Capítulo 3 - Parte I - Estafeta

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(Uma porta rangente se fecha, de forma igual é passada e trancada a chave, passa-se um ciclo

 de lua cheia)

Estafeta: (chama em ecos) Senhor Lhorpa, senhor Lhorpa...

(senhor Lhorpa desperta, procura na úmbria que imperceptível desaparece)

Lhorpa: (dissertativo) Me tratam senhor Lhorpa, assim como de certo atendo as ordens, gosto.

 Profissão? Tenho por arrecadador de carolus. Religião? São necessárias... sou o mais perfeito

 dos ingênuos carolas... são minhas ideologias, ideologias de um tolo.

Lhorpa: (súbito) Tens? Tens algum carolus para eu arrecadar? Faço-me de tolo se necessário!

Lhorpa: (esbraveja) Hááá! Outra vez persegue-me, parece-me até minha sombra, se não meu

 nome...

Estafeta: (rebôo) Senhor Lhorpaaa...

Lhorpa: (súbito) Sim senhor!!! Até que me de por conta de quem se trata.

Lhorpa: (atônito) Tenho medo de fantasmas... revela-te ou me atolo em diarreia, cago-me todo.

Lhorpa: (saudoso) Shakespeare... Shakespeare...

Ser-te ou não ser-te, doido!!! Ser-te em vida o que foste em morte, só... e póstumo?

Lhorpa: (contido) Sou fadista por distração, vivo o que canto, jaz o que vivo é fato.

(algumas notas são tiradas da guitarra, volta a falar com quem lhe chama)

Lhorpa: De forma alguma sou torpe a sua lápide! Amas-te Julieta? Sim Shakespeare! Amas-te

 Julieta ter morrido de amor e tê-la vivido, sim?

Lhorpa: (sereno) a inquietude causa-te cefaleias... ao ver a sanha daqueles fúteis macacos,

 esmagarem com o teu próprio fêmur, teu crânio e depois o teu peito...

Lhorpa: (veemente) de certo que amei, mas amei como tu amas-te...

Lhorpa: (exasperado) Febril e cronicamente...

Lhorpa: (deboche) tu amas-te mais a mulher trôpega... não é mesmo?

Lhorpa: (desdém) platônico eu!?

Lhorpa: (conformado) platônico...

Lhorpa: (exacerbado) platônico sim... mas nunca um frustrado!!!

Lhorpa: (desdém) certas coisas não devem ter sua explicação. Se me fizer compreendido em

 tudo, por certo acabaria por extinguir várias profissões e os teus profissionais.

Lhorpa: (jocoso) tenho respostas infinitas para as perguntas tolas... ou tolas respostas para as

perguntas infinitas...

Lhorpa: (desdém) doido! Doido estou ficando eu!!! E daí ? Se elas não têm coerência! Razão!

Lógica!!! Se são paradoxos, metafóricos vermes... sou eu o pensador, as ideias, são elas todas

minhas... (suspiro) pois tudo o que penso, em nada converto para minha inútil existência. É

como o amor de um homem, subsiste, sobrevive de migalhas...

(esbarra nas cordas da guitarra chamando-lhe a atenção)

Lhorpa: (nostálgico) hááá... queria eu ter uma canção que tornasse eternamente um

prisioneiro...

Lhorpa: (devaneio) lembro-me... (alegre) veja... lá vou eu... quanto me foi feliz a puerícia... a

primeira infância consagro ao sétimo dia a nostalgia!!! Dedico ao domingo a felicidade... e que

todos estejam obrigados a serem felizes neste dia! (alucinado) quanto aquele aclive, que subira

aos prótoques, aquele lavrado que sei lá quantas centenas de pedras e quantos milhares de

pretos corpos e negros dias levaram para ali, derramá-los... lá íamos nós... meu legitimo irmão e

um estranho, de um sorriso quase sempre pálido, mas que inspirava certa confiança... há

prótoques cume à cima!



Senhor LhorpaOnde histórias criam vida. Descubra agora