas minhas mãos e eu tentei soltar-me. "Eu quero que apodreças no inferno, sua filha ingrata e mal criada." E com isto, eu ainda não tinha acabado de processar as palavras odiosas da sua parte, ela fez força contra as minhas mãos, fazendo-me cair pela escadaria do metro, dores lacinantes a atravessar todo o meu corpo. "Holland!" Ouvi-a gritar com uma falsa preocupação.
* * *
"Os sinais vitais estão fracos. Mais oxigénio." Consegui distinguir, mas não fui capaz de fazer mais nada.
Ondas de dor percorriam o meu corpo. A minha cabeça latejava e o meu abdómen contraía-se em dores excrucitantes. Queria gritar mas não conseguia encontrar a minha voz, os meus olhos não obedecendo ao meu pedido de se abrirem.
"Por favor acorda..." Ouvi uma prece junto ao meu ouvido, e instantaneamente reconheci esta voz como sendo a do Harry.
Ondas de dor assolavam o meu corpo, cada uma pior que a outra. Sentia que tinha sido atropelada por camião, e ouvia vozes pedirem oxigénio, suplementos de sangue, gazes, morfina.
Uma dor horrível surgiu na minha testa quando um objeto caiu sobre a mesma e eu gritei em agonia, e tentei sentar-me, mas rapidamente fui impedida por correias da maca onde jazia.
Os braços do Harry imediatamente tentaram rodear-me, de forma estranha e ele chorou no meu peito.
"Amor!" Ele beijou a minha cara, tirou a máscara que só então reparei que tinha a fornecer-me oxigénio, e beijou os meus lábios de forma urgente. "Por favor, não adormeças. Fica comigo. Estamos quase a chegar. Amo-te tanto." Ele chorava de forma desesperada, e mandaram-no afastar e meteram novamente a máscara sobre o meu nariz e lábios.
Os meus olhos vaguearam desnorteadamente pelo espaço confinado. Dois paramédicos tentavam estancar o sangue das feridas feitas, e o Harry estava ao meu lado, os lábios, a testa e as bochechas com sangue de ele me beijar e fuçar contra o meu peito e pescoço.
"Olha para mim, por favor fica comigo." Ele pediu urgente, e afagou a minha mão.
A ambulância chegou a uma paragem, e as portas do automóvel abriram, a minha maca foi imediatamente puxada para fora, o Harry nunca largou a minha mão e correu ao meu lado.
As portas do hospital foram escancaradas e eu só conseguia ver as luzes do teto a passarem rapidamente sobre mim, a cara chorona e manchada do Harry, os paramédicos a informarem médicos internos sobre o que tinha acontecido e sobre o meu estado
"Tem de ficar aqui e esperar, senhor." Uma enfermeira informou o Harry e ele gritou enquanto tentava atravessar as portas das Urgências.
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Shadows
FanfictionA vida pode subir e descer... Será que a de Holland só pode descer ou existe a ínfima hipótese de esta montanha russa subir? Amor? Lágrimas? Memórias? Sonhos? Tudo faz parte da vida e será que a Holland tem direito a ter isso? A V I S O : Quero desd...