Buscamos por pistas durante duas semanas, e não encontramos exatamente nada, nem uma pergunta foi respondida, e a principal delas que é aonde esses homens ficam sendo torturados até os corpos serem expostos, rondamos a cidade toda dia e noite todos os dias, desde então nada de estranho vem acontecendo, ficamos de olho nos casais que chegam aqui a passeio, até agora nada de estranho aconteceu.
Na noite do dia 22 de junho, que é hoje, eu resolvi ouvir a terceira ligação que recebemos, nela o individuo deixa mais pistas de quem é. No caso a primeira pista, que na verdade não nos levou a nada, porém ele disse mais de que nas outras ligações "vejo que não perceberam, a infidelidade deles serão suas ruinas, ah esse pecado da traição, como pode né, deixar sua mulher e ir lá deitar com outro como se não existisse sentimentos, sentimentos são como uma canção, eles vão pagar por tudo isso, um boa morte a todos, cordialmente, a outra face." Fiquei boquiaberto com isso, e levei direto para o investigador, ele pegou o áudio da ligação e colocou em nosso quadro de pistas, que era um grande quadro sem nada, todos nós estávamos esperando a próxima vítima o próximo local, porém nunca escutamos com atenção uma "boa morte" a todos, ele deixou claro aonde estaria a próxima vítima, como pode não termos visto isso, estava ali aonde ele o deixaria, e dessa vez, foi totalmente perturbador, para que entendam melhor, irei explicar.
Temos aqui um museu aonde antes era a igreja, N. Sra. Da Boa Morte, a mesma que sofreu um incêndio em 1921 aonde queimou varias peças e boa parte do altar foram destruídas, hoje abriga diversas peças históricas da cidade e de Goiás, é um dos pontos turísticos mais visitados da cidade, então imagina o trauma que os turistas tiveram ao entrar lá e se deparar com um banquete exposto no altar velho.
Recebemos uma ligação, a porta da igreja que da acesso ao antigo salão de missa não queria abrir, como só tinha eu e o investigador na delegacia fomos juntos. Quando chegamos os guias falaram que a porta não era trancada a anos e por algum motivo não estava abrindo, eu e o investigador já entreolhamos um para o outro, sabíamos o que poderia estar barrando a porta, é um local histórico com certeza não poderíamos simplesmente meter o pé na porta e coloca-la a baixo, mas foda-se, assim fizemos, por ser velha a porta veio ao chão, e eu nunca tinha sentido uma carniça tão forte em toda minha vida, lá dentro fedia a podre, mas um podre insuportável.
- Quanto tempo não entram aqui?
- Eu sou a única guia do local, já tem semanas que os turistas não vêm aqui, nem sempre a igreja está nos pontos de visitação. Seja lá o que tem aqui dentro, alguém sabia que aqui não viria ninguém.
- Será que morreu algum bicho aqui? Tadinha, a guia mal sabia que esse cheiro é de um cadáver humano.
- Um bicho não, uma pessoa. Indagou o investigador, o mais incrível aconteceu quando ligamos as luzes, bem diante de nós, no altar, estava uma mesa, montada, um banquete até com taças de ouro, provavelmente faz parte das relíquias que aqui são guardadas, quanto mais nos aproximávamos mais fedido ficava o local, todos nós tampamos os narizes com a camisa, quando chegamos à mesa, lá estava uma espécie de sopa, com uma colher ao lado, no centro da mesa, tinha uma espécie de cabilock que tampava um prato, provavelmente à entrada principal, ao lado um bilhete, escrito com letras recortadas de jornal velho, nele dizia "no Rio de Janeiro, aconteceu um jantar muito famoso com carne de gaivota, espero que gostem" de início não entendi bem, olhamos nas taças o liquido nelas servidos parecia suco, de um vermelho rubi, estava ate grosso, colocamos as luvas e fomos ver o que estava dentro da sopa, com certeza pelo tempo que tudo isso está aqui o liquido já nem é mais liquido virou uma gosma, e quando mechemos vimos os dedos subindo e juntamente o que parecia ser uma língua. O investigador saiu vomitando, a guia que entrou com nós parecia uma chafariz vomitando para todo lado, eu também não aguentei, foi demais pra mim, acabei vomitando também, o cheiro que subiu era insuportável, mas claro eu tinha que abrir o prato principal e quando eu fiz isso lá estava a cabeça, servida em um prato sem os olhos, a características em comum de todos os cadáveres, notei que tinha uma corda presa na cabilock, e com certeza acionou algo quando a puxei, foi aqui que percebi, uma granada, única coisa que tive tempo de fazer foi correr e gritar para o investigador e a guia sair, mal saímos da porta e tudo foi para os ares, se o fogo da primeira vez não destruiu este lugar, agora não tem mais salvação.
Saímos com algumas queimaduras e alguns arranhões pelo tempo que levamos para sair tivemos sorte de não termos morrido, a igreja da Boa Morte foi quase toda para o chão, anos de história destruídos pelo fogo, pela explosão, provavelmente fora usada uma granada da exposição do museu das Bandeiras a antiga cadeia, confirmamos que as duas granadas que haviam lá sumiram, e as câmeras foram desligadas de alguma maneira. Dessa vez o assassino foi bem mais agressivo, destruiu um patrimônio histórico, fez uma sopa de um ser humano, deixou uma mensagem estranha. E o mais estranho é que não sabemos quem era a vítima, dessa vez não teve esposa, não sabemos o nome, e com certeza qualquer dejeto humano que tinha sobrado foi destruído pela explosão, mais uma vez ficamos sem saída, sem nada, apenas um corpo e uma perda.
- Achei que não viria hoje.
- Eu quase não vim, me machuquei no serviço hoje.
- O que ouve com você?
- Não quero falar sobre isso, você é minha única coisa que não envolve meu serviço. E realmente ele era, o bom é que ele nunca questionava, se eu não quisesse falar tudo bem ele não insistia e isso é ótimo, retirei minha roupa, deitei ao lado dele, me aninhei em seus braços, ali era o lugar mais seguro do mundo, sem assassinos, sem coisas explodindo ou jantar de humano, era meu lugar... Não faz isso, por favor não me mate, o que eu fiz? Eu juro eu não tinha a intenção de trair ela, eu não vou fazer de novo, me solte por favor, não, não faz isso, isso dói demais, não me queima, não, não, não, por favor para, está doendo, para...
- Edgar acorda, Edgar. Acordei todo suado com ele me sacodindo, me envolvi tanto no serviço que tive uma pesadelo com alguém sendo torturado, queimado com fero de marcar animais, quando liguei todos os pontos do meu pesadelo, não sei porque levei isso como uma premonição, na antiga cadeia tem na exposição os ferros que colocavam na brasa porá marcar e castigar os escravos, eu tinha que ir lá ver.
- Eu estou bem, só tenho que ir conferir uma coisa, é muito importante.
- Mas nem aproveitamos a noite.
- Meu bem, amanhã nos encontramos aqui de novo, não dá para explicar, até mais. Dei um beijo nele e fui correndo para delegacia lá tem a chave de todos os pontos turísticos da cidade.
Chegando na antiga cadeia eu abri o local e percebi que as câmeras novamente tinham sido desligadas, fui andando bem de vagar até chegar ao antigo porão, e lá bem no meio estava, em uma antiga maquina de torturar, um homem todo queimado, a única diferença dele para os outros, é que esse ainda estava vivo.

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Cordialmente, a outra face
Mistério / SuspenseUm patrimônio histórico cultural, pode conter quantos segredos? Ou melhor dizendo, quantos corpos? Uma cidade histórica, um jovem, vários assassinatos. O que todos temiam aconteceu, a cidade se revoltou contra seus habitantes, ou melhor dizendo, co...