Um meteorito que caiu ao litoral de Salvador da Bahia intriga astrônomos da Universidade de Salvador ao verem que em volta do meteorito há sementes. Uma das sementes é plantada para ver o que vai nascer; daí, então, nasce um monstro.
Após a apressada passagem pelo apartamento do senhor Pastěřr, o professor Álvaro voltou à seu apartamento da Praça Castro Alves, onde tirou a noite de sono.
Ao amanhecer seguinte, o professor estacionou seu carro frente um poste à calçada da Universidade. Lá logo encontrou com o senhor Pastěřr, que carregava um caixote de madeira do tamanho duma panela.
— Álvaro! — cumprimentou-lhe o barão — Até que enfim aqui!
— E o meteorito?
— Oh, ele está aqui!... — o barão deu leves tapas no caixote.
— Ao laboratório!
Cruzando o gramado, subindo as escadarias da entrada, passando por entradas e corredores, chegaram eles ao laboratório da Universidade.
O laboratório compreendia em uma sala de paredes, teto e chão brancos, sem sequer uma janela — tendo somente entradas de ventilação por tubulação no teto.
Era uma sala que abrangia de dois à quatro quadros-negros nas paredes. Aqui e ali, alguns cartazes de questões científicas - como a tabela periódica, e aqui e ali anatomia do ser humano e de alguns animais. Às estantes, podia-se observar amostras de alguns líquidos vedados à vidro. Via-se então alguns balcões brancos, todos eles com alguns frascos de vidro — que usariam provavelmente para misturas químicas —, e alguns microscópios. E aí iam dentre outros instrumentos.
Não se tem palavras o suficiente para descrever tamanha maravilha que era o laboratório da Universidade.
O laboratório estava deserto. Não havia ali sequer um raio de vida humana a não ser o professor e o barão. O professor sentou-se numa cadeira giratória dum balcão. Ele então arrancou um pedaço do meteorito, e o colocou à uma lâmina do microscópio.
— Não vejo nada de mais... — dizia o professor, ajustando aqui e ali o aparelho.
— Que decepção!... — lamentava-se cochichando o senhor Pastěřr.
— Somente observo que este meteorito é como quase todos os outros: feito de material rochoso. Mas a diferença é que esse é rochoso e tem algumas aberturas aqui e ali, como um cupinzeiro. Você mesmo pode observar à olho nu se observar bem o meteorito.
— De fato, possui várias cavidades... Mas o quê?! — o barão viu naquela rocha do Espaço algo que o surpreendeu; ele ajustava seus óculos.
— O que foi? — o professor levantou-se da cadeira.
— Não pode ser!... Sim, mas são!
— São o quê?
— Sementes!
— Sementes?! Mas isso é impossível!
— Impossível? - disse o senhor Pastěřr. — Pois veja você mesmo!
De fato, eram sementes. Se não fossem, era algo parecido. Àquele momento, uma tempestade de conhecimentos e paranoias veio à cabeça do professor Álvaro. "Sementes do Espaço!..."; era uma das infinitas coisas que ele pensava de uma vez só.
— Mas... isso é impossível! — disse o professor. — Não podem ser sementes!
— Então o que propõe que sejam?
— Podem ser qualquer coisa parecida, menos sementes!
— Pois então perguntemos à alguém que entenda de sementes — propôs o senhor Pastěřr.
— Um professor de Botânica?
— Não um professor, mas uma professora!
— Pois eu sequer conheço alguma professora em toda essa universidade, e muito menos de Botânica.
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— Não de Botânica, mas de Biologia.
— Mas de quem fala, homem?
— A professora Yara, a única mulher a ser mestre daqui.
— Oh, sim!... Não me recordava de existirem professoras aqui na Universidade.
— Pois ela é a primeira — respondeu o barão. — E a primeira à ensinar Biologia. Esta ciência na nossa Universidade necessitava de professores que realmente fossem capazes!...
Com isso, a professora Yara foi chamada ao laboratório pela recepcionista.
E logo depois, a uns quinze minutos, ouviu-se um bater à porta.
— Que entre — disse o professor.
Da porta saiu uma moça em seus vinte e poucos anos. Uma mulher de cabelos negros e ondulados, amarrados com uma fita em forma de rabo-de-cavalo. Era uma moça de pele branca como a casca do ovo de um pombo, e tendo leves sardas às bochechas.
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A professora Yara Silvestre.
— Os senhores me chamaram? — disse a novata professora.-
— Professora Yara!... — cumprimentou-a o professor. — É um prazer tê-la aqui, e obrigado por atender à nosso chamado!... Pois bem, o que acontece por aqui é o seguinte... Por favor, sente-se — e ela sentou-se à cadeira do balcão.
O professor então abriu o caixote de madeira.
— Eis o nosso caso, professora.
— Um meteorito? — dizia ela. — Não pode ser... É o meteorito que havia saído nos jornais há um tempo?
— O próprio — respondeu o professor.
— E no que eu me encaixo? Sou professora de Biologia, não de Astronomia!...
— O caso, professora, é que encontramos "sementes" por volta do meteorito. A senhorita mesmo pode observar.
— Sementes?... — ela ajustava seus óculos. — Mas é impossível!
— Eu disse a mesma coisa, professora. Mas tive de acreditar.
— É impossível! — repetia ela. — Sementes não vem do Espaço para a Terra!
— Mas a questão, professora, é se são ou não sementes... —dizia o professor Álvaro. — Bem, a senhorita mesmo tire uma das sementes com uma pinça e coloque-a ao microscópio.
A professora tirou do bolso de sua camisa uma pinça de prata, tirando uma das "sementes" do meteorito e colocando-a numa lâmina do microscópio.
— Vamos ver... — ela observava ao aparelho, ajustando-o constantemente. — De fato não posso negar. São sementes, e das mais genuínas. Não se parecem com sequer uma semente que eu tenha conhecimento, pois ela tem a coloração dourada como o ouro!... Não proponho acreditar nisso assim do nada!
— E o que a senhora propõe?
— Proponho que peguemos um canivete de lâmina das mais finas o possível, e abrirmos a semente ao meio.
O barão logo entregou à professora seu canivete. Ela logo cortou o objeto ao meio, dizendo logo em seguida:-
— Pelo o que é sabido, sabemos que uma semente é formada pelo tegumento ou casca, tendo o endoesperma que envolve o embrião de seu interior. Toda sua importância está ligada às mais primitivas formas reprodutivas e dispersão; e é evidenciada pelo sucesso desses dois grupos de plantas em dominar a paisagem.
— E o que tudo isso significa? — quis saber o barão, um pouco impaciente, puxando o resto dos cabelos que tinha.
— Significa, senhor — dizia ela —, que de fato isso é uma semente. Observei no microscópio que o diferente desta é que possui um embrião pré-desenvolvido, como se já estivesse nascendo!... Aliás, proponho uma outra coisa, se não parecer tamanha maluquice aos senhores.
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A visão que a professora tinha do microscópio.
— E o que seria? — disse o professor.-
— Que a plantem num vaso, para ver o que vai nascer! — e dessas palavras se fez um silêncio absoluto e sinistro, até ser quebrado pelas últimas palavras da professora antes de sair da sala: — Então, senhores, peço que isso fique só entre nós até nossa "planta" nascer; se é que daí vai sair de fato uma "planta"... Nos encontramos amanhã mesmo, às duas horas, em meu apartamento na Constâncio Alves, №24.
E a porta foi fechada com um tom assustador, e um assustador silêncio prevaleceu aos dois que ficaram ao laboratório.