Deep end

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Como um balde de água, a informação deixa Chan em um súbito estado de choque. A voz de Changbin começa a ficar distante em certos pontos, e pode ouvi-lo chorando entre as frases.

Não sabe o que responder, não sabe o que dizer, nem como agir diante dos fatos repentinos que lhe foram revelados. Changbin gostava dele, não. Changbin estava apaixonado por ele. Ele esteve por tanto tempo, e ele estava cego demais para notar qualquer um dos sinais. Ele busca em sua cabeça e aparecem os sorrisos doces que o menor lhe deu, seus rubores habituais e aquele jeito encantador que ele tem de acomodar o cabelo atrás da orelha. Chan sempre acreditou que Changbin era um garoto fofo, mas também o via como o amor de um melhor amigo.

Felix falava com entusiasmo sobre os encontros, era incomum vê-lo atraído por alguém quando ele não era muito aberto sobre seus sentimentos amorosos, por um tempo ele pensou que simplesmente ele não sentia atração romantica por ninguém. Do nada ele vem falando com ele sobre um moreno bonito do café perto da loja de tatuagem e ele parece bobo por causa de como ele descreve aquele cara. Chan não imaginava que ele acabaria sendo a causa do rompimento de seu melhor amigo.

Ele então se pergunta, Felix estava zangado com ele e estava escondendo? Não há sinais e ele não se lembra de nenhum comportamento mal-humorado por parte de seu amigo, até o momento em que tentou investigar mais a fundo. «Eu sei o nome dele» se repete em sua cabeça como um eco, ele percebe que aquele nome não era outro senão o seu.

Isso não estava certo, realmente não estava certo. Por mais que ele mantivesse sentimentos mistos que tinha pelo mais novo trancado a sete chaves, isso não podia continuar. E se Felix descobrisse? Ele poderia odiá-lo pelo resto da vida, não apenas por ser o principal motivo de um coração partido, mas também por encher a ferida com mais sal.

Ele não culpou Changbin, ninguém decide por quem se apaixonar. Ele pôde confirmar porque embora em seu peito haja 70% de amor pelo moreno, ele não permite que os outros 30% assumam sua racionalidade. Ele tinha que parar por aí, tinha pecado o suficiente para não ter a consciência tranquila, com certeza seu peito doeria ao se lembrar das noites entre beijos e lábios unidos em uma dança cheia de carinho e desejo. Ainda assim, ele não pode soltar a mão de Changbin, apenas olha para um ponto perdido.

"O que exatamente você disse ao Felix?" ele perguntou discretamente, quase em um sussurro, e Changbin ergueu seu olhar cristalizado em sua direção.

"Eu confessei a verdade para ele" ele respondeu, fungando. Ele respirou fundo, enxugando as bochechas com a manga do moletom. "Eu disse a ele que não poderia estar com alguém que não pudesse amar de verdade", ele respondeu.

Aquelas palavras evocavam uma lembrança, talvez uma tarde de cinema, onde Felix saía para comprar algo para comer e Changbin queria aproveitar a oportunidade para assistir a um filme romântico que o Lee certamente não gostaria. Chan como o bom cara que ele era, concedeu o capricho. Como nessa época, Changbin chorou por causa do relacionamento disfuncional do casal na tela, e Chan acabou consolando-o com palavras semelhantes, buscando fazê-lo se sentir melhor com a separação dos protagonistas. O loiro nunca imaginou que um conselho baseado em um filme acabaria sendo tão pessoal para o mais novo.

"Eu não posso sair com você, é uma questão de princípios" Chan disse, direcionado mais para si mesmo do que para o outro.

Seria incômodo, talvez estranho. Além de um código de amizade bobo entre amigos de infância, namorar o ex do seu melhor amigo pode levar a situações de conflito para ambas as partes. Queria o Felix. Queria o Changbin. Ele os amava de maneiras diferentes e esse par de sentimentos estava lhe dando uma maldita dor de cabeça.

"Em sua cama você parecia tê-los esquecido" ele sussurrou, atraindo a atenção do maior que o olhava sem nenhuma emoção.

Por dentro, Chan começou a viver seu próprio tormento.

"Changbin, eu... eu não posso" ele se forçou a dizer, ele estava sendo atacado pelo mesmo sentimento de tristeza e até impotência que o menor havia demonstrado por minutos.

Changbin sorriu gentilmente para ele e levou sua mão para acariciar a bochecha do maior, desfazendo o aperto que o contrário não ousara soltar.

"É demais para você, eu entendo" ele tentou que sua voz não tremesse, ele tentou manter a calma, porque agora o mais magoado poderia ser Chan, devido a más decisões que ele tomou. "Desculpe por colocar esse peso em você, não me arrependo de me apaixonar por você'" Changbin se aproximou e juntou suas testas, suas respirações se misturando. "Eu gostaria de poder ter sido corajoso, talvez se eu tivesse entrado naquela loja antes, nossa história seria diferente"

"Changbin, p-preciso-"

"Eu sei, você precisa de tempo. Resolva o que você sente aqui" sua mão livre repousava sobre o peito do homem mais velho, quase sentindo os gritos de um coração indeciso. "E o que você acha que está bem aqui" ele se afastou um pouco, dando um beijo na testa dele.

O toque era tão doce e doloroso que Chan teve que fechar os olhos para manter as memórias vivas.

"Dê-me alguns dias, por favor" Chan pediu depois de um longo silêncio, embora estivesse errado, ele não podia apagar tudo o que eles fizeram.

Os sorrisos, os olhares, os beijos. Desde antes de começar aquele caso, o mais novo tinha um papel muito importante em sua vida e ele não podia deixá-lo ir, assim como Changbin não podia deixá-lo ir. O menor não estava muito animado, ilusões não eram boas em situações como essa, então ele assentiu e deixou um beijo na bochecha do mais velho.

"Você conhece meu ex, isso torna as coisas um pouco complicadas" ele penteou os fios do maior entre os dedos, levantando-se do lado dele. "Mas mesmo que tudo seja difícil, eu gosto muito de você, Channie. Tudo vai ficar bem" ele sorriu, suas bochechas ainda estavam molhadas, e ele soou convincente o suficiente para Chan acreditar nele.

"Obrigado" ele apenas murmurou, observando o contrário se afastar em direção a porta.

"Obrigado a você, por me permitir saborear um pouco do amor que eu sempre quis"

A porta se fechou atrás dele e só ali foi capaz de soltar o que estava dentro. Ele passou o resto do dia chorando em voz baixa, com sua cachorrinha no colo e sem responder as mensagens que Felix deixava em seu telefone.


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My ex's best friend - ChanchangOnde histórias criam vida. Descubra agora