19. ³ Arco do passado: Yuan

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Wei Yuan, primeiro e único filho do casal de melhores amigos universitários, Wei Wuxian e Wen Qing. A pequena criança era uma junção perfeita dos dois jovens: falante, esperta, educada e animada. Seus olhos eram doces e completamente cinzas, como um dia nublado de inverno. Seu sorriso era contagiante e aberto, com algumas janelinhas no lugar dos dentes. Seu cabelo era grande e preto, e a criança nunca deixava cortar pois queria se parecer com o pai.

Os três moravam no centro de Gusu com o Vovô e a Vovó Wen, em um apartamento de três cômodos e à 1km de distância da creche onde o pequeno estudava e ficava a maior parte do tempo. Pelo trabalho puxado dos pais, em dias de semana Wei Yuan alternava seus cuidados entre seus vovós e seus tios, esperando ansiosamente a noite e o final de semana para brincar com seu Babá e sua Mamãe. Wen Ning, seu tio fofo e tímido, sempre levava o sobrinho para a creche, visto que o rapaz estagiava no local.

Jiang Fengmian aparecia algumas vezes no apartamento do filho, porém, nunca era recebido pelo mesmo ou pela mãe do neto. Yu Ziyuan parou de visita-los depois que seu pedido pela custódia do pequeno fora negado. Em suas palavras 'Uma criança não deveria ser criada naquelas condições'.

Infelizmente após alguns anos, o ex-casal Jiang, em uma viagem de reconciliação, acabaram por provocar um acidente, ao qual levou a vida de ambos. Foram exatos 4 meses internados em um hospital, respirando por infinitos aparelhos e rios de dinheiro jogados fora pelos filhos. Por esse motivo, Jiang Cheng odiava qualquer menção a internação e hospital.

Jiang Yanli e Jin Zixuan se mudaram para Lanling meses depois, com Jin Ling já grande e falando poucas palavras que entendia dos pais. Jiang Cheng voltou para Yunmeng com Jiang Jingyi, enquanto Wei Wuxian permaneceu em Gusu com o filho.




Wei Wuxian se despediu do filho com um beijo na testa e a promessa de trazer churros quando voltasse. Deu um breve aceno para os quatro adultos sentados no sofá, ouvindo um 'Boa sorte' e 'Vai dar tudo certo'. Estava indo refazer sua matrícula depois de quase 4 anos inativa. E se tudo ocorresse bem, Wen Qing faria o mesmo na semana seguinte.

Entretanto, nada ocorreu bem.

Após a ligação desesperada de seu amigo, correu o mais rápido que pôde, tropeçando algumas vezes pelo caminho. Sua mente estava tão preocupada e cheia, que não notou os milhares de gritos atrás de si, o chamando.

Lan Wangji não sabia ao certo o que aconteceu, mas sentiu seu mundo desabar ao olhar os olhos tão lindos e vívidos do outro escurecerem. Enquanto corria, se desculpava brevemente com os carros que buzinavam para os dois na avenida, orando para todos os Deuses existentes que nada atingisse o rapaz.

Atravessando a esquina tão conhecida por si, seu coração quebrou ao ver a cena que seguia. E tudo piorou quando os gritos ensurdecedores começaram a ecoar em sua mente.

- "CADÊ MEU FILHO? A MINHA FAMÍLIA AINDA ESTÁ LÁ DENTRO!"

Os polícias tentavam a todo custo afastar as pessoas ao redor do edifício e acalmar os moradores, algumas sirenes já podiam ser ouvidas a km de distância, indicando que a ambulância estava chegando. O síndico não soube responder aos bombeiros o que havia acontecido, apenas repetia a mesma frase enquanto tossia a todo momento.

- "Eu não sei o que aconteceu! Quando percebi, a fumaça já estava em todo lugar!"

O pequeno e simples prédio, com três andares e dez apartamentos, estava em chamas.

Inicialmente, eram chamas isoladas no último apartamento do segundo andar, provavelmente a senhora simpática havia acendido suas velas budistas novamente. Pela má estrutura do local, o fogo atingiu o depósito de gás que ficava atrás do prédio, provocando uma explosão rápida e devastadora pela rua.

- "POR FAVOR, ME DEIXEM ENTRAR!"

Wei Wuxian não sabia mais o que fazer para expulsar aquelas pessoas de cima de si. Sentia sua garganta e olhos arderem pela fumaça, choro e gritos, que o causavam uma forte dor de cabeça e tontura pelo fogo.

- "Ninguém pode entrar, senhor! Temos uma equipe especializada para isso! Se o senhor entrar, vai morrer!"

- "QUEM VAI MORRER É A MINHA FAMÍLIA! O MEU FILHO É UMA CRIANÇA! VOCÊS NÃO ESTÃO FAZENDO PORRA NENHUMA E QUEREM ME PEDIR CALMA? ME DEIXE ENTRAR! POR FAVOR! Por favor... Hoje é aniversário dele..."

O policial sentiu o peso corporal do rapaz pesar nos seus braços. Ele havia desmaiado. Fora arrastado as pressas do local para ser socorrido pelos enfermeiros enquanto os bombeiros se preparavam para entrar no prédio. Entretanto, uma confusão se instalou no portão, chamando atenção de todos.

Um rapaz havia entrado.

Lan Wangji se aproveitou de toda distração alheia e correu incansavelmente, se esquivando de alguns escombros e chamas altas. Ele não estava pensando direito e muito menos se importava com as consequências. Tudo o que passava em sua mente era uma coisa: A criança.

Sem sequer perceber, e talvez por ser filho de alguém memorável, o pequeno já conquistou toda simpatia e admiração do rapaz. Era uma satisfação enorme encontrá-los no parquinho à tarde, brincando até o outro se cansar por já ser "velho demais". Era uma alegria imensa quando passava pela rua do parquinho e a criança acenava para si, sem nem mesma saber a importância que aquele gege sério tinha para o seu Babá.

Se alguém perguntasse para o recém engenheiro se ele tinha algum arrependimento naquela impulsividade toda, ele com toda certeza diria 'Não'. Nossa mente age de formas diferentes em situações de perigo. Algumas atitudes ajudam e outras atrapalham.

Lan Wangji não tinha certeza se aquele ato fora bem pensado ou não, porém, ele iria tentar.

Era estranho pensar sobre isso, certo? Mesmo depois de 5 anos, com apenas algumas palavras trocadas -mas ouvidas do que faladas-, o rapaz tinha plena consciência que faria de tudo por um cara patético, galanteador e sorridente.

E ele cumpriria essa promessa. Custe o que custar.

Então, após dez longos e angustiantes minutos que entrou no prédio, os bombeiros não tinham mais esperanças do homem sobreviver aquele incêndio. As enormes mangueiras com jatos fortes de água foram ligados, e o trabalho começou a ser feito.

Wei Wuxian estava acordado e imóvel na maca, sua pressão alta impossibilitava qualquer movimento. Naquele momento, seu único traço de vida era as lágrimas grossas e quentes que nunca paravam de cair em seu rosto. Sua vontade era de levantar e correr até seu filho, como sempre fazia ao chegar do serviço.

Ou jogar adedonha com Wen Ning, que sempre perdia por não conseguir pensar sobre pressão e nunca completar mais de quatro bloquinhos do papel. Ou Aprender uma receita -errada- com os vovós e ouvir os xingamentos por colocar muita pimenta na comida. Até mesmo discutir a noite inteira com Wen Qing sobre não dar doces para a criança antes do jantar, ou espalhar roupas pela sala procurando suas presilhas de cabelo.

Ele não queria viver em um mundo onde aquilo não existisse mais.

Um grito fora ouvido. Logo após, mais gritos podiam ser ouvidos. Todos pedindo a mesma coisa: 'Parem!'

Wei Wuxian levantou minimamente sua cabeça, torcendo para que aquilo tudo não passasse de um pesadelo idiota. Porém, a cena avassaladora de uma figura alta cambaleando para fora, no meio de chamas vermelhas e pretas, carregando um pequeno corpo enrolado em sua camisa, fez seu próprio corpo congelar e sua mente borbulhar ao reconhecer seu bebê.

E antes de desmaiar novamente, assistiu a figura cair à alguns metros de si, abraçando a criança de forma protetora, como se nenhum mal pudesse atingi-la.

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