Lavínia.
Já havia se passado uma semana do ocorrido com George. Já tinhamos repassado tudo para o pai de Nanami, e eles conseguiram acessos privados de George para aprimorar a pesquisa. Ele nos seguia, já fomos avisados que aquele homem está nos caçando. Bem, eu matei uma penca de seus homens.
Nessa semana, ficamos a maior parte do tempo nesse apartamento, compramos até um video game para passar o tempo, nunca tinha tido um, ou jogado algo, foi divertido pra caralho.
Dou a última golada do meu café, e depois sigo para a varanda pra abrir as cortinas que davam a visão de Páris. Senti o sol quente bater no meu rosto, nos meus pés. 8:00 am.
--- Você ama essa varanda -- a voz rouca atrás de mim me fez abrir os olhos, mas não me virei.
--- A vista daqui é linda -- olhei para a paisagem, era incrível.
-- Porque nunca veio pra Paris? Você tem condições, já é adulta o suficiente -- eu não me sentia adulta, eu ainda era uma menina pedindo a permissão dos pais para qualquer coisa.
-- Meu pai é um merda -- respondi, e naquele momento eu senti vontade de fumar. Ultimamente seu corpo exigia menos o cigarro, mas lembrar no que sua vida era, te fazia implorar por um.
-- Você não se dá bem com ele? -- sua pergunta me fez gargalhar.
-- Eu só chamo ele de pai porque isso é menos pior do que dizer seu nome --- fiz uma careta. Aquele velho nunca seria seu pai, nunca o consideraria.
-- E sua mãe? -- ele perguntou, e isso te fez arrepiar. Era dai que vinha todo o ódio de seu pai, sua mãe havia morrido por conta do seu parto, e você era a culpada. Odiava lembrar dos momentos que seu pai a culpou por isso, como também odiava pensar nela, não queria imaginar ela igual ao seu pai.
-- Ela morreu quando eu nasci -- respondi em um suspiro fundo.
Apertei a xícara entre meus dedos e caminhei devolta a cozinha, não havia mais papo ali, não pelo menos sobre minha vida.
Flashback on
13/12/2005
-- Pai você está me machucando -- meus olhos lacrimejaram. Meu pai estava me arrastando para algum tipo de lugar escuro e mal cheiroso.
-- Você não queria um presente de aniversário? Vou garantir que esse seja o melhor benefício de sua vida -- sua voz era ríspida, e eu sentia vontades de soluçar de medo.
-- Pai, eu não quero mais seu presente -- meu queixo tremeu. Seu aperto no meu pulso me puxou para uma sala muito mal cheirosa, tinha corpos mortos jogados pelo chão. Tapei meus olhos, tentando acordar desse pesadelo. Mas suas mãos as arrancaram de meus olhos.
-- Olhe para isso Lavínia -- sua voz suja me obrigou a abrir os olhos, lágrimas constantes caiam.
-- Sr. Milik ela é só uma criança -- a voz de Lupin ecoou atrás de nós.
-- Cala essa sua boca Lupin -- meu pai respondeu de uma forma grossa. Olhei para o homem pendurado em uma corda a nossa frente, sentia vontades de vomitar. -- Você está sendo criada para matar Lavínia, você vai ser a minha vampirinha. -- ameacei soluçar -- Ta vendo aquele cara ali, ele é um merda, matou vários dos meus homens só por causa de drogas. E sabe o que você vai fazer com ele hoje? Você vai mata-lo.
Neguei rapidamente com a cabeça enquanto tentava me afastar daquilo, daquele lugar. Meu corpo magro não tinha forças suficiente para me soltar de seu agarre.
--- Não! Eu não quero pai, eu não quero matar ninguém por favor -- comecei a chorar. Mas ele me empurrou para ficar na frente do homem, pegou uma arma qualquer na minha frente, ajustando minha mão nela.
--- Só mirar no meio da testa dele e apertar o gatilho pequena Lavínia -- neguei enquanto ele levava a arma até a cabeça do homem -- aperte.
-- NÃO -- gritei tentando me livrar.
-- APERTA LAVÍNIA -- ele gritou, tentei me soltar novamente. -- se não fizer isso, essa arma vai parar na sua testa, e não na dele.
-- EU NÃO ME IMPORTO -- gritei, mas então seu dedo cobriu o meu, e o gatilho foi disparado, sangue jorrou no meu rosto, olhei para o homem logo em seguida e aquilo me horrorizou. Apaguei.
Flashback off
Um arrepio percorreu meu pescoço enquanto eu fazia o almoço, o vento que vinha da varanda estava forte o suficiente para fazer o ambiente ficar gelado. Tranquei as janelas e voltei para o fogão. Nanami trabalhava no sofá da sala em seu notebook, tão concentrado... Nem parecia que era insuportável.
Essa semana, por mais do medo e do perigo que passamos, ela foi boa. Aquele papo de amizade com Nanami fez com que ele se abrisse mais. Aquilo me deixou até um pouco satisfeita.
-- Ta me encarando porque? Estou bonito pra você? -- semicerrei os olhos para ele, um sorriso divertido se apostou de seus lábios.
--- Você ta ridículo com esse óculos quadrados, parece um velho lendo jornal -- joguei enquanto ele arqueava as sombrancelhas e olhava para mim com desafio.
--- Sim, aposto que é por isso que tanto me olha -- estúpido.
-- Olha aqui, não é porque você tem conhecimento de que é bonito, que isso te leva a um patamar de me vencer -- isso o fez rir.
-- Então você está concordando de que sou bonito? -- Nanami abaixou os óculos olhando pelo espaço sobrado acima.
--- Você é muito bonito, principalmente quando está de boca fechada -- me virei para continuar a cozinhar.
-- Sim, sim claro -- sorri para aquilo -- Sabe Lavínia, você também é muito bonita, principalmente quando está virada de costas... -- lancei uma das minhas colheres nele antes de terminar sua fala. Passou de raspão. -- Você é maluca!
-- Você não aprende nunca -- sorri zombeteira -- da próxima vez eu vou fazer questão de acertar bem no meio da sua fuça. -- Nanami gargalhou.
...
Estava sentada no sofá, era fim de tarde já. Meus pés descasavam na mesinha de centro enquanto eu assistia Dory na tv. Comecei a ver desenhos na vida adulta, passou a ser meu tipo de filme favorito. Meu celular começou a vibrar do meu lado, olhei para tela e vi a foto de Lupin sorrindo.
-- Alô? -- atendi logo em seguida, ouvi uma risadinha baixa.
-- Oi Lavínia -- sorri, Lupin sempre foi meu amigo. -- Está tudo bem? Como anda por ai.
-- Está tudo ótimo por aqui, trabalhamos bastante nesses últimos dias, Nanami mesmo.. vive com a cara no computador -- respondi respirando fundo enquanto descansava no sofá.
--- Entendo.. fiquei sabendo da missão de vocês no leilão, você fez o nivel de adrenalina dele passar de 1000 -- eu gargalhei daquilo.
-- Você tinha que ver a cara dele, foi impagável -- sorri me lembrando -- E então, me ligou para tirar sarro daquele quadrúpede loiro?.
-- Liguei para ver se estava tudo em ordem, e também tenho algo para vocês fazerem -- óbvio que havia algo.
-- Mande logo -- suspirei.
-- Descobri que George está envolvido em um jogo sujo de drogas com gangues russas -- franzi a testa -- a cabeça dele está valendo 10 milhões de euros em território Russo.
-- E o que temos que fazer? -- perguntei -- entregar a cabeça de George para a Rússia?.
--- Não é George que está perseguindo os Kento's, não sei se já percebeu isso -- Lupin disse em um tom de ironia -- Seja quem for, essa pessoa não deu as caras ainda. Mas ela tem algo haver com George, se vocês pegaram ele, talvez...
-- Ele saia das sombras -- completei, e ouvi a concordância de Lupin no outro lado da tela. -- Mas isso é muito perigoso, não é como se pegassemos a cabeça de um cara facilmente e entregassemos para a Rússia assim. -- questionei.
-- Sim, e isso vai levar um tempo, é demorado, tem que ter um plano -- mordi meu lábio inferior -- Eu sugeri para Sr. Milik mandar outras pessoas conseguirem a cabeça dele mas ele disse que confiava que você iria fazer isso com facilidade. -- olha só, papai querendo confiança agora?
-- Que hilário -- respondi, e o silêncio tomou conta da ligação.
-- Você sabe o que fazer, deixo isso com você -- fechei os olhos, quero fumar.
--- Tudo bem, vou fazer isso -- suspirei cansada -- posso ficar com a recompensa dos russos? --- ouvi a gargalhada de Lupin e sorri para isso.
-- Eu não recebi essa informação, mas bem provável que sim -- bem, pelo menos eu faria isso por 10 milhões.
-- Sabe, agora eu tenho um marido para sustentar --- disse em um tom de inocência.
-- Você não muda, bem.. vou indo, tenho que convocar meu time -- me levantei do sofá. -- Boa sorte.
-- Obrigada -- respondi antes de desligar.
Caminhei pela sala atrás da minha gaveta privada, abri e peguei uma cartela de cigarros dali junto com meu isqueiro. Andei até a varanda e a abri me sentando em uma cadeira pequena que ficava ali do lado de fora.
Que merda de vida essa pela qual eu lutava, as vezes em cada missão que eu ia eu tinha esperanças de voltar sem vida, eu queria perder na maioria delas mas.. isso nunca aconteceu, e temo em não deixar acontecer. Meu ego é muito alto para perder hoje em dia. No passado eu era perdedora, hoje não sou mais.
...
Nanami.
Fechei meu notebook assim que o cansaço de estar a frente dele se apostou do meu corpo. Levantei da cama me alongando. Já eram 19:00 da noite, estava escurecendo.
Caminhei pelo corredor, entrei para a cozinha e não avistei nenhum sinal de Lavínia naquele ambiente, olhei para a varanda, estava fechada, mas era nítido que estava do lado de fora.
Abri uma brecha da porta da varanda, ela estava fumando, várias bitucas jogadas no chão. Ela havia fumado uma cartela inteira?.
-- Você fumou isso tudo? -- perguntei um pouco assustado com a possibilidade.
-- Algum problema? -- aquele cheiro horrível subiu para as minhas narinas me fazendo esfregar o nariz.
-- Isso faz muito mal -- reclamei, mas ela nem parecia se importar se aquilo a afetava ou não.
-- Eu concerteza já estaria morta se isso fizesse mal mesmo -- ela jogou mais uma bituca fora. Tentou pegar outro mas não permiti. -- Nanami -- necessidade, era nítido isso nela.
-- Vamos preparar o jantar, quero que você participe hoje -- sai andando com o resto na cartela na mão.
Eu não queria que isso acabasse com ela.
"Se alguém machucar você, eu quero lutar, mas minhas mãos foram quebradas muitas vezes.
Então eu usarei minha vez e serei rude para caralho porque palavras sempre vencem."Another love - Tom Odell
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Essa semana eu atualizei todos os dias, mas estou de férias. A partir de segunda voltarei a trabalhar, provavelmente as atualizações não vão ser tão frequentes como estão sendo..🥲
Sorry.