𝒄𝒂𝒑𝒊́𝒕𝒖𝒍𝒐 𝟓 - 𝒏𝒐 𝒇𝒐𝒈𝒐 𝒄𝒓𝒖𝒛𝒂𝒅𝒐

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Naomi's POV

Jeddah, Arábia Saudita.

Sexta-feira: dia de treinos livres.

Aya tem um jeito sutil de despertar as pessoas. Delicada, sabe? Vai na calma, sem gritar. E foi por isso mesmo que eu quase morri do coração quando fui acordada por uma manada de elefantes em franco desespero passando por cima de mim.

- Naomi, Naomi, Naomi - ela repetia enquanto me chacoalhava. No susto, me sentei em questão de segundos só para vê-la em pura felicidade. - Sabe a... Não, melhor! Vou ler pra você!

Eu ainda tentava me lembrar de qual era o meu nome, tamanho o nível de sonolência, mas Aya já estava limpando a garganta para continuar:

- O motor Red Bull, a falha da Mercedes e a pilotagem de Fontana: as decepções do Grande Prêmio do Bahrein.

- Tá, amiga - eu esfreguei os olhos para conseguir olhá-la com algum foco. - Eu já vi isso. A matéria é minha, lembra? Mandei para a redação na terça.

- Cala a boca e escuta!

Arregalei os olhos, sem entender nada.

- Tá bom, tudo bem.

- Sabe o Twitter da BandSports? Aquele lá que só alcança uns vinte likes por tweet? - Afirmei com a cabeça. - Eles compartilharam sua matéria.

- Porque eu trabalho pra eles, Aya!

- Meu Deus, mulher, fica quieta! - Ela gritou, e imediatamente ouvimos alguns cutucões vindos do quarto de baixo para que fizéssemos silêncio. Levantei as mãos ao ar como se me rendesse e Ayana abaixou drasticamente o tom de voz (não sem antes mostrar o dedo do meio para o carpete bege). - O tweet da sua matéria ultrapassou cinco mil likes em duas horas.

- Tá brincando - murmurei, pasma.

A garota me estendeu seu celular para que eu visse com os meus próprios olhos. Puta que pariu. Dezenas de comentários, retweets, tudo. Em duas horas.

E o que isso significava? Que a minha primeira matéria tinha sido um sucesso estrondoso. Que a chance de eu ficar com a vaga havia subido horrores, que eu poderia realmente ser a substituta de Mariana Becker no próximo ano.

Perdida no meu próprio êxtase, abracei Aya com tanto entusiasmo que fomos as duas ao chão do pequeno apartamento no qual estávamos hospedadas na Arábia Saudita.

- Ayana do céu! É a minha matéria! Com as suas fotos! - Agarrei o braço da garota, sacudindo-a quase tanto quanto fizera comigo há alguns minutos. - Aya, você tem noção do que é isso?

- A vaga vem aí! - Ela gritou novamente, e sentimos mais algumas batidas que nos fizeram cair no riso mais incrédulo que eu podia me lembrar. - A gente precisa comemorar.

- Um vinho hoje depois do treino? - Sugeri.

A haitiana revirou os olhos, decretando:

- Precisa ser melhor, Sniffs. E maior. Além do mais, ir de ressaca pro autódromo amanhã não rola, não. Amanhã, depois da Qualy. Fechado?

Assenti, entusiasmada, e voltei a abraçá-la sem medir a força que estava usando. Enquanto nos recuperávamos do que parecia ter sido um surto, ouvi meu celular apitando embaixo do travesseiro e me arrastei até ele, desbloqueando-o ao passo em que Aya se recompunha.

"Gui: Vai embora cedo ou vai ficar pra F2?"

"Vou ficar", digitei em resposta. "Me procura, tenho novidade". Bloqueei a tela e entrei aos pulos (de felicidade, óbvio) no pequeno e apertado banheiro enquanto a cinegrafista se apoiava no balcão da cozinha para tomar seu café. Quer dizer, da bancada com um frigobar meio capenga e um cooktop que parecia oferecer perigo a qualquer coisa no raio de cinco quilômetros. Nós duas concordamos assim que chegamos, na noite anterior, que não havia como chamar aquilo de cozinha.

FLYING LAP [HIATUS E REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora