89

728 96 34
                                    


Sarah

— Sarah? — Uma voz distante me chamou.

Minha cabeça doeu de pronto. Uma dor forte que me fez gemer. O meu corpo parecia que tinha sido atropelado. Não precisei abrir os olhos para que todas as memórias que eu queria esquecer enchessem a minha mente, me fazendo resfolegar de dor... As lágrimas vieram quentes e perversas. Deus! Como eu queria abrir os olhos e perceber que tudo não tinha passado de um cruel pesadelo. Mas a dor pesada em meu coração reafirmava que não... Não tinha sido um pesadelo, era a mais cruel realidade.

Abri os meus olhos e a claridade os machucaram. Eu estava em um leito confortável, embora que o meu corpo tivesse tenso o suficiente para relaxar. Era um quarto privativo. Na minha frente estava a Carla. O seu semblante estava pesado, e era nítido que também estava sofrendo. Ela me olhava com compaixão, isso aumentou as minhas lágrimas.

— O que aconteceu? — Perguntei com a voz grossa de choro.

— Você surtou. Foi preciso de algumas pessoas para lhe conter, aplicaram um ansiolítico para que pudesse se acalmar. — Carla explicou.

Algumas coisas vinham em minha mente confusa. Lembrava-me que tinha perdido o controle e que achava que iria morrer sufocada. Funguei com força, engolindo o bolo de lágrimas, Carla me ofereceu uns lencinhos.

— Quando tempo estou apagada? — Perguntei ao enxugar as minhas lágrimas.

— Umas seis horas... — Carla informou. — Pedi para a Thaís ir ao seu apartamento e trazer uma muda de roupa limpa, tanto pra você, como pra Juliette. Ela também trouxe... Duas roupinhas de bebê para os meninos. — Apontou pra uma bolsa no sofá. — Também liguei para a mamãe informando o acontecido. Ela deve estar a caminho.

— E Julie? — Perguntei baixinho, arrasada.

— Linda estava esperando que você acordasse para transferir a Juliette para um quarto.

— Ela acordou?

— Ainda não. Eu acho que quando acordar á primeira coisa que vai querer é vê-la ao seu lado. — Carla comentou baixinho.

Concordei com a cabeça. Precisava ser forte. Muito forte para consolar á Juliette... Mas como eu iria fazer isso se eu não tinha forças para mim mesma?

— Então, é melhor eu estar ao lado de Juliette. — Falei, e tentei me levantar, mas fiquei tonta e fui amparada pela minha irmã.

— Devagar... — Carla pediu.

Assim que me viu, Dra. Linda liberou a transferência de Juliette para o quarto. Enquanto Juliette não chegava, tomei um banho no banheiro do quarto. Um banho rápido. A água fria parecia que tinha lavado a minha alma, mas não removeu a dor que estava aqui... Firme e latente. Fiz minha higiene pessoal com o que Thaís trouxe. Carla tinha providenciado algo para eu comer. Café preto e um sanduíche natural, mas o meu estômago estava debulhado demais para suportar qualquer alimento. Por insistência da minha irmã que dei algumas mordidas no sanduíche, mas não o quis mais.

Tinha certeza que estava respirando por ser um mecanismo automático.

— Sah... — Carla me chamou, parecendo um pouco desconfortável.

— Hum? — A olhei.

— O momento é difícil para todas nós, mas, infelizmente, eu tenho que perguntar... — Carla suspirou, os seus olhos lacrimejaram. — O que faremos com os corpinhos?

O meu choro compulsivo voltou... A ideia de enterrar os meus filhos era horrível, mas não podia deixá-los para que o hospital resolvesse.

— Não vai ter velório. — Disse por fim, quando consegui falar. — Apenas o enterro. Eles ficarão no jazido da família. Mas não faça isso agora, Carla. Por favor... Eu quero que Juliette acorde para que a decisão seja feita de fato. Poderia esperar um pouco?

True Love || Sariette • ADAPTAÇÃO Onde histórias criam vida. Descubra agora