7. Um pedaço do céu

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"Eu estava imaginando como seria pegar alguém pela mão. Aposto que às vezes você encontra todos os segredos do universo na mão de alguém."
Aristóteles e Dante descobrem os segredos do universo.

—*—

Uma silhueta. Não, dessa vez eram duas. Ou três? Estava tudo embaçado, como se o mundo fosse feito de fumaça. Era difícil enxergar, o desespero tomando conta.

Um vazio, um caminho no meio da floresta surgindo. Sangue nas árvores. Ele correu, sabendo que algo o perseguia. Quanto mais ele corria, mais perto ele achava que a coisa estava.

Então nada. Tudo desapareceu, a floresta, as árvores, o sangue. E então gritos. Ele conhecia os gritos. Muito parecidos com o de sua mãe, mas agora sendo os de sua tia. Um choro, um som de agonia.

Medo. Ele estava com tanto medo, mas não conseguia admitir nem para si mesmo.

Alguém ao seu lado. Seu pai, olhando com desprezo para a imagem de sua tia no chão.

— Você fez isso com ela. — disse ele para o filho. — Não eu. Você foi até a casa dela, você trouxe os problemas. Não eu.

— Eu sei. — disse o filho com lágrimas nos olhos. — Eu sei, pai.

E então ele despertou.

Lionel acordou ofegante, um choro fraco saindo de sua garganta, lágrimas não derramadas ardendo em seus olhos.

Os pesadelos estavam ficando frequentes, ele não queria dizer a ninguém sobre eles, na esperança de que acabassem logo, mas ele sabia que enquanto Elliot estivesse procurando por ele, os pesadelos não iam parar.

Na cama ao lado, Raymond parecia dormir profundamente, mas Lionel sabia que ele estava sempre atento, pronto para uma arma apontada em sua direção ou alguém querendo machucá-lo. Então não querendo acordar o amigo, Lionel se levantou e andou silenciosamente pelo quarto, desceu as escadas e foi em direção a cozinha na esperança de que um copo de água fizesse ele dormir de novo sem medo ou preocupações.

A casa silenciosa o deixava um pouco estranho. Corredores e cômodos escuros ainda o assustavam, Elliot o ensinou que o escuro podia ser seu maior obstáculo ou te dar uma das melhores vantagens. Memórias antigas, tão antigas que Lionel pensava ter esquecido.

A água não ajudou. Ele segurava o copo com força. Olhando para o relógio, ele pensava que ninguém ousaria entrar na casa de June a essa hora. Mas poderiam. Seria ainda mais perigoso com Connor e Camille dormindo na sala, seus pais trabalhando até tarde, ninguém em casa para cuidar deles, June sendo a única opção.

Como poderiam confiar em alguém como Lionel? Mesmo sabendo quem ele era, quem era seu pai? Ele não podia acreditar. Se algo acontecesse a eles, não seria culpa de Raymond, nem de June. Seria dele. Pura e completamente dele, que trouxe um assassino e criminoso para a casa da tia (mesmo ele sabendo que Raymond não faria nada com June, ele machucaria qualquer um que tocasse em Lionel) e uma avalanche de problemas familiares que June ficou longe por tanto tempo, se distanciando cada vez mais de Natalie e Elliot, sendo forçada a deixar de ver o sobrinho.

Mas agora, encarando a porta da frente, Lionel podia imaginar Elliot a abrindo com força e apontando uma arma para ele. Às vezes ele se perguntava: Por que os pais eram tão cruéis? Claro, nem todos. Alguns bebiam até desmaiar, outros se drogavam ou batiam em suas esposas, achando que eram os donos do mundo. Seu pai fazia todas essas coisas.

As pessoas nascem ou se tornam más? Como seu Elliot se tornou o que era? Algumas pessoas simplesmente nascem com tragédia em seu sangue.

As lágrimas agora caíam por suas bochechas, os nós de seus dedos brancos apertando o copo de água.

Essas Vidas ViolentasOnde histórias criam vida. Descubra agora