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Eu tinha algumas observações a fazer

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Eu tinha algumas observações a fazer...

Primeiro: eu ainda estava assustada pelo fato de não ver o Max brigando de volta com o pai. Não tinha nem duas semanas que eu estava trabalhando com ele e já tinha o visto discutir com Horner, com Newey e com a maioria dos mecânicos.

Segundo: Como assim meu pai tinha sido amigo de um cara tão babaca quanto Jos Verstappen? Fiz uma nota mental para pesquisar ou perguntar para minha mãe sobre isso quando tivesse chance.

Terceiro e o que mais me atormenta: ele me chamou de "Cecília" umas duas vezes. Nunca tinha escutado meu primeiro nome sair da boca dele até então e tô assustada por perceber que preferia que me chamasse assim para sempre.

Bônus: o clima dentro do carro me deixou ainda mais assustada, ele estava dirigindo, mas parecia estar muito, muito longe e pra completar o trânsito ainda estava uma merda.

O que ia acontecer agora? Ele ia simplesmente fingir que eu não existo?

—Você devia ter entrado à direita — Me ouvi falar, o olhar focado no GPS ligado no rádio do carro.

—Não diga — Ele resmungou revirando os olhos — Quer dirigir no meu lugar? — Me olhou de lado.

—Talvez seja melhor, já que você não tá conseguindo — Resmunguei de volta.

Fiquei confusa, quer dizer que ele queria fingir que nada tinha acontecido e voltar para estaca zero? Então tá.

—Pode ter certeza que eu de olhos fechados e um braço quebrado, ainda dirijo melhor que você — Ele falou o tom de voz cortante me atingindo em cheio.

Que cara maluco 15 minutos atrás estava quase me beijando e agora já me odiava de novo?

—Engraçado que ontem quando eu tava dirigindo seu carro você não pensou assim — Alfinetei de volta.

—Óbvio, eu não estava sóbrio. Se estivesse você nem estaria no mesmo carro que eu — Disse, tamborilando os dedos tranquilamente no volante.

—Uau. É muito bom saber disso, da próxima vez eu te largo lá — Resmunguei, ficando realmente com raiva.

—Devia ter largado. Pelo menos eu não estaria com torcicolo — Ele não dá o braço a torcer nunca?

—Você não sabe dizer obrigado? — Me ouvi perguntar, realmente chateada.

—Quer que eu te indique para o Prêmio Nobel da Paz também? — Foi a resposta dele.

Eu desisti.

—Para o carro que eu vou descer — Avisei, tirando cinto de segurança.

—Nem fudendo — Ele riu.

—Para porcaria do carro, Verstappen — Disse quase gritando com ele, mas me controlando.

—Eu não vou parar o carro — Ele falou, parecendo tão irritado quanto eu.

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—Você não quer que eu meta a minha mão no volante, então para o carro. — Pedi, entre dentes.

—Qual foi, Cecília? Tudo isso por causa de um "obrigado"? — Falou jogando o carro para o acostamento.

Ele achava que eu era idiota? Me formei em engenharia automotiva por um motivo. Óbvio que ia perceber de cara que as portas estavam travadas. Me virei e olhei para ele com todo ódio que vinha acumulando.

—Eu me meti no meio de uma briga sua e te carreguei bêbado de uma balada clandestina até o hotel e você tem a coragem de dizer que se dependesse de você eu nem estaria aqui? Tem saco para tudo e para mim já deu. Destrava as portas.

Ele não se moveu, mas apertou as duas mãos com força contra o volante

—Tá — Suspirou e eu achei que fosse destravar o carro para eu descer, mas ao invés disso virou a cabeça para mim — Obrigado, Cecília — Disse devagar e pausadamente — Satisfeita?!

Não, claro que não, mas minha mente parou de funcionar no "Cecília", quando ele falava a impressão era que o acento agudo saía do "cí" e partia para o "Lía" tipo "Cecilía".

—Tudo bem? — Perguntou quando fiquei tempo demais calada — Coloca o cinto de segurança, por favor — Limpou a garganta.

Coloquei o cinto de segurança em silêncio, e assim permaneci. Não queria brigar de novo, minha cabeça estava doendo e teríamos poucas horas de descanso até o horário do voo.

Juro, eu odiava acordar. Acordar de madrugada ainda com sono e com a cabeça doendo então nem se fala.

O caminho até o aeroporto foi rápido, o que me matou foi olhar pra minha poltrona na janela e ver que o Max já estava lá. Fiquei surpresa quando eu nem precisei pedir para ele sair e ele trocou de lugar.

Odeio voar. Odeio a sensação de saber que não tem nada abaixo do avião e se acontecer qualquer coisa provavelmente ele vai se espatifar no chão e ninguém vai sobreviver.

Então imagina meu desespero quando acordei sentindo avião todo chacoalhar.

—Meu Deus, meu Deus, meu Deus — Murmurei, mais para mim do que para qualquer outra pessoa. Todas as luzes estavam apagadas e a maioria das pessoas dormia como seu avião não tivesse chacoalhando todo.

—Calma é só uma turbulência normal — A voz do Max me atingiu.

Normal é meu caralho.

Tremer desse tanto é tudo, menos normal. Comecei a hiperventilar. Eu ia morrer e o número da minha mãe estava bloqueado no meu telefone, mas se bem que talvez fosse um alívio para ela saber que eu tinha morrido.

—Ei, calma aí — Max continuou falando.

Acho que a mão dele estava sobre a minha, mas eu estava tão apavorada que nem percebi.

—Tá, vamos conversar.

—Que? — Perguntei quase sem ar.

—Sei lá, vamos jogar alguma coisa, não sei. Você precisa se acalmar — Ele disse olhando para baixo, isso fez com que eu olhasse também.

—Meu Deus, desculpa — Tirei minha mão da dele quando percebi que estava esmagando a mão do garoto. Respirei fundo algumas vezes — O que vamos jogar? — Perguntei para ele. Observei enquanto ele pensava. Depois de um tempo, se remexeu no assento, enfiou a mão no bolso do assento da frente e tirou de lá um saquinho de balinhas que tinham nos dado no embarque.

—Vamos jogar "eu nunca" — Falou jogando o saco de balinhas de uma mão para outra — Se já fez, come uma dessas.

—Ew, essas gomas são horríveis — Fiz careta, ele riu.

𝐁𝐀𝐃 𝐈𝐍𝐓𝐄𝐍𝐓𝐈𝐎𝐍𝐒 • 𝐌𝐀𝐗 𝐕𝐄𝐑𝐒𝐓𝐀𝐏𝐏𝐄𝐍Onde histórias criam vida. Descubra agora