Passos.
Arin agora ouvia passos.
Eram aparentemente de pessoas, mas quantas? Talvez quatro ou cinco. Seriam a guarda do Grão Senhor? Mas se os boatos que ouvira na embarcação estavam certos, não existe mais guarda do Grão Senhor. O grupo se aproximava da árvore em que ela estava. Ainda não tinham falado nada, Arin mantinha a atenção ao redor, calculando a direção que iam, e montava uma rota de fuga na cabeça.
Estava perto do litoral da primaveril, a única opção em situação de perseguição seria correr para a praia onde seu cheiro se perderia no mar. Ela não sabe onde exatamente fica o portal entre os reinos, Mathias havia explicado, mas ela não pode garantir que encontraria o tal portão em meio a uma fuga. Trabalharia com o que sabe, despistando os perseguidores por tempo suficiente para achar a rocha entalhada. Era um plano idiota, e também o único que tinha.Um som estoou, eram lâminas se chocando uma contra a outra, uma disputa interna entre predadores alvoroçados que sentiam a presença da presa. Arin se preparou para fugir, pegou uma faca e cortou um pedaço de tecido da própria túnica, amarrou no cabo e arremessou longe em um movimento certeiro, cravando a faca no tronco de uma árvore na direção oposta que correria. Não tinha mais volta. A garota pulou da árvore usando a mesma corda que estava amarrada antes para acelerar a descida e correu a plenos pulmões.
Sua distração lhe dera uma vantagem de apenas alguns segundos. Não era suficiente em comparação à velocidade das criaturas. Pela rapidez, mantos pretos e o cheiro pútrido, certamente eram os Naga. Feéricos malignos de sombra e escuridão que se alimentam do medo, fazem você reviver suas piores lembranças até que implore para morrer.
Estavam cada vez mais perto, mesmo correndo o mais rápido que conseguia, após dias sem comer, Arin não conseguiria ficar livre das garras deles por mais que alguns minutos.Um rosnado.
Muito perto.
Os Naga vacilaram com o som. Arin mal se deu conta, suas pernas mal conseguiram acompanhar a própria velocidade, um passo errado que desse, uma pisada em falso e provavelmente quebraria um osso. Suas panturrilhas doíam, seu pulmão queimava, mas ela continuava correndo.
Uma movimentação vinda da sua esquerda a tirou do percurso. Uma fera imensa corria na direção da garota agora. Ótimo, vão disputar minha carcaça. Arin já via a água, estava tão perto que já sentia o cheiro do mar. Conseguiria chegar antes de ser destroçada?
- Canse um pouco mais antes de a pegarmos. – uma voz que não era humana disse, estavam tão perto que não precisavam gritar.
Uma dor aguda cresceu na perna da jovem que corria para salvar sua vida. Seus movimentos travaram e ela caiu rolando por alguns galhos de árvore quebrados. Tinham arremessado uma faca que passou de raspão nela.
Era isso, assim que morreria.
Deitada no chão, vendo seus predadores avançarem.
Não ofegavam e nem pareciam exaustos. Quatro no total. Andavam na direção dela agora.
- Os prometidos não cansam de enviar humanos tolos como você para cá?
- O que esperava encontrar humana?
- Tem medo da guerra?
- Vamos ver melhor do que você tem medo.
O rosnado agora estava a metros de distância, uma animal enorme se aproximava. Uma besta de pelagem dourada, tão grande quanto um cavalo, o corpo predominantemente felino mas a cabeça lupina olhava para ela. A humana agora assistia congelada a disputa entre feras. Ela não era mais a presa ali, apenas uma expectadora em uma briga que estava em outro nível.
Os quatro Nagas se puseram de frente para o Grão Senhor da Primaveril. Eles se rodeavam como se estivessem seguindo passos de uma dança. Algo que só se assiste uma vez. Arin se esqueceu de respirar, estava paralisada. Os Nagas avançaram e Tamlin se pôs de pé, ficando impossivelmente maior. As garras para fora despedaçavam os membros de um deles enquanto os outros subiam pelos braços da fera. O quarto, vendo que o Grão Senhor estava distraído se direcionou para Arin. Os olhos negros encaravam a alma da fêmea, e uma névoa escura foi tomando conta de sua mente.
Ela ouvia gritos, uma garota. Vultos e imagens vinham e iam. Ela não conseguia reconhecer nada dessas lembranças, pareciam ser de outra pessoa. Asas negras. As únicas coisas que ela enxergava com clareza eram asas negras esparramadas no chão, se esse era seu maior medo, faz sentido que seja Rhysand o macho morto a sua frente. Era a única família que restara na vida da garota. Machucados cobriam todo o corpo do feérico, e os gritos eram de Feyre? Ela não deixaria que Feyre sentisse a dor que ela sentiu ao perder Logan, mas como poderia evitar isso? Não podia. Ver Feyre sofrendo era como se seu peito rasgasse novamente, ver seu irmão morto era desesperador. Sentia unhas afundando na carne de sua perna e um bafo quente soprando em sua pele. Ela não estava lúcida, e algo estava acontecendo no mundo real... precisava voltar ao mundo real! Mas como sair da ilusão? Isso nunca aconteceu, e não deixaria que acontecesse agora!
Arin juntou toda a força que ainda tinha e se concentrou na origem desse sonho, estava no fundo de sua mente, mas a cada segundo que ela contava, mais rasa ficava essa ligação com a criatura. Já podia ouvir os sons da briga novamente, mas não mais que isso. Estava presa nesse limbo. Séculos poderiam ter se passado que ela não daria conta que estava aqui, perdida no tempo e em sua mente.A carne de sua perna rasgando, os dedos saíram de seus músculos e a consciência voltava devagar. A besta tinha derrotada os outros Nagas e agora avançava no que tinha Arin sob controle. Essa era a chance de escapar, não haveria outra depois que o último Naga fosse derrotado. Com muito esforço se pôs de pé, e escutando uma briga mortal atrás de si obrigou suas pernas a caminharem para o mais longe possível dali. Não tomara suas poções nos últimos dias, sua magia estava começando a se manifestar, como a sensação de algo brilhando no horizonte dentro da mata. Algo bonito e puro, como um poder maior. Agora a metros de distância, Arin visualizava a passagem ao reino humano, a passagem era feita do poder do próprio Caldeirão. Sua essência pura era a energia mais forte que a fêmea já havia sentido, era quase palpável.
Deve ser incrível sentir isso com as próprias mãos!
Arin esticou o braço em direção ao portal e de repente não estava mais na primaveril, mas sim no fundo de uma floresta do outro reino, no alto do inverno. Em segundos percebeu a poça de sangue que se formada no chão dos seus pés e da tontura que nublava sua consciência. Cortou a barra do manto e improvisou um torniquete na base da coxa. Caminhando devagar, esperava encontrar um chalé em que pudesse pedir ajuda.
Estava fraca, sem comer por dias, com perda importante de sangue, seu corpo no limite físico e agora hipotermia, ela não resistiu à tentação de descansar. Encostou em uma árvore, não tinha forças para escalar, e fechou os olhos. Descansaria só um pouco antes de continuar. Tinha que achar um chalé...
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Corte de Adagas e Sombras - Fanfic Azriel
FanfictionArin, considerada a Princesa da Ordem dos Assassinos é enviada para uma missão em Sob a Montanha, onde conhece pessoas que mudariam sua vida para sempre, como Logan e Rhys, que a considerava uma irmã no meio de todo aquele inferno, mas nem tudo sai...