— Mamães! Mamães! Mamães! — Eu abro um olho e Flora solta um grunhido ao meu lado, eu a conhecia bem o suficiente para saber de que ela estava considerando fortemente enfiar a cara no travesseiro e ignorar a nossa filha de sete anos, coisa que ela jamais colocaria em prática.
— O que foi Jade? — Perguntei, a voz abafada pelo travesseiro e voltando a fechar os olhos. Willy desceu da cama indignado e saiu do quarto.
— Nada, só estou feliz. — Ela disse, continuando a pular na cama. Flora suspirou, passando a mão no rosto e se virando para a mesinha de cabeceira, checando o horário.
— Filha, são cinco horas da manhã. — Ela disse, voltando a se deitar, Jade voltou a pular na cama e a loira passou um braço pela minha cintura.
— E? — Jade perguntou colocando as mãozinhas na cintura e nós duas nos encaramos.
— Ela puxou isso de você. — Avisei e Flora suspirou mais uma vez.
— Realmente. — Murmurou. — Jade, onde está o seu irmão?
— O Rocky tá dormindo! — Ela disse animada e eu gostaria muito de saber de onde crianças tiram tanta energia.
— E por que a senhorita não está dormindo? — Perguntei e ela se enfiou entre nós duas, seus cabelos cacheados escondidos por uma touca de cetim que só cobria metade da sua cabeça.
— Porque eu não quero, mamãe.— Disse simplesmente e eu e Flora nos encaramos mais uma vez.
— Nós estamos criando uma mini Veruca Salt, você sabe disso, não sabe?
— Sim, senhora. — Flora disse abrindo um sorriso. — Jade, meu amor, a mama tem uma reunião bem importante com a primeira-ministra daqui duas horas, que tal você me deixar dormir só um pouquinho mais?
— Mas mama hoje é Dia dos Namorados! Você devia fazer algo legal pra mamãe.
— Eu tenho tudo sob o controle. — Flora garantiu e se cobriu completamente com o lençol, Jade se enfiou junto da loira enquanto dava risadinhas.
— Tem mesmo, Baird? — Perguntei e Flora tirou o lençol de cima do seu rosto.
— Sim, Quint, eu tenho tudo sob controle. — Ela disse erguendo o queixo. — Se esse país não pegou fogo desde que assumi o trono há onze anos, então significa que eu tenho alguma coisa sobre controle. Obviamente eu consigo lidar com uma surpresa de Dia dos Namorados.
— Mama você está vestindo o casaco da mamãe de novo. — Jade avisou completamente enganchada em Flora.
— Obrigada por avisar, Jade. — Falei e ela soltou outra risadinha, apertando a minha esposa mais forte.
— Já vi que não vou conseguir dormir. — Flora grunhiu. Jade a soltou e voltou a pular na cama.
— Mamãe, mamãe, o que você vai dar de presente pra mama? É outra pedra? Por que vocês só dão pedras uma para outra? Mama, mama, quando o tio Seb vai trazer a Mi? Mamãe, quando que o tio Gus vem visitar a gente? Por que o vovô Stephan nunca visita a gente? — Ela continuou perguntando sem parar, misturando francês e inglês enquanto tentava falar com cada uma de nós individualmente, já que Flora e Jade só conversavam em francês na maior parte do tempo.
— Okay, okay, acordei. — Flora disse ficando em pé depois da enxurrada de perguntas. — Eu preciso de café.
— Você nem gosta de café. — Falei me sentando, dei um beijo no topo da cabeça de Jade e ajeitei a sua touca de cetim.
— Mas é necessário. — Ela disse enquanto nos observava com um sorriso idiota. — E saiba que ela vai se tornar uma mini-mini Quint e não uma mini Veruca Salt.
— Por que mini-mini? — Perguntei indignada.
— O Gus já é o mini-Quint oficial, eu não posso tirar esse título dele só porque ele tem quinze anos. E o Rocky é o mini-mini-mini Quint. — Ela finalizou se referindo ao nosso filho de quatro anos que tinha decidido não ir na onda de sua irmã mais velha e vir nos acordar às cinco da manhã.
— Não gosto de lembrar que o Gus tem quinze anos, eu me sinto velha. — Falei e Flora hesitou.
— Meu Deus ele já tem quinze anos. — Ela disse e nós tivemos uma crise existencial por um minuto antes dela entrar no banheiro. — Inclusive eu tenho que comprar um presente pra ele.
— Já fazem onze anos que você dá um presente pra ele toda vez que nos vimos, você o deixou mal acostumado.
— É essa a vantagem de ser cunhado da rainha da Escócia, amor. — Flora disse.
— Mamãe, o que é milf? — Flora engasgou de dentro do banheiro e qualquer resquício de sono que estava presente no meu corpo simplesmente evaporou.
Se bem que eu acho que minha alma evaporou agora.
— Onde você viu isso, Jade? — Perguntei com os olhos meio arregalados, Flora ainda estava se recuperando do susto no banheiro.
— Eu vi uma menina do ensino médio dizendo que a mama era uma milf. — Ela explicou e Flora praticamente correu para fora do banheiro.
— Nós vamos mudar ela de escola. — Avisou e então se olhou no espelho do banheiro, pensativa. — Pensando bem, ela não tá errada.
— Flora eu sei muito bem o tamanho da sua autoestima. — Falei e minha mulher começou a rir alto.
— Mas o que é milf, mamãe?
— Por que você não pergunta pra sua mãe? O comentário foi pra ela. — Falei e Jade se virou para Flora.
— Mama, o que é milf? — Jade perguntou, os olhos idênticos aos de Flora arregalados. Minha esposa limpou a garganta e eu tentei não dar risada, falhando miseravelmente no processo.
— Hã... — Flora hesitou. — Acho que está meio cedo para essa perguntas, não é, Quint?
— Ué, Flora, sua filha quer saber. — Cruzei os braços e Flora colocou as mãos na cintura.
— Sim, porque eu fiz com o dedo né. — Ela disse e eu ergui as sobrancelhas.
— Tecnicamente...
— Shiu você. — Flora interrompeu e eu comecei a rir, deitando de volta na cama.
— Mamães vocês ainda não me responderam. — Jade disse e Flora se apressou a voltar pro banheiro.
— Traíra. — Murmurei e o som do chuveiro sendo ligado chegou aos meus ouvidos.
— Manhêêêê, me diz o que é milf, por favorzinho. — Jade praticamente implorou e eu suspirei, pensando seriamente em cavar um buraco e me jogar lá dentro.
— Milf é quando... — hesitei, tentando achar as palavras certas — sabe a sua mãe?
— Uhum!
— Ela é muito bonita, não é? — Jade concordou sem hesitar, os olhos idênticos aos de minha esposa brilhando. — E ela é sua mãe então...
— É quando uma mãe é muito bonita? — Ela coçou o queixo pensativa, então seu rosto se iluminou. — Mamãe! Você é uma milf também!
Eu não acredito que estou tendo essa conversa com uma criança de sete anos.
— Obrigada, meu amor, que tal você ir se arrumar pro café da manhã, hein? — Sugeri e ela saiu da cama, saltitando até a porta.
