Capítulo 32 - Pai ( Miguel )

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Campo de futebol do Colégio Jeon Jung-kook. Três dias depois.


Prometemos levar os treinos à sério.

E levamos.

E como teríamos só duas semanas até o jogo, cada um desses treinos faria diferença para buscarmos entrosamento.

Uma das vantagens de ter sido integrada ao time foi o fato de que Tai amou a ideia. E teve que ceder à nova rotina de atleta.

Não só aos treinos de futebol, mas também aos demais exercícios que já fazíamos para melhorar o condicionamento físico.

Este era o quarto treino seguido com bola que fazíamos. Mas infelizmente, não foi possível organizar dois times completos devido aos desfalques, que acabaram prejudicando a formação das equipes. Então, fizemos um pequeno bate bola com campo reduzido, seguido de treinos de finalização e de aprimoramento da parte técnica.

O tempo estava nublado e a ausência de sol ajudou a não nos castigar tanto.

Mesmo assim, suamos as camisas.

Até mesmo Vanna participou do treino. Apesar de não ter muita intimidade com a bola, ela compensava isso com o seu conhecimento sobre a parte técnica do esporte, o que nos ajudou nos exercícios físicos.

Como sempre, Luz se destacava. E mesmo com o treino em campo reduzido, conseguimos melhorar nosso entrosamento. Ainda faltavam detalhes para tornar nosso time mais forte em todos os setores, mas a técnica Bia nos ajudava muito com sua experiência. E era nítida nossa evolução a cada dia.

A boa notícia foi que a Vaca Vaca não participou do treino. E mesmo sendo uma jogadora regular e com importância tática no elenco, sua ausência não foi tão sentida. E Flecha já estava quase totalmente recuperada da torção no tornozelo.

Ao fim do treino, depois do banho, ganhamos um almoço caprichado da nossa técnica, que havia mandado trazer oito pizzas grandes para forrarmos os estômagos: quatro de frango com catupiry, duas de calabresa e outras duas brigadeiro.

E, para o desespero do time, Vanna mostrou para todas elas onde residia seu verdadeiro talento ao devorar quase três pizzas sozinha.

Eu e minha amiga dizimadora de pizzas dispensamos a carona e optamos por uma caminhada até em casa, apesar do tempo feio, que prometia chover a qualquer momento.

Mas logo que deixamos o colégio, já sentimos os primeiros pingos da chuva. Até tentamos apertar o passo, mas as comportas do céu foram abertas muito rápido e um dilúvio caiu sobre a cidade. E sobre nós.

Por sorte, havia a marquise do senhor Douglas ali próximo e ele nos chamou ao ver que estávamos em apuros.

Corremos para lá e buscamos refúgio em sua humilde residência, ficando livres da chuva, que apenas aumentava.

— Não se preocupem. Já já essa chuva passa — garantiu ele, hospitaleiro, nos oferecendo os melhores lugares da casa.

E enquanto a chuva não passava, começamos a conversar, com Vanna fazendo um interrogatório básico. Mas nosso anfitrião conseguia se esquivar muito bem das perguntas mais pessoais, levando tudo no bom-humor.

Enquanto a conversa progredia, fomos percebendo que aquele homem se tornava cada vez mais articulado nas palavras. A postura seguia a mesma, com a cabeça baixa, as costas encurvadas e os ombros caídos, demonstrando que aquele corpo havia enfrentado uma vida de privações e dor, onde uma tristeza esmagadora se tornou uma companheira constante. Mas ele falava com uma fluidez invejável, escolhendo as palavras como um orador de um congresso. Sua inteligência também ficava cada vez mais evidente na medida em que ele abordava os temas da conversa, com colocações precisas e cheias de sabedoria.

Consciência ViajanteWhere stories live. Discover now