10 - Noite Feliz (ou nem tanto...)

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Aquela véspera de natal estava passando surpreendentemente rápido. Sabe aquele lenga lenga da manhã e tarde do dia vinte e quatro, quando os adultos têm muito o que fazer, e as crianças não têm nada. E aí parece que o dia só começa a andar de verdade quando você vai para alguma festa de natal, quando algum tipo de comemoração natalina realmente começa. Mas dessa vez estava sendo diferente. Depois de muito implorar, meus pais haviam deixado eu sair com meus amigos antes de ir para a festa da minha família. E eu estava muito ansioso por isso. Seria a primeira vez que eu faria algo assim, com mais liberdade, um programa entre amigos. Sabe, os últimos oito anos no colégio tinham sido extremamente monótonos e, talvez, um final/início bom de ano era o que eu precisava para ter um fundamental marcante.

Eu, a Bel, o Lucas e o Daniel éramos amigos há muito tempo, nem consigo me lembrar desde quando... Talvez tenhamos nos unido de vez quando o Lucas se mudou para a nossa turma, por conta de um problema qualquer na mensalidade, que acabou o atrasando em um ano, possibilitando assim, um convívio bem mais próximo entre nós quatro.

O que tornava mais estranho o fato do dia ter passado rápido era que eu estava completamente ansioso para sair e, todo mundo sabe que, quanto maior a ansiedade, mais o tempo demora a passar. Mas hoje, quando me dei conta de mim, já eram cinco da tarde e eu tinha que começar a me arrumar para sair.

A primeira a chegar foi a Bel, que mora bem perto da minha casa, então às seis e meia em ponto, ouço o interfone tocar. Saio para abrir a porta, quase pronto para sair também. Meu pai tinha saído para comprar bebidas para festa de família, e minha mãe e minha irmã já estavam na casa da minha avó. Meu pai ia nos levar até nosso localzinho surpresa, e depois partiria para a festa também. Na volta, eu dividiria um táxi com o Daniel, pois a casa da minha avó é perto da dele. Abro a porta e encontro uma Bel com um traje meio casual mas também meio chique, afinal eu não tinha dito aonde iríamos. Ela está com um top violeta e com um blazer branco por cima, que destaca sua pele negra clara, e um short jeans até acima dos joelhos. Seus cabelos bem cacheados e bem longos estão presos em um rabo de cavalo bem alto.

— Oi — ela sorri, distraindo-me das minhas observações.

— Caramba, você tá bonita hoje — deixo escapar.

— Poxa, obrigada por dizer que eu estou bonita hoje — começo a sentir um calor e uma vontade de sair correndo imediatamente. — Calma, Tom — ela ri. — Sua pele está quase tão vermelha quanto seus cabelos.

— Boba — rio também. Falar com a Bel é tão simples, parece que somos quase a mesma pessoa, do tanto que pensamos parecido...

— O Lucas já chegou? — Ela se levanta nas pontas dos pés e dá uma olhada pela sala, antes mesmo de eu responder.

— Não, nem o Daniel — digo. — Será que eles vêm?

— O Lucas estava quase agradecendo de joelhos que não teria que viajar para a casa da mãe dele nesse natal, e o Daniel me mandou mensagem mais cedo falando que estava ansioso para saber onde você nos levaria — sorrio. — Isso me faz lembrar, para onde nós vamos?

— Segredo — faço um sorriso malicioso. — Se não se importa, vou terminar de me arrumar. Já volto.

— Ei, espera! Tom! Onde nós vamos?! — Solto uma risada maliciosa do corredor. — Ah, Tom... — ela fala, fingindo braveza.

Quando volto do quarto, encontro Daniel, também sentado no sofá, conversando com Bel sobre algum assunto relacionado à religião. Ele está com seu típico conjunto de moletom verde escuro e uma camiseta cinza clara por baixo.

— E aí por isso nós temos esses rituais, é mais pro lado da minha mãe e as tradições xintoístas da nossa família. Mas a parte de pai é católica tradicional, por isso eles acabaram acordando que manteriam as tradições.

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⏰ Last updated: Jan 14, 2022 ⏰

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