Capítulo 4 - Pensamentos

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Príncipe Saulo

Depois da reunião segui para meus aposentos a fim de pensar sobre o assunto.
Sei que meus irmãos esperavam de mim alguma palavra, mas eu não gostava de me precipitar quando o assunto era o futuro de Acávia.

Nesse caso, envolvia o meu futuro também. Além do de Isaiah e Estevão.

Me casar não seria um problema. O problema seria manter um casamento e conseguir ser feliz e fazer minha futura esposa feliz também.

Eu nunca havia me apaixonado de verdade. Apenas um amor platônico de infância pela filha de um artesão que trabalhava na feira da cidade.
Eu a encontrei quando tinha 7 anos. Ela tinha 5.

Uma menina alegre e arteira que me fez levar o maior castigo da vida por sair correndo pelas ruas e voltar todo sujo de terra para casa. Apesar de criança, eu era o príncipe herdeiro. Precisava ter postura em público.

Fomos amigos por 2 anos, mas depois seu pai se mudou e eu nunca mais a vi.

Na época eu era criança e ninguém deu importância a isso. Quando tinha idade suficiente para procurá-la, não achei que ela ainda iria querer me ver. Agora faziam 18 anos que não nos víamos e se ela ainda se lembrasse do passado, provavelmente não iríamos mais ser amigos.

Mas em relação ao acordo matrimonial, bastaria eu ir com calma.
Observar atentamente as nobres que viessem e tentar encontrar alguém que me chamasse a atenção. Casamentos arranjados eram comuns em muitos reinos e as moças que viriam já estariam esperando por isso.

Olhei-me no espelho.
Muitos me diziam que eu era um príncipe que chamava a atenção pela beleza. Mas eu não me sentia mais atraente do que os outros homens do reino.
Sempre vi a beleza como algo efêmero e não iria escolher minha futura esposa olhando para isso. Iria escolher a mulher que tivesse valores semelhantes aos meus.

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Principe Estevão

Desci as escadas do palácio correndo e quase derrubei uma das camareiras que subia com uma pilha de lençóis dobrados.
Depois de ajuda-la a recuperar o equilíbrio e evitar uma tragédia, percebi que se tratava de Estefânia, uma senhora de 57 anos que sempre me tratou tão amorosamente desde a infância que eu a chamava de dona Fan. Para ela eu era o "pequeno tornado" já que correr pelos corredores era minha maior diversão, e mesmo aos 24 anos, ainda não havia perdido a mania.

Sempre correndo menino? Um dia você ainda vai causar algum problema por causa disso. - ralhou a senhora.

Sou seu pequeno tornado, lembra?- disse com meu melhor sorriso estampado no rosto.

Se tem uma coisa que você deixou de ser faz tempo é pequeno. - respondeu ela rindo.

Isso era verdade. Estefânia era muito baixinha. Acho que não chegava a um metro e meio de altura. Eu, no entanto, era o filho mais alto do rei. E mais divertido também. Disso podia me orgulhar.

Continuei meu caminho, agora andando, até chegar na cozinha. Quando entrei peguei uma maçã na fruteira da mesa e me encostei na parede.

Bernardo estava dando ordens aos funcionários da cozinha sobre o almoço. O café havia sido há menos de duas horas, mas as coisas no palácio eram assim.

Depois de dispensar os serventes ele notou minha presença e veio até mim. Todos no palácio sabiam da nossa amizade e apesar de ele me chamar de alteza na frente da maioria das pessoas, quando estávamos na cozinha do palácio ou com meus irmãos, nosso tratamento era informal.

- Posso saber o motivo que traz tão ilustre visita ao meu sagrado local de trabalho? Com certeza não era apenas fome. - Disse ele apontando para a maçã cuja maior parte eu havia comido.

- Precisava espairecer. - respondi mordendo mais um pedaço da maçã em seguida.

- Pouca gente da família real vem espairecer na cozinha. Você e Mateus são excessões. Aliás, avise seu irmão de que não poderei ajudá-lo com as aulas de culinária essa semana. Como pode notar, temos bastante coisa para resolver já que semana que vem será o jantar de posse do príncipe John. - falou o chefe.

Apenas fiz um gesto de concordância e me peguei observando uma das cozinheiras que estava empenhada em seu trabalho.

- Ela já é comprometida. - disse Bernardo.

- Não estava olhando com segundas intenções. Eu irei me casar em breve, inclusive.

- Como assim? Nunca imaginei que estivesse apaixonado. Onde estão os sintomas? Sorriso idiota, olhar distante, falta de atenção com os amigos, comportamento meloso... Tudo bem, o sorriso idiota é notório, mas isso você sempre teve.

Joguei o resto da maçã nele que não conseguiu se esquivar a tempo.

- Só há espaço para um idiota em uma amizade e você já é ele. E eu não estou apaixonado, será um casamento arranjado. Não totalmente, já que eu poderei escolher a moça, mas os critérios irão incluir ela ser uma nobre e isso trazer algum benefício para Acávia.

Bernardo arqueou as sobrancelhas. Apesar de ser um mulherengo, ele acreditava em paixões verdadeiras e dizia que algum dia alguém roubaria seu coração.

- Não comente com ninguém ainda. O rei falou conosco agora há pouco. - falei.

Ele balançou a cabeça em concordância.
Bernardo sempre fora um confidente fiel. Não havia segredos entre nós, e eu sabia que podia confiar nele.

Nesse momento um dos funcionários do palácio o chamou para inspecionar a chegada dos suprimentos, dando fim a nossa conversa.

Agora só me restava aguardar para descobrir quem seria a minha noiva.

INCEPTION - oito corações, oito reinosOnde histórias criam vida. Descubra agora