Two

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- Então a Karol vem mesmo? - Yenny estava cortando um tomate para a salada que comeriam no almoço, quando Lana atravessou a divisória para a cozinha, o que a fez lembrar sobre a informação que a sua nora lhe deu há alguns dias.
- Vem sim. - Lana confirmou, um sorriso surgindo em seu rosto. A menina estava com a mamadeira da filha nas mãos, indo até a pia para que pudesse lava-la. - Ainda não caiu a ficha de que ela realmente vai estar aqui em tão pouco tempo. - Suspirou enquanto abria a torneira para que pudesse começar a fazer o que precisava.
- Quando ela chega mesmo? - Yenny perguntou, ainda concentrada no que fazia.
- Daqui dois dias. Ela sai amanhã a noite de lá. - Lana parou um pouco, analisando o percurso. - São oito horas de vôo. Karol tá em Recife agora, vai sair de lá. Já entregou o apartamento no Rio de Janeiro, fez tudo o que precisava... acredito que agora só falta mesmo arrumar as malas. - Lana contou, lembrando da chamada de vídeo que fez no dia anterior com a melhor amiga.
- Oh, está muito perto! - A mulher sorriu, olhando para Lana que estava sorrindo também. - A gente devia preparar um dos quartos para ela, do jeitinho que ela gosta. - Propôs, o que fez o sorriso de Lana sumir de imediato.
- Ela não vai ficar aqui. - Informou, a voz mais baixa agora.
- Como não?!
- Eu até que tentei... mas é a Karoline, né? A cabeça dela é mais dura do que uma pedra. - Lana terminou de lavar a mamadeira, a colocando em uma caixinha rosa junto com outros utensílios de Luna, a guardando no armário.
- Ela poderia ficar aqui por alguns dias até se estabelecer. - Yenny compartilhou sua ideia com Lana. - Tem quartos de sobra.
- Foi o que eu falei. - Lana virou-se para a mulher, concordando e após isso suspirando cansada. - Mas Karol disse que não. Eu vou buscar ela no aeroporto e ela vai pra um hotel até encontrar um apartamento que goste. - Contou os planos de Karoline.
- Os garotos já sabem? - De repente, Yenny lembrou.
- Não! Karol pediu pra não contar... - Lana tinha uma linha reta em seus lábios agora, comprimidos um contra o outro. - Acho que vai ser uma surpresa e tanto. - Voltou a falar, rindo baixo no final.
- Ô, se vai... - Yenny riu, fazendo Lana rir um pouco mais.
- Acho que por isso ela não quer ficar aqui. - Lana andava até a divisão da cozinha com o outro cômodo, afim de ir para o quarto da filha, verificar se ela dormia.
- Isso vai dar um filme... e daqueles bem dramáticos! - A mais velha comentou, voltando sua concentração para a comida. Não sem antes poder ouvir Lana concordar entre risadas.

(...)

- Mainha, você viu aquela bolsa que eu amo? Aquela pequenininha, preta? - Karol procurava em cima da cama, tirando as roupas que estavam sobre a mesma, na tentativa de achar o objeto.
- Com essa bagunça como acha que vai encontrar algo? - Jane apareceu na porta do quarto, olhando para a filha.
- Eu tô tentando arrumar a última mala e não consigo achar absolutamente nada! - Reclamou, sentando-se na cama por cima das roupas espalhadas sobre a mesma.
- Você deveria ter arrumado tudo no Rio. Ter colocado as coisas que queria levar, já que depois tudo virou uma bagunça na mudança. - A mãe da menina entrou no quarto, se aproximando da cama, começando a dobrar as roupas e coloca-las em uma pilha, assim, talvez facilitasse a procura da tal bolsa.
- Eu queria pegar algumas coisas que estavam aqui. - Karol se defendeu. Bufou, sabendo que provavelmente havia esquecido a bolsa no Rio de Janeiro e que nunca mais a veria.
- Dona Inácia pediu para que você fosse lá pegar alguma coisa que ela quer mandar pra Lana. - A mulher lembrou, vendo Karol concordar. - O que foi, Karol?
- Nada... Eu só... - Suspirou, olhando para o teto do quarto para que pudesse controlar o choro que queria aparecer.
- Só...?
- Estou nervosa. - Confessou. - A última vez que fui em Miami foi a passeio, para ver a Luna quando nasceu. Agora é diferente. - Falava baixo, desviando os olhos para suas próprias mãos entrelaçadas.
- Você já morou lá. Não é como se fosse uma novidade. - Jane analisou, lembrando de quando a filha deixou tudo em Recife para ir em busca dos seus sonhos e dos sonhos da melhor amiga.
- Parece que faz tanto tempo. - Karol riu baixo. - E as coisas estão tão diferentes. Parece que foi uma outra vida, na verdade. A vida de uma Katoline diferente. - Completou, externando o que sentia.
- Filha, você sabe que pode desistir e continuar trabalhando por aqui, não sabe? - Jane tocou o ombro da menina, que em um gesto automático levou sua própria mão até a da mãe.
- Eu sei. Mas eu não quero. - Karol fez uma pausa, pensando em como explicaria. - Eu senti que era o momento de voltar.
- Então...?
- É besteira. Acho que é só ansiedade mesmo. - Resolveu por um fim na conversa. Não queria contar para a sua mãe como estava realmente nervosa por voltar. Preferia que ela pensasse que ela apenas estava ansiosa e que tinha tudo sob controle. Karol não tinha, na verdade. Os últimos dias foram de muitas reflexões e auto críticas. Ela havia dito, lá atrás, que nunca retornaria para Miami. Estava feliz vivendo no Rio, tinha sua carreira consolidada, uma vida boa. Trabalhava com vários artistas renomados no país e América Latina. Mas, mesmo assim, a proposta irrecusável bateu em sua porta. E depois de poucos segundos após ouvi-la ela já sabia. Ela tinha, sim, que aceitar. Mas não pensou muito sobre em como seria estar de volta aos Estados Unidos e agora que faltava apenas um dia para o seu embarque, a ficha havia começado a cair. Ela voltaria para o lugar onde tudo começou. Seu coração estava feliz, mas, ao mesmo tempo, nervoso, ansioso e aflito.

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