一Ei, o que quer fazer agora? 一a Dickinson pergunta assim que saímos pela entrada principal do colégio.一Eu tenho poder de escolha, é?
一Claro!
Paro no meio do estacionamento, a alguns metros de distância do meu carro e a olho.
一Quero ir pra casa, deitar no chão da sala e tirar um cochilo com você.
一O mesmo programa de todos os dias? 一sorri.
一Sim, é o suficiente 一respondo, plantando um beijinho inocente em seus lábios e voltando a caminhar rumo ao veículo.
Fazem uns três meses desde que a Emily ganhou alta. Temos tentado variados métodos clínicos e saudáveis para mantê-la longe das drogas, mas como o esperado, não deu certo em todas as vezes. A vi recair em várias ocasiões e nunca me senti tão triste. Quer dizer, antes, quando eu a via injetando coisas nas veias dos braços e se entupindo de pílulas coloridas, também me sentia mal, mas não me afetava tanto quanto agora, pois agora eu moro com ela. Vivo com ela e a amo com toda a minha vida. E não existe nada mais dilacerador do que assistir alguém que amo cair e não poder fazer nada pra levantar. É bem mais doloroso do que frustrante. Mas apesar de tudo, nós temos uma a outra, e acho que esse fato por si só tem nos fortalecido bastante no caminho até aqui.
Quanto aos meus pais, não voltamos a entrar em contato. A última vez que os vi foi no dia em que saí de casa e desde então não sei absolutamente nada sobre eles. Nenhum dos dois se atreveu a me ligar ou mandar uma mensagem, e para ser sincera, eu achei melhor assim. Continuo achando, na verdade, porque se o fizessem, muito provavelmente tocaríamos no mesmo assunto e brigaríamos de novo, o que eu não estou nem um pouco afim de fazer nesse momento. Estou numa fase zen, despreocupada e desligada de todos os problemas que costumavam me afligir. Estou finalmente tendo paz de espírito e não quero deixar de ter. Ok que é meio confuso falar de "paz" quando vivo metida num perigo constante, mas não posso mentir. A Dickinson me faz um bem danado e conviver com ela tem me feito sentir melhor ainda, então, pra que perder a cabeça? Já perdi tanto ao longo desse semestre... Foi mais do que suficiente.
Depois de muitos momentos românticos e felizes, a convenci a voltar para as aulas e tentar novamente. Ela de pronto se recusou, mandou uma cacetada de justificativas ridículas e eu, como uma boa namorada-mãe, a trouxe arrastada. Era um saco ficar longe dela todas as manhãs, sem mencionar a preocupação fodida que eu sentia. Mal conseguia focar nas aulas por causa disso e até contava os minutos pra ir embora e checar se estava tudo bem. Uma merda. Mas agora as coisas se resolveram. Ela voltou a estudar, a se esforçar e tumultuar nos corredores junto com o melhor amigo trombadinha, me fazendo passar boas vergonhas. É maravilhoso tê-la por perto, e se eu puder, nunca mais me afastarei.
一E aí, chuchus 一Addison surge do vento, jogando-se sobre o meu capô e me dando um puta susto. 一Vão fazer o que essa tarde?
一Não sei, eu tô entre chutar um velho e xingar uma criança 一Emily brinca.
A catuco de lado.
一Não vamos fazer nada demais, Cheaky 一a respondo educadamente. 一Talvez tirarmos um cochilo no chão da sala.
一Ah, mas isso vocês fazem todo dia 一reclama. 一Qual é, todo mundo vai pra a praia! Vêm também.
Olho de lado para a minha garota e a percebo comprimir uma careta involuntária.
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A Dickinson
RomanceO ensino médio pode ser cruel na maior parte dos casos. Bullying, assédio, preconceito, sobrecarga, pais insuportáveis e tudo que compõe a vida de qualquer adolescente, porém, para Susan Gilbert (Ella Hunt) as coisas não poderiam ser melhores. Namor...