Capítulo 01: Não se preocupe, pai

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 O soprar suave do vento, em tom ritmado e agradável, preenchia cada pequeno canto da espaçosa e tão invejavelmente luxuosa Torre da Carpa na manhã do dia 20 de fevereiro. O clima sereno, certamente, era como um presente dos céus àquela data especial e ao evento tão celebrável que a marcava.

 No interior do imenso edifício dourado, passos apressados evidenciavam o empenho fervoroso dos servos em decorar o mais perfeita e agilmente possível toda a extensão do amplo ambiente. Assim como em todos os anos desde que aquela tão cara vida havia vindo ao mundo, todos os esforços pareciam concentrados em tornar o dia de sua chegada em um tempo feliz a se festejar. A celebração do dia em que o tão prestigiado e talentoso filho de Jin GuangShan, Jin ZiXuan, agraciou pela primeira vez com sua iluminada presença todos os felizardos que podiam ter o prazer conhecê-lo. O dia, claro, especial e unicamente pertencente à ele.

 Jin GuangYao suspirou profundamente quando cessou seus passos, antes tão frenéticos quanto os de qualquer outro naquela manhã. O sol sequer havia estado em seu ponto alto e seus pés já começavam a latejar por não terem encontrado descanso desde que se levantara, correndo para lá e para cá enquanto orientava a organização das festividades. Esse nível de esforço era quase uma rotina desde que havia, enfim, sido reconhecido por Jin GuangShan após seus feitos durante a Campanha da Queda do Sol, ainda que cargas tão pesadas de trabalho não costumassem ser postas sobre as costas de filhos de pessoas de tão alto escalão. Jin GuangYao estava acostumado, era fato, mas tudo parecia especialmente árduo naquele dia. Fosse ou não para sua felicidade, ele conhecia bem as origens de tal desgaste acentuado.

 Permitindo que a brisa fresca lhe soprasse os longos cabelos e aliviasse um pouco o embrulho que lhe apertava o estômago desde o momento em que abrira os olhos, Jin GuangYao fechou suas orbes douradas. Em sua mão, firmemente segura por seus dedos esguios, uma lista bem estruturada e quase completamente preenchida jazia intacta; ele realmente era um bom organizador e as festividades para o aniversário de seu irmão nunca pareceram tão detalhada e perfeitamente bem executadas antes.

 Embora já estivesse mais exausto do que deveria, consequência esperada para que tais resultados perfeitos fossem possíveis, não era a intenção de Jin GuangYao reclamar de uma tarefa que lhe fora atribuída diretamente por Jin GuangShan, longe disso! Claro, não lhe incomodava em nada trabalhar incessantemente para arrancar um mísero elogio admirado dos lábios de seu pai ou algum reconhecimento e afirmação de terceiros. Ora, era só um pouco de esforço para celebrar a vida de seu querido e nada arrogante irmão, embora a sua própria vida, vinda ao mundo no exato mesmo dia, sequer fosse lembrada. Mas, certamente, isso não lhe incomodava em nada. Ou era isso que seu sorriso ensaiado fazia pensar.

 Os olhos de Jin GuangYao repentinamente arderam quando a sensação estranha na boca de seu estômago se revirou mais uma vez. Ele piscou algumas vezes para afastar as lágrimas que lhe incomodaram sem aviso prévio e agradeceu mentalmente por estar sozinho. Seus dedos apertaram com força a lista em suas mãos, amassando a superfície delicada do papel caro. Como diabos aquilo poderia ser justo, afinal? Ele não havia, enfim sido aceito? Então por que raios nunca se sentira tão rejeitado antes?

 Sequer sabia, no fim das contas, o que, de fato, sentia. Injustiça por não ter sequer recebido um "feliz aniversário", enquanto Jin ZiXuan já havia perdido a conta de quantas felicitações recebera? Tristeza por rigorosamente ninguém perceber o quão tudo aquilo lhe era doloroso e, com ares de preocupação e afeto, lhe demonstrar a mínima importância? Raiva por fazer tanto por todos em troca de migalhas de reconhecimento, quando tanto? Ou mesmo inveja pelo fato de que o amor, a atenção e a admiração desmedidos que Jin ZiXuan recebera em um dia, ele próprio nunca recebera em toda vida? Não importava como se chamava o sentimento ruim que lhe consumia como um incêndio ardente, no fim das contas. Se houvesse um modo de fazê-lo ir embora, era isso o que, de fato, importava. A certeza de que esse modo não existia — e, se existia, lhe era desconhecido —, entretanto, apenas alimentava a sensação incômoda que amaçava sufocar o rapaz de vestes douradas a qualquer momento.

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⏰ Última atualização: Mar 13, 2022 ⏰

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