Capítulo 1 Buraco no chão

13 5 2
                                    

Capítulo 1 - O buraco no chão

A muito tempo atrás um dilúvio arrasou o planeta. Isso poderia ser o fim, mas inspirados por seres celestiais, foram construídas, não só uma, mas várias arcas em forma de navios, transportando todas as raças do planeta. Essas arcas possuíam destinos diferentes. Chamaram de "a despedida" dando fim a era mágica na terra. As criaturas foram separadas por espécies mágicas e não mágicas. As mágicas compuseram 7 embarcações, cada uma rumou para um portal distinto, as levando para outros planos de realidade. Os nossos descendentes os apagaram dos registros, a fim de preservar o segredo da magia. Um novo mundo foi povoado, com mistérios ocultos da vista de todos, mas um jovem esbarrou em uma dessas realidades, algo que nunca imaginou existir.

Um Jovem tímido e medroso peregrinava por entre as montanhas do sul da Ásia. Cenário bucólico, porém, envolto de muitos mistérios. Rumava ao topo de uma cordilheira sabidamente abençoada. Sua intenção era chegar até o templo da Deusa da vida, e clamar pela cura de sua mãe, desenganada pelos curandeiros da aldeia. Suas vestes não eram preparadas para o frio, e a chuva não dava trégua, muitos aldeãos desistiam no meio do caminho, mas o menino seguia firme. Sua fé era inabalável, pois acreditava firmemente que, caso conseguisse chegar ao local abençoado, suas preces seriam escutadas.

Era um caminho longo. Carroças e viajantes ficaram cada vez mais raros. A solidão batia a sua porta, junto ao frio e ao cansaço. A pele de seus pés e mãos enrugavam-se com a chuva, e por consequência, rasgavam-se pela fricção em puro couro. A fome e a sede eram as mãos de um cruel juiz, que o jogava de joelhos ao chão, contudo existia um ombro amigo, personificado pela sua vontade, que o levantava sempre que estava prestes a desistir. Sua roupa monástica estava suja de lama, e isso trazia tristeza, pois foi um presente dado de coração por sua mãe.

Triste estragar um presente, pensava ele. A linda vestimenta era um bote de salvação, pois o uso de uma roupa inadequada poderia significar a morte em algumas regiões. Era como um valioso passe naquela sociedade, pois as roupas se transformaram numa representação de status e posição social. Possuir um bom traje abria portas. Ele vestia uma chamativa Hanfu vermelha com rosas brancas, era um tipo de quimono antigo. Sua qualidade não era a melhor, mas foi feita com muito amor por sua humilde mãe. Agora se encontrava suja de lama. Cruel era o tempo, que não dava tréguas para o jovem destemido.

Ryo já havia partido a bastante tempo. Sua aldeia reparou em sua falta. Não havia muitos moradores, sendo fácil perceber quando alguém não estava presente. O curandeiro da vila tentava diminuir a febre de sua pobre mãe, mas ela não passava. Pediu para procurá-lo, pois poderia ser a última noite da senhora em seu tratamento, mas ninguém o encontrou.

Estava quase amanhecendo, e ele continuava caminhando. Um raio de sol invadiu seus olhos, tirando o sorriso de quem ainda tinha esperanças. Em seu coração sua mãe estava viva, pois aquela alegria não seria presente. Era um indicativo que ainda havia esperança.

Uma borboleta voava por entre as árvores, molhadas de chuva. Entre o primeiro raio de sol e as nuvens o jovem se distraiu, pisou em falso e rolou colina abaixo, caindo dentro de uma venda de uma árvore. Quando acordou, estava totalmente sujo de terra e folhas. Caminhou para fora da árvore e reparou em algo estranho. A borboleta tinha um rosto humano bem pequeno. E menino caiu para trás com o susto. Parecia uma fada. Ela riu e voou para o alto, sumindo por entre os raios de sol.

Observando ao seu redor foi fácil de saber que não estava na cordilheira. O ambiente era totalmente diferente, como se estivesse em floresta fechada. O jovem mexeu em seus cabelos para verificar se havia batido com a cabeça, mas nada parecido ocorreu, mas um imenso barulho o fez olhar para trás. A arvore que havia saído acabara de ser arrancada, com raiz e tudo, por um imenso animal com corpo parecido com um rinoceronte, mas sua boca havia duas presas como a de um tigre dente de sabre. Cinza e com aspecto bruto, parecia ser extremamente violento. Seu instinto foi correr para o mais longe que pudesse.

Você também vai gostar

          

— O que está acontecendo?

Correu olhando para trás, mas isso fez com que tropeçasse em outra coisa, caindo e rolando pela terra.

— O que é você?

— Eu que lhe pergunto. Não me viu aqui?

— Meu nome é Ryo.

— Sou Hermes. O mago da vila Azura.

Ryo olhava assustado o velho que parecia mais ser uma mistura de gato com gente. O pouco pelo e a pele enrugada davam um espectro estranho e misterioso. Usava uma túnica azul e um chapéu branco, velho e esgaçado. Não tinha mais que 1 metro de altura. Andava em duas patas, mas as vezes usava as 4 para andar mais rápido.

— Vamos menino. A noite não é segura. Temos que sair dessa floresta. Traga sua espada.

— Que espada?

— Essa ao seu lado.

Ryo viu uma trouxa de pano que estava amarrada a um pedaço de madeira.

— Isso?

— Já vi muitas espadas de viajantes. Sei quando alguém está transportando uma. Agora vamos.

O menino catou o embrulho e seguiu Hermes que partia apressado.

— Eu não posso ficar aqui. Tenho que voltar para casa.

— Pense em voltar amanhã. Se você entrar na floresta agora, será devorado.

Ryo não discutiu e seguiu com Hermes. Após presenciar aquele enorme animal, sabia que não era uma boa ideia voltar para onde estava.

— Eu saí de uma arvore e vim para aqui. Ela foi destruída por um animal enorme, mas eu preciso voltar.

— Ajudarei você a encontrar o caminho para sua casa, mas antes, uma noite de sono. Você deu sorte de me atropelar. Existem pessoas más que adorariam encontrar um menino como você para escravizar — Hermes apontou para o céu e Ryo pode perceber que a noite chegava no horizonte. O Sol se pós bem rápido e os ventos frios chegaram como ladrões, roubando a alegria em suas almas.

Ryo chegou até a vila Azura com Hermes. Era um cominho gramado, entre dois montes, formando uma trilha até o meio de um conjunto de casas. A estrada de pedras seguia até o início da vila, depois era terra batida por todas as ruas. Uma enorme quantidade de raças humanoides convivia ali. Os olhos de Ryo ficaram encantados com tantas formas diferentes. Alguns eram parecidos com um Minotauro, porém com pele parecida com pedra. Eles estavam executando tarefas pesadas, levantando carroças para trocar as rodas. Existiam outros eram bem pequenos como Hermes, atendendo em comércios e vagando pela cidade. A diversidade de espécies desconhecidas era enorme aos olhos do jovem.

— Nunca imaginei encontrar um lugar assim. São tantos seres diferentes.

— Pessoas.

— Sim. Pessoas — Se corrigiu.

­— Quem são aqueles altos com cabeça de touro?

— São crianças. Eles estão terminando de ajudar seus pais.

— Imagino o tamanho dos pais, se essas são as crianças.

— Geralmente uma cabeça selvagem só existe na infância, mas isso não é uma regra.

Ao observar o fundo da vila percebeu pessoas iguais a ele — Existem humanos aqui? Que bom.

— Eles são os Adam. São pessoas instáveis, mas conseguimos conviver. Suas cabeças tomam decisões mais rápido do que a luz. Muito impulsivos.

You've reached the end of published parts.

⏰ Last updated: jan 01, 2022 ⏰

Add this story to your Library to get notified about new parts!

A Espada OníricaOnde histórias criam vida. Descubra agora