A continuidade da conversa com Alexsander

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 Depois de algum tempo a sentir aquelas emoções, Alexsander se sentou em sua cadeira e pegou carinhosamente em uma das mãos de Aisha. Com a outra mão, ela limpou as lágrimas que estavam a sair dos seus olhos e disse:

- Mas, eu quero que você me diga Alexsander, o que planeja para o seu futuro?

- Eu não sei muito bem Aisha. Eu acho mesmo que você tem razão. Talvez eu tenha que resolver os meus problemas do passado, assim como você está tentando fazer, para construir o meu futuro de forma mais tranquila.

- Você pode fazer isso agora Alexsander. Tudo que precisa fazer é ressignificar o seu passado e parar com essas ideias de vingança por algo que aconteceu a tanto tempo.

- Eu tenho pensado muito no que o senhor Mukhammad disse naquele dia Aisha. Se o meu pai era severo assim com as pessoas e condenou outras pessoas a morte, como ele disse, de certa forma, aqueles homens não estavam tão errados assim em querer se vingar dele. E não faria muito sentido eu começar uma nova vingança para que essa violência toda volte a tona, colocando a nossa família no centro de tudo isso.

- Eu não penso que eles tinham o direito de fazer aquilo com o seu pai. Qualquer tipo de violência é algo terrível. Mas, eles sofreram aquela violência e revidaram ela Alexsander. O senhor Mukhammad tem razão quando ele diz que violência gera violência e que se não encerrarmos esse ciclo, viveremos uma guerra eterna contra nós mesmos. Ele também tem razão quando afirma que você não é obrigado a fazer nada que não deseja, e eu conheço o seu coração Alexsander, você tem um coração bom! Tenho certeza que você não deseja atentar contra a vida daquelas pessoas. Você sente que é obrigação sua, por essa questão cultural que diz isso, mas, não é.

- As vezes eu me pressiono nesse sentido Aisha. Mas, quanto ao meu pai, depois de ouvir as coisas que o senhor Mukhammad contou, talvez não seja mesmo necessário continuar esse ciclo de vinganças. O meu pai fez mal a muita gente e isso ficou muito claro para mim naquela tarde.

- Pelo que as pessoas diziam, infelizmente, ele fez sim Alexsander, Osnin era muito severo em suas decisões no Conselho, por isso era considerado um líder, uma referência para aqueles conselheiros. Acho que o senhor Mukhammad diz a verdade quanto a ele ter feito todo um esforço para condenar mulheres a morte, inclusive, por apedrejamento. Eu morro de medo de morrer assim. Eu não imagino sofrimento maior. Afirma Aisha, quando sente um frio em sua barriga e para por um momento de falar, ficando reflexiva.

Naqueles instantes, ela se recorda, em sua memória, que correu o risco de ser condenada por adultério quando a sua sogra descobriu aquela carta de amor direcionada a Caivan. Se Marian tivesse entregue aquela carta a Osnin, provavelmente, ela teria sido uma dessas mulheres condenadas a apedrejamento, como a sua sogra havia dito. Ele não iria perdoá-la. Só de pensar nessa hipótese o semblante de Aisha muda para assustado, quando Alexsander questiona:

- Aconteceu alguma coisa Aisha? Parece assustada.

- Não Alexsander, eu estava lembrando das mulheres falando na época sobre essas penas de apedrejamento. Eu me assusto só de pensar. O que me deixa mais triste é saber que ainda hoje essas penas são aplicadas em parte do nosso país. Eu sou totalmente contra tamanha violência.

- Eu também sou Aisha. Mas, isso está impregnado em muitas culturas tribais. Vai ser difícil colocar na cabeça de pessoas das tribos que matar alguém assim é algo muito desumano e que essas penas devem ser abolidas.

- Infelizmente sim. Então, desistiu dessas ideias de vingança e vai continuar a sua vida? Questiona Aisha demonstrando curiosidade.

- Com relação ao meu pai sim Aisha. Eu não vou vingar de ninguém pela morte do meu pai. Por todo o contexto, entendo que não vale a pena eu entrar nesse assunto. Além disso, eu nem saberia contra quem iria me vingar.

Casamento forçado e abusivo IIOnde histórias criam vida. Descubra agora