(Uma porta rangente se fecha, de forma igual é passada e trancada a chave, passa-se um ciclo
de lua cheia)
Estafeta: (chama em ecos) Senhor Lhorpa, senhor Lhorpa...
(senhor Lhorpa desperta, procura na úmbria que imperceptível desaparece)
Lhorpa: (dissertativo) Me tratam senhor Lhorpa, assim como de certo atendo as ordens, gosto.
Profissão? Tenho por arrecadador de carolus. Religião? São necessárias... sou o mais perfeito
dos ingênuos carolas... são minhas ideologias, ideologias de um tolo.
Lhorpa: (súbito) Tens? Tens algum carolus para eu arrecadar? Faço-me de tolo se necessário!
Lhorpa: (esbraveja) Hááá! Outra vez persegue-me, parece-me até minha sombra, se não meu
nome...
Estafeta: (rebôo) Senhor Lhorpaaa...
Lhorpa: (súbito) Sim senhor!!! Até que me de por conta de quem se trata.
Lhorpa: (atônito) Tenho medo de fantasmas... revela-te ou me atolo em diarreia, cago-me todo.
Lhorpa: (saudoso) Shakespeare... Shakespeare...
Ser-te ou não ser-te, doido!!! Ser-te em vida o que foste em morte, só... e póstumo?
Lhorpa: (contido) Sou fadista por distração, vivo o que canto, jaz o que vivo é fato.
(algumas notas são tiradas da guitarra, volta a falar com quem lhe chama)
Lhorpa: De forma alguma sou torpe a sua lápide! Amas-te Julieta? Sim Shakespeare! Amas-te
Julieta ter morrido de amor e tê-la vivido, sim?
Lhorpa: (sereno) a inquietude causa-te cefaleias... ao ver a sanha daqueles fúteis macacos,
esmagarem com o teu próprio fêmur, teu crânio e depois o teu peito...
Lhorpa: (veemente) de certo que amei, mas amei como tu amas-te...
Lhorpa: (exasperado) Febril e cronicamente...
Lhorpa: (deboche) tu amas-te mais a mulher trôpega... não é mesmo?
Lhorpa: (desdém) platônico eu!?
Lhorpa: (conformado) platônico...
Lhorpa: (exacerbado) platônico sim... mas nunca um frustrado!!!
Lhorpa: (desdém) certas coisas não devem ter sua explicação. Se me fizer compreendido em
tudo, por certo acabaria por extinguir várias profissões e os teus profissionais.
Lhorpa: (jocoso) tenho respostas infinitas para as perguntas tolas... ou tolas respostas para as
perguntas infinitas...
Lhorpa: (desdém) doido! Doido estou ficando eu!!! E daí ? Se elas não têm coerência! Razão!
Lógica!!! Se são paradoxos, metafóricos vermes... sou eu o pensador, as ideias, são elas todas
minhas... (suspiro) pois tudo o que penso, em nada converto para minha inútil existência. É
como o amor de um homem, subsiste, sobrevive de migalhas...
(esbarra nas cordas da guitarra chamando-lhe a atenção)
Lhorpa: (nostálgico) hááá... queria eu ter uma canção que tornasse eternamente um
prisioneiro...
Lhorpa: (devaneio) lembro-me... (alegre) veja... lá vou eu... quanto me foi feliz a puerícia... a
primeira infância consagro ao sétimo dia a nostalgia!!! Dedico ao domingo a felicidade... e que
todos estejam obrigados a serem felizes neste dia! (alucinado) quanto aquele aclive, que subira
aos prótoques, aquele lavrado que sei lá quantas centenas de pedras e quantos milhares de
pretos corpos e negros dias levaram para ali, derramá-los... lá íamos nós... meu legitimo irmão e
um estranho, de um sorriso quase sempre pálido, mas que inspirava certa confiança... há
prótoques cume à cima!
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Senhor Lhorpa
RomanceMais uma história de amor... outro fim trágico, onde se busca o inatingível, o amor perfeito... Não meus caros, aqui falamos de fome, de sede, de desejo, de estarmos em busca do que nos é de direito e se não o for lutaremos até a morte para tomar...