- Eu gostei muito da festa.
- Ah é.
- Sim! Foi a melhor que eu tive em muito tempo e eu fiquei tão feliz com todo mundo lá, assim, não quero desmerecer as festas que as meninas faziam pra mim mas na verdade nunca foi algo tão extravagante e nunca foi uma festa festa na verdade, e eu entendo porque na maioria das vezes a gente tava ocupada demais pra pensar em fazer uma coisinha e condição pra comprar coisa e fazer ela também faltava, era mais fácil sair pra uma festa e tudo mais do que planejar uma, mas de reunir várias pessoas que eu gosto nunca aconteceu até porque meu ciclo de amigos se baseava nas duas e na Lara né, e é muito louco o quanto ele se expandiu em tão pouco tempo e agora eu me vejo rodeada de pessoas muito legais... - paro pra respirar e fazer mais uma conchinha colorida no papel. Passo cola nas costas da figurinha e prenso no papel colorido. - Será que o fato de eu sempre me dedicar muito na facul fez com que eu não conseguisse isso? Tipo aquela lei de que se você é muito dedicado tem um lado negativo que nesse caso é o de você se fechar no seu mundinho? Tudo bem que às vezes eu gosto de ficar um pouquinho na minha e fazer coisas que eu gosto tipo decorações bestas mas criativas envolvendo miçangas e cola, mas não é no ponto de trocar um passeio com as meninas ou coisa do tipo... Por que será que eu nunca consegui mais amigos? A vida adulta é tão chata assim no ponto de te jogar no mundo praticamente sozinha e no meu caso mais sozinha ainda porque nunca tive uma família, ou sou eu mesmo o problema de ser muito chata e insuportá...
- Ih, pó parando aí porra. - ele murmura atrás de mim. - Se eu te aguento, é porque tu é suportável. - bufo uma risada.
- Nooossa mas esse é um consolo muuuuito bom né Mal caminho? Olha, tô me sentindo até melhor... - ele ri baixo. Mas depois envolve as mãos na minha cintura e me aperta no corpo dele, cola a boca no meu ouvido e me faz errar um risco e resmungar.
- Tu não é insuportável e não é chata. - ele fala agora sério. - Se eu falei tá falado. Não quero mais ouvir essa porra da tua boca, tá me entendendo. Tu é incrível, única e foda pra caralho. Repete. - a voz grossa ordena. Tento protestar que não é bem assim mas ele corta: - Repete. - seguro um sorrisinho
- Eu sou incrível, única e foda pra caralho.
- Isso. - murmura satisfeito, e eu só vejo o caminho de fumaça saindo dele e flutuando pela brisa da noite. Tento continuar recortando a forma de ondinha que fiz pra colar no papel de novo, mas não aguento e solto a tesoura pra virar e beijar ele. Meu Deus, como eu amo ele. Envolvo as pernas dos lados das dele e saio lascando beijinhos pela boca e o queixo e todos os lugares do rosto dele, me agarrando no colo dele como se eu nunca pudesse soltar. O cheiro dele inunda meu corpo e ele circula meu corpo com os braços, me chega mais grudada no peito nu e quente dele e começa a devolver os beijos que fazem meu corpo derreter e eu querer mais. Envolvo as mãos no rosto dele e prenso nossos corpos pra não sobrar espaço nenhum. Ele mordisca meu nariz. - O que tu fez sem mim lá embaixo? - demoro um tempinho pra processar a pergunta. O que eu fiz... o que eu fiz sem ele lá embaixo?
- Absolutamente nada. Nada de interessante, na verdade. Você quer dizer sair de conhecer pessoas? Claro que não né Mal caminho, como se eu fosse capaz de conhecer gente nova contigo na minha vida... Não, mas na verdade teve uma coisa que aconteceu que foi interessante sim... sabe, teve uma vez que eu tava num ponto de ônibus depois da facul e uma mulher veio falar comigo bem do nada e aleatoriamente, mas acabei ouvindo porque ela parecia precisar falar e tudo mais e acho que percebeu também que eu tava meio acabadinha, e aí... aí ela me contou de como era dar aula e agora estar se aposentando, e de como ela ia sentir saudade não só de dar como dos alunos dela. Ela disse que ela amava dar aula, e quem ama ensinar de verdade sabe que ama aquele olhar do aluno, de quando ensina pra ele uma coisa que a gente gosta e ele consegue entender... ela disse que dar aula e ser professora é ensinar, se dedicar, ter paciência, ser companheiro... E sabe, eu fiquei pensando até que muito nisso ultimamente, porque você me disse que eu gosto de falar e vivo inquieta, e vejo uma professora desse jeito também; faladora e inquieta que gosta de falar do que ama pros alunos. Tipo um desafio onde a gente vai fazer aquela pessoa amar uma coisa só pela forma que a gente fala dela pra ele, ou do esforço que a gente faz só pra depois ver que o aluno aprendeu. Acho isso muito legal, sem contar da grande diferença que seria dar aula aqui em cima, porque... sabe... eu sempre quis fazer alguma diferença. Alguma coisa pro mundo, alguma coisa que não fosse estar inclusa nesses mil publicitários trabalhando em empresas por aí e alimentando o capitalismo desse governo, porque é o que mais tem sabe, eu queria fazer alguma diferença e sei bem que aqui as coisas são difíceis no sentido de escola e educação, não são? É muito triste e preocupante... Quantas professoras bem formadas existem no morro ou, reformulando, quantas professoras de publicidade devem existir aqui? E bem, só achei engraçado mesmo... como se eu pudesse ser uma... - paro de falar, minha voz de repente travando e a ficha caindo na minha cabeça... olho pras minhas próprias mãos e fico refletindo, surpresa e estranhamente ansiosa.
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Traficante | Volsher.
RomanceApós ser traída pelo namorado, Carolina Marzin decide aproveitar sua mais nova vida de solteira da melhor forma; mas não sem antes dar ao infiel o merecido troco. O que ela não esperava é que em um baile que frequentaria com suas amigas e em uma ten...