Capítulo 20.

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O telefone tocou três vezes. Assim que o correio de voz estava para entrar, ele respondeu:

— Alô?

— Finn, oi. Sou eu. O que você está fazendo?

— Ajudando meu pai a montar esse rack para televisão. Você achava que dois caras inteligentes, como nós, fossem capazes de enfiar o parafuso A no buraco A, certo? Esta é a terceira vez que precisamos desmontar a geringonça e começar tudo de novo.

Ótimo. Ele soava normal, feliz.

— Preciso ver você — falei. — Em algum momento hoje.

— Que tal agora?

— Agora? — Meu coração disparou. Eu estava preparada para isso agora?

— Topo qualquer desculpa para fugir disto aqui — ele falou. — Quer que eu vá até aí?

— Não. Eu vou buscar você. Daqui a dez minutos. — Desligamos.

No andar de cima, roubei um muffin da mesa do café da manhã, enfiei na boca e entrei na minha blusa de moletom com capuz.

— Volto logo — falei de boca cheia.

— O quê? — Mamãe franziu as sobrancelhas por cima de sua leitura. — Ah, Clarke. Você viu este catálogo de Michigan? O campus em Ann Arbor é lindo. Deveríamos inscrever você lá. Eles têm um programa pré-advocacia. Claro que a escola de direito de Stanford é mais proeminente e seria perfeito se…

— Agora não, mãe — falei, retirando o muffin da boca. — Tenho que ir ver o Finn..

Ela suspirou pesadamente.

— Pergunte a ele sobre Stanford. E não fique fora o dia inteiro. Eu sinto sua falta, e quero que me ajude a fazer aquela pintura em estêncil na parede da Madi.

Kane espiou por cima das tirinhas do jornal e piscou para mim. Pisquei de volta.

— Bom dia, Octavia — falei, entrando na sala, onde ela estava esparramada no sofá, assistindo a uma reprise de Buffy. Ela deve ter resmungado uma resposta. — Ei, Madi. — Beijei sua bochecha de bebê, depois surrupiei mais um muffin e saí.

Meu jipe parecia querer desacelerar sozinho enquanto se aproximava da casa do Finn. Ele estava sentado na varanda, acariciando seu gato. Um animal que Finn havia resgatado de uma caçamba de lixo quando era criança. Isso era tão a cara do Finn. Quando ele me viu manobrar para a entrada da garagem, levou o gato para dentro de casa e saiu correndo pelo jardim.

Eu havia decidido que a conversa seria rápida.

— Aonde vamos? — Finn perguntou, inclinando-se sobre o banco dianteiro para me beijar. Eu me virei para verificar o trânsito, os lábios dele roçaram meu rosto.

— Passear — respondi. Aonde íamos? Para a serra, onde fomos fazer trilhas off-road no último verão? Não, Deus, não. A nenhum lugar dos velhos tempos. No espelho retrovisor, materializou-se o Parque Crandell atrás da casa dele, e levei o carro até o estacionamento.

Finn descansou o braço em torno dos meus ombros.

— E aí?

Abri minha porta.

— Vamos andar um pouco.

Ele descruzou as pernas e saltou para fora do carro. Emparelhando ao meu lado, pegou minha mão e apertou. Eu apertei também. No local das churrasqueiras, parei e descansei em um banco de piquenique. Finn se espreguiçou ao meu lado. Havia duas crianças brincando nos balanços, a mãe e a avó delas estavam ali perto, entretidas com seus livros.

Não havia um jeito fácil de fazer isso. Enfiei a mão no bolso do moletom, senti o pedaço circular de metal nos dedos e o apertei. Estiquei minha mão, abri a mão de Finn, e coloquei o anel na palma dele.

— Acho que deveríamos sair com outras pessoas — falei. Tão tola.

Ele abriu os dedos e observou o anel. Apenas observou. Traumatizado. Então os músculos da mandíbula se apertaram e, piscando os olhos, ele disse:

— O que levou você a isso?

— Eu… — engasguei. — Estou gostando de outra pessoa. Não seria certo com você…

— Quem? — Ele gritou.

Isso me fez pular de susto.

— Você não saberia… ninguém que você conheça. — Minha boca estava seca como um deserto. — Finn. — Virei para encará-lo. — Isso não tem nada a ver com você. Eu amo você. Você sabe disso. Queria que continuássemos amigos. Você é um dos melhores amigos que já tive. — O que era verdade. Nunca foi o sexo que nos manteve unidos. Pelo menos, não para mim.

— Amigos — ele falou, sua cabeça começando a balançar. — Amigos. — Ele se levantou abruptamente. Seu braço chicoteou no ar e o anel saiu voando pelo playground.

— Vai se foder, Clarke.

Eu me encolhi, não por causa das palavras, mas pelo modo como ele as disse. Pelo veneno em sua voz. De repente, a avó começou a recolher suas coisas e reunir a tropa para debandar dali.

— Finn, por favor…

Ele segurou meus ombros com força, me inclinando de costas na direção da mesa. Disse, direto no meu rosto:

— Vai se foder!

Meu coração parou de bater. Ele se endireitou e seus olhos se encheram de lágrimas.

— Finn. Não.

Ele saiu como um furacão, espirrando cascalho no seu rastro. Com o pulso, esfregou uma lágrima no rosto.

— Ah, meu Deus. — Minha cabeça caiu entre minhas mãos. Não era para ser assim.

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Clarke e Finn terminaram. E agora? O que será que está por vir? 🤔🤨

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