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[ 13 de março, sábado ]





    Me desvencilho do abraço delicadamente, e acaricio a lateral da cabeça de Castiel rapidamente antes de pegar sua mão e abrir a porta. Há uma mulher com uma menininha do lado de fora, e ela nos lança um olhar descontente enquanto saímos. O grupo feminino está saindo do palco, carregando um cartão azul — que suponho ser o vale presente do D&B — e um pequeno troféu. Algumas pessoas oferecem sorrisos compadecidos ao ruivo enquanto passamos, mas ele não parece se dar conta.

    O clima não está nem um pouco melhor quando chegamos à mesa. Mark e Jake estão sentados, cabisbaixos, enquanto Lysandre e Ariana tentam consolá-los. Keith está nos braços de Leigh, mas vem em direção ao Castiel assim que o vê. Ele não é um grande fã de abraços, porém permite que o loiro se aconchegue em seu peito por um ou dois minutos. Solto um suspiro chateado. Eu preferiria tê-los me perturbando a isso.

    — Bem, o que faremos agora? — Leigh pergunta.

    — Vamos embora — Castiel decide. — Não temos mais nada para fazer aqui.

    — Tem certeza? São só nove e meia, nós podemos ir para outro lugar. Podemos comer uma pizza ou ir ao Taco Bell, por minha conta. Se não estiverem com fome, podemos fazer outra coisa.

    — Comer pode levantar nosso ânimo — Jake diz.

    — Hambúrgueres seriam legais — Keith sugere.

    — Ótimo, hambúrgueres — Leigh concorda. — Aonde querem ir? McDonald's, Burger King, Shake Shack?

    — Tem uma hamburgueria na zona oeste que é muito boa. Five Guys Burger.

    — Perfeito. Vamos, então?

    — Eu realmente quero ir pra casa — Castiel diz, então se dirige a mim: — Pode ir com eles, se quiser.

    — Não, eu vou com você. A menos que queira ficar sozinho.

    Castiel balança a cabeça negativamente. Os outros não tentam fazê-lo mudar de ideia; eles entendem que insistir só fará com que a decepção vire estresse. Ainda assim, todos nos dirigimos à saída juntos. Eu e Leigh estacionamos em direções opostas, então nos despedimos na calçada e separamos o grupo. Entrelaço meus dedos aos de Castiel enquanto caminhamos.

    — Eu sinto muito — digo mais uma vez quando entramos no carro, apoiando uma mão em sua coxa. — Há algo que eu possa fazer para te animar?

    — Não acredito que não vencemos. O que isso implica? Talvez não sejamos tão bons quanto imaginamos. Talvez estejamos apenas nos iludindo, achando que temos algum futuro na música. Até agora só fomos contratados para tocar em festas de faculdade.

    — Mas vocês...

    — Não fale da i-D, Greene. A verdade é que só aparecemos na revista porque a banda que eles queriam não pôde comparecer. Foi muito conveniente.

    Torço a boca.

    — O público adorou vocês. Tenho certeza de que se a platéia pudesse votar, a Crowstorm teria vencido.

    — Pode ser, mas isso não importa mais — ele cruza os braços e vira a cabeça para olhar pela janela.

    — É claro que importa, Castiel — insisto, fazendo-o olhar para mim. — Não pode desistir do seu sonho porque não venceu uma competição. O meio artístico é difícil, existem muitas pessoas talentosas por aí, alguns têm mais sorte que outros. Isso não significa que vocês não sejam bons. Outras boas oportunidades vão surgir, você vai ver.

    — Podemos ir, por favor?

    Solto um suspiro derrotado. Ele queria muito vencer a competição, e tem todo o direito de estar chateado e frustrado, mas não gosto de vê-lo assim. No entanto, não tenho outra saída, a não ser deixá-lo absorver esses sentimentos e superá-los em seu próprio tempo. Giro a chave na ignição, e estou prestes a sair com o carro quando o celular do ruivo começa a tocar. Castiel tira o aparelho do bolso; vejo o nome ” Keith ” brilhar na tela. Ele desliza o botão verde para a esquerda e leva o telefone ao ouvido.

    — O que foi? Por que? — suas sobrancelhas ficam franzidas, então seu rosto se ilumina. — Caralho, não brinca! É sério? Onde vocês estão? Tá legal, estamos voltando. Se isso for uma pegadinha, eu vou esfregar sua cara no asfalto até ficar em carne viva.

    — O que aconteceu? — pergunto quando a chamada é encerrada.

    — Temos que voltar — ele responde com agitação. — Keith disse que eles estavam quase chegando no carro quando um cara parou eles. Ele é o representante da tal gravadora que presenteou o grupo vencedor com uma demo profissional, e disse que curtiu muito nossa performance e quer falar conosco sobre um possível contrato ou a gravação de uma demo, sei lá, só sei que temos que voltar.

    — Ai, meu Deus!

    Uma fagulha de entusiasmo se acende em meu interior. Ainda bem que nem saímos do estacionamento. Desligo o carro, e nós corremos para encontrar os outros. Temos que atravessar quase quatro quarteirões, por isso paramos ofegantes na frente dos nossos seis amigos e de um homem asiático de estatura mediana, cabelos pretos penteados para cima e expressão amigável. Ele não está vestido como um grande CEO nem nada do tipo, mas está usando roupas sofisticadas.

    — Você deve ser o Castiel — ele diz, cumprimentando-o com um aperto de mãos. — Eu sou Yan Wang da gravadora Moon Records, mas pode me chamar apenas de Yan. Eu estava dizendo aos seus amigos como a performance da Crowstorm foi uma das minhas favoritas essa noite. É uma pena que minha palavra não tenha contado na hora de decidir o ganhador.

    — Obrigado, senhor. Nós ensaiamos muito.

    — Isso é bom, eu gosto de pessoas esforçadas. É ótimo que eu os tenha encontrado antes de partirem — dessa vez o homem se dirige aos quatro músicos. — Acredito de verdade que vocês têm um grande potencial, por isso gostaria de convidá-los para gravar uma demo em nosso estúdio. Apesar de não terem vencido a batalha, estamos sempre à procura de novos músicos. Deixarei meu cartão para que entrem em contato. Peço que não nos deixem esperando por tempo demais. Foi um prazer conhecê-los.

    O senhor Wang oferece um pequeno aceno de cabeça antes de ir embora. Todos ficamos em silêncio por um segundo, então explodimos em gritos de comemoração. Os rapazes se juntam em um abraço; eu, Leigh, Lysandre e Ana nos unimos a eles em seguida. Estou tão, tão feliz por eles! E orgulhosa também. Isso é totalmente maravilhoso! A Crowstorm não gravará uma demo porque venceu uma competição, e sim porque o próprio representante da gravadora reconheceu o talento e a capacidade deles.

    — Agora nós definitivamente temos que ir a algum lugar e comemorar — Keith declara. — Algum lugar melhor que o Five Guys Burger. Esse acontecimento merece algo grande.

    — Como o que? — Lysandre pergunta.

    — Que tal uma boate? — Ana sugere.

    — Eu conheço um pub maneiro, mas ele fica há duas horas e meia de distância — Jake diz. — Lá tem karaokê, comida da boa, e é enorme. Tem até uma piscina. Fica aberto a noite toda nos fins de semana.

    Todos trocamos olhares, sorrindo de forma travessa. Duas horas e meia é um longo tempo, mas...

    — Bom, é sábado — Leigh diz.

    — E nenhum de nós tem que trabalhar ou estudar amanhã — Keith argumenta.

    — Então...

    — Pé na estrada, cambada! — Mark grita.

    Então todos corremos em direção aos carros. E é assim que acabo numa cabine do banheiro feminino de um pub em outra cidade, com a cabeça de Castiel entre minhas pernas.

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