A Fera que me Fez Bela

Capítulo 2

Era de esperar que o galanteador chegasse a mim depois de minha chegada com Júlia. Todos comentavam e reconheciam que somos as amigas-atrasadas-pro-serviço, eu particularmente não ligo para esses codinomes, contudo, aparentemente, outros sim.

— James... O que você quer? — Finalmente pergunto antes que ele dê um passo em minha direção. O homem usava a camiseta azul de nosso uniforme casual por baixo do seu jaleco branco idêntico ao meu e de minha amiga, com os três botões próximos ao pescoço desabotoados sobre seu peito, exibindo algumas definições de seu porte corporal, com alguns pelos escuros também se exibindo para completar seu estilo vaidoso. James também amava ser visto como o querido por entre as mulheres destes corredores, e fazia questão de dar um pouco do seu gostinho para elas.

— Ora, o que há? Não posso vir dar bom dia para a mulher mais linda do hospital? — Ele ergue os braços para me abraçar, andando lentamente em minha direção. Só com esse gesto pude sentir o cheiro forte de colônia masculina, quase me dando alergia.

— Obrigada pelo elogio James, mas não é uma boa hora... — Respondo mais uma vez para ele, me desviando ligeiramente para o lado de Júlia, colocando meus pertences no armário. Pela expressão de Hopkins, parece estar se divertindo com isso. — E aliás, não tenho tempo para conversas. Cassandra já nos deu ordens para agilizar...

— Ah mas Cassandra não vai se importar se um cavalheiro como eu não for educado com a senhorita. O que há Isabella? Até parece que não sabe quem sou. — Sem que eu desse conta, James se apoia nos armários de outros residentes ao meu lado para poder ficar mais perto de meu corpo, aproximando uns dedos para alisar umas mechas escuras de meu cabelo próximas de minhas bochechas, perto demais de acarisiá-las.

— Eu... — Encaro seus olhos negros, obcecados por mim, como um caçador está para sua presa. Consigo sentir um nó no meio de minha garganta e só então quando tomo coragem o suficiente para dizer algo, seu indicador escorregou para meu queixo, erguendo meu rosto para que nossas respirações estivessem no mesmo espaço. Levemente eu o empurro pelo peito, querendo me distanciar novamente dele. — Eu fico constrangida quando você se aproxima assim. E agora, caso você ainda insista, Bonjour!

Aproveito enquanto James ainda está desnorteado com as minhas palavras para puxar Júlia, que também parecia desconfortável com o rapaz ali, para fora da saleta em direção ao corredor. Aliviada com o escape inoportuno, solto o ar que prendia desde que ele me encurralou na parede.

Quando já estávamos distantes daquele local o suficiente para descansar as pernas, começamos a diminuir os passos até finalmente pararmos na frente de uma bifurcação, um corredor indo para a minha ala cirúrgica, e outra para a de Petrova.

— Você está bem, Isa? — Júlia pergunta preocupada com o meu estado emocional que acabei de ter.

— Estou, eu acho... Desculpa Ju, eu não queria que você passasse por aquilo...

— Não precisa se desculpar amiga, ele ter aparecido não é sua culpa. — Ela me interrompe, tentando de alguma forma me confortar.

— Se um dia Cassandra nos pegar daquela maneira, eu posso perder meu emprego! — Meus pés passeiam dando voltas ao nosso redor, sem o meu consentimento. Muitas vezes isso me acontece quando estou muito nervosa ou preocupada. Por tanto tempo eu sonhei em trabalhar neste hospital, onde eu poderia dar uma vida melhor para mi Papá. Sempre vivemos tendo que torcer para que alguma obra de arte dele fosse leiloada ou comprada por um colecionador, na maioria das vezes, não era bem isso que ocorria.