Alex não apareceu no dia seguinte e nem no outro.
Ele não respondeu minhas mensagens - mas as visualizou - e tampouco atendeu minhas chamadas - mas as desligou.
Eu quis perguntar aos demais se eles sabiam de algo, mas não me atrevi. E, já que ninguém havia comentado coisa alguma, imaginei que era algo que ninguém soubesse mesmo - e talvez fosse porque ele não queria que soubessem, eu não quis violar sua vontade. Isso me deixava ainda mais nervoso, pensando na merda que devia estar acontecendo na cabeça desmiolada do Alex para ir embora sem avisar ninguém. Eu também não sabia para onde ele iria, embora também fosse óbvia a opção principal dele: Mallow Coast.
Se o imbecil desaparecesse sem deixar rastro, como é que alguém saberia?
A polícia iria supor que ele sumiu porque quis sumir, e mesmo se ele estivesse sequestrado, prestes a ser cortado em pedacinhos pelo lunático da praça e mesmo que fosse guardado em freezer por anos para ser comido aos poucos por um amador do Hannibal Lecter, ninguém iria se importar em investigar.
Eu sei que minha mente estava se divergindo para lugares macabros, mas para ser sincero, não havia lugar algum para onde minha mente não se divergisse nos últimos dois dias. Nenhum era agradável, nem mesmo um. As horas se arrastaram muito e, ao mesmo tempo, depois de passados sábado e domingo, eu sequer sabia o que havia feito neles além de encarar o celular e a janela.
Eu não sei o que era pior: estar sucumbido pela dor da preocupação, junto a pensamentos e pesadelos macabros, durante esse tempo todo, ou me deixar ser sucumbido pela dor do abandono quando percebesse que ele está bem.Os dois eram piores, e eu tive certeza disto na segunda-feira, quando me arrastei para a aula feito um morto-vivo, o choro entalado na garganta o tempo todo, o aperto no peito esmagando todos os órgãos do meu corpo. Eu não iria, eu não podia ir, eu precisava dormir pelo menos uma vez nestes dois dias além de um par de horas, mas eu precisava ver se ele realmente havia partido.
Eu precisava ver se ele não iria na aula, se ele não estava bem.
Mas ninguém sabia sobre sua partida.
Todos agiam como se estivesse tudo bem, em conversas mirabolantes sobre aulas e risadas divertidas, brigas bobas entre si e bocejos - porque a vida é muito difícil quando se tem que acordar cedo. Eu não consegui falar nada, as palavras entaladas na garganta, com medo de que, se eu abrisse a boca, um choro descomunal da minha criança interior iria sair para assombrar a todos.
— Você tá bem?
Assenti, sequer absorvendo de quem veio a pergunta.
Uma mão apertou meu ombro e eu virei para o lado, me deparando com as orbes límpidas e azuis do Mason. Era ele quem perguntava, os olhos em uma seriedade comum, com uma preocupação incomum, o cenho pálido franzido.
— O quê? — consegui deixar escapar, a voz rouca pelo tempo sem uso e pelo choro que se discorreu por dois dias inteiros.
— Você tá bem? — repetiu ele, devagar.
Se eu estou bem?
Pisquei, alargando um pouco os olhos, a pergunta que me pegou desprevenido acabando por me despertar da nuvem pesarosa.
Eu estava esperando algumas perguntas, na verdade, já que sabia que não ia conseguir disfarçar a minha cara de destruído. Eu cheguei a ver meu reflexo no espelho. Mas o que eu esperava era: "o que aconteceu?", "o que houve?", ou ainda, um "Caleb, você sabe por onde anda o Alex?". Então eu teria que negar, ou se eu não conseguisse, iria contá-los sobre a partida antecipada dele para sua jornada como "alguém livre", como queria ser.
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Made of Stone
RomanceCaleb recém havia completado os doze anos quando conheceu Alex. Três anos mais tarde, não podia acreditar que ainda caísse nos jogos travessos do garoto. Tinha o coração mole, repetia a si mesmo, por deixar-se cair nas ladainhas depressivas de Ale...